Infância remete a brincadeira, alegria, mas há crianças que são extremamente agressivas. Xingam, batem, gritam, estragam objetos, têm reações violentas quando são contrariadas ou impedidas de fazer algo. Embora muitos pais lidem com esse tipo de comportamento acreditando ser normal em certas fases, é preciso ficar alerta e, principalmente, tomar providências.
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Autora do livro Educando e Convivendo com Crianças e Adolescentes, a psicóloga caxiense Janet Marize Vivan diz que, infelizmente, casos de agressividade infantil são mais comuns do que se imagina. Estudos revelam que sete em cada 10 famílias são afetadas pelo problema.
Na última quarta-feira, Janet conversou com o Pioneiro. Na entrevista a seguir, realizada em seu consultório, Janet dá dicas para educar e reagir diante de crises de raiva dos pequenos.
Pioneiro: Quais são as causas da agressividade infantil?
Janet: Existem dois principais tipos de crianças que tendem a ser agressivas. Em primeiro, aquelas que foram criadas sem limites. Podem fazer tudo o que desejam e ficam bravas quando recebem um não como resposta. Em segundo, crianças vítimas de maus-tratos físicos (como surras com mãos, cintos), maus-tratos psicológicos (insultos, ameaças, rejeição), negligência (deixar fora da escola, não proporcionar atendimento médico, deixar sem supervisão), além dos maus-tratos sexuais. Crianças sem limites tendem a se tornar adolescentes e adultos arrogantes, intolerantes, impacientes e inseguros.
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Pioneiro: Se a falta de limites é uma das causas da agressividade, qual é a melhor maneira para impô-los às crianças?
Janet: Limite é o estabelecimento, pelos pais, do que é permitido e proibido. É quando a palavra sim representa sim e não representa não. Quando o não se transforma em sim depois de uma choradeira da criança, evidentemente não se está impondo limites. O diálogo é fundamental para dar uma boa educação. Durante as conversas, pais e filhos devem ouvir e falar. É importante que os pais conheçam a realidade do filho para poder interagir. Os filhos devem respeitar os pais. Isso significa ter um sentimento alicerçado na confiança. Ter respeito é diferente de ter medo.
Pioneiro: Existem situações que o diálogo não resolve. O que fazer, então?
Janet: Recomendo três métodos que podem ser explicados através de um mesmo exemplo: a hora do jantar. Convencimento: quando o filho é chamado para jantar e não vai por conta própria, a primeira atitude é tentar convencê-lo da importância do jantar. Condução: se ele continua insistindo em não ir, ao invés de ficar gritando e xingando-o, deve-se pegá-lo pela mão e conduzi-lo calmamente para a mesa. Ficar repetindo o mesmo discurso não surte efeito, é importante agir, para mostrar que é a autoridade é o pai ou a mãe. Contenção: caso a criança comece a gritar, se jogar no chão, tentar bater, o ideal é abraçá-la, fazendo com que se sinta segura, ou seja, conter sua ira. O abraço passa firmeza e autoridade. Esta atitude irá acalmá-la, a raiva irá passar e então será possível conversar.
Pioneiro: Quais as principais situações que levam as crianças a terem crises de raiva?
Janet: A agressividade é a maneira que a criança encontra para expressar que algo não está bom. Nenhuma criança gosta de receber não como resposta, pois prefere a liberdade a limites. Quando seus desejos não são realizados podem ficar bravas, tentam impor sua vontade a qualquer custo. Nesse momento, os pais devem mostrar quem é a autoridade.
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Pioneiro: Há alguma idade específica em que as crianças tendem a ter atitudes mais violentas?
Janet: Entre três e quatro anos, as crianças se tornam mais independentes e começam a se achar donas de si. Daí têm atitudes mais rebeldes, tentam impor suas vontades através de birras, gritos, rebeldias. O limite deve ser dado desde cedo. Até mesmo os bebês já entendem o que é certo e que é errado.
Pioneiro: A agressividade está associada ao caráter ou à índole da criança?
Janet: Nascemos com um temperamento próprio, alguns são mais agitados, outros mais calmos. Mas o que determina o caráter de uma criança é o seu ambiente emocional, ou seja, os sentimentos que ela desenvolve durante a infância.
Pioneiro: Quem é naturalmente mais agressivo? O menino ou a menina?
Janet: Por natureza, o menino tem um componente biológico que o estimula a atitudes mais agressivas. Mas o problema pode se manifestar em ambos os sexos.
Pioneiro: É recomendado educar com palmada?
Janet: Não. A palmada é sentida como uma violência psicológica. Pacientes vítimas da maus-tratos me relatam que a dor no corpo passa logo, o que não passa é a dor que dá na alma. Crianças não esperam que os pais as tratem com violência. Este sentimento que carregam trazem resultados negativos na adolescência, como a rebeldia.
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Pioneiro: Então, qual a melhor forma de punir?
Janet: As melhores ações reparadoras são aquelas onde a criança tem que pagar pelo que fez. Por exemplo: se sujou, deve limpar; se quebrou, deve doar algum objeto que gosta; se derrubou, deve juntar.
Pioneiro: Quando é a hora de procurar ajuda de um especialista?
Janet: Quando a agressividade vira rotina é hora de procurar ajuda. Às vezes, toda a família precisa de tratamento. As crianças não desenvolvem problemas de comportamento sozinhas.
Pioneiro: Existe regra para educar bem?
Janet: Carinho, afeto e atenção são os facilitadores da construção de uma personalidade sadia e de um bom caráter. Porém, o primeiro fundamento para uma educação de resultados positivos é estabelecer limites. Os filhos são nosso espelhos, refletem nosso melhor e nosso pior.