Até o fim do mês, Blumenau vai ganhar mais 1,5 quilômetro de corredor de ônibus. Essa ao menos é a expectativa da prefeitura em relação à faixa exclusiva para o transporte coletivo na Rua Itajaí, no bairro Vorstadt. Parece um trecho pequeno, mas a repercussão com o início dos trabalhos é grande. A cada anúncio de ampliação do sistema, um debate é retomado sobre a necessidade e a eficácia da medida.

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Os questionamentos feitos por uma parcela da comunidade são os mesmos de quando as pistas destinadas aos ônibus chegaram às ruas 2 de Setembro, São Paulo e Martin Luther: vagas de estacionamento suprimidas, impacto no comércio e a melhoria aos passageiros.

A administração municipal defende a implantação com um documento: está no Plano Municipal de Mobilidade a criação de medidas que priorizem o transporte público. A ideia é atrair mais pessoas para dentro dos ônibus e incentivar o uso racional do carro antes que a malha viária não comporte mais a demanda.

Números dão uma dimensão do desafio: são 262 mil veículos emplacados em Blumenau, para uma população estimada em 352 mil, de acordo com o IBGE. O transporte coletivo, por sua vez, teve redução no número de usuários em 2018: os ônibus transportaram em média 69,8 mil passageiros por dia, número 2,12% menor do que o de 2017.

É com este cenário que a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano projeta alcançar 36,5 quilômetros de corredores de ônibus até 2035. Atualmente, a cidade tem 16 km, número superior ao previsto no plano, que estabelece a meta de 15,5 km para o fim do próximo ano. Com mais corredores, é possível reduzir o tempo dos trajetos, o que pode atrair mais usuários.

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Na Rua 2 de Setembro o tempo de deslocamento da linha, que atende em média 5,8 mil passageiros por dia, caiu 15 minutos. Na Rua Itajaí, estima-se que o atraso dos ônibus que transportam 2,5 mil pessoas diariamente nos horários de pico chegue a 20 minutos.

Segundo o diretor de Planejamento Viário de Blumenau, Julian Plautz, nem mesmo com todas as obras viárias previstas, como novas pontes e corredores, será possível comportar uma projeção alarmante:

– Dados do Plano de Mobilidade Urbana de Blumenau apontam 11% de trechos congestionados na hora de pico. Para 2035, a previsão é ultrapassar os 27% de trechos congestionados se as diretrizes não forem aplicadas. Mesmo com todas as obras previstas no plano, tende-se a 18% de trechos congestionados. É necessário que haja uma mudança de comportamento, trocar o carro por outro meio de transporte como o ônibus ou a bicicleta. Somente assim será possível manter um equilíbrio entre os modais – defende.

Nesse contexto, o Santa ouviu quem é impactado diretamente pelas mudanças feitas no trânsito: motoristas, passageiros do transporte coletivo e comerciantes. De um lado, os impactos na Rua 2 de Setembro, que tem corredor desde 2012. Do outro, quem passa ou tem um negócio às margens da Rua Itajaí.

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Rua 2 de Setembro – Agilidade no trânsito e impacto no comércio

Quase em frente ao prédio da antiga empresa Nossa Senhora da Glória, no bairro Itoupava Norte, trabalha Luiz Carlos Martins. Motorista que já atuou por seis anos no transporte coletivo de Blumenau, ele é de uma época em que fazer a linha 11, via 2 de Setembro, demorava, sobretudo quando chegava próximo à EEB João Widemann. Dali até o Terminal Aterro levava ao menos 20 minutos, recorda. Viu o trânsito fluir quando o corredor de ônibus foi instalado, e é a favor.

– Não atrapalha os carros, dá fluidez para o tráfego e Blumenau não tem mais como manter vagas de estacionamento – diz.

Essas vagas, porém, eram importantes para os comerciantes, que relatam o impacto após a remoção das 23 áreas destinadas aos carros. Johnson Plautz, proprietário de uma loja na via há 24 anos, diz que a queda nas vendas chegou a 50%.

Os comerciantes da região precisaram buscar alternativas para tentar garantir a clientela. Convênios com estacionamentos privados foram uma alternativa. Outros conseguiram articular com a prefeitura a abertura de 11 vagas. Para isso, os proprietários de um condomínio arcaram com um custo de R$ 15 mil. A Secretaria de Desenvolvimento Urbano explica que a mudança foi permitida porque ainda não há planos de ampliar as pistas no local.

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Quem usa ônibus, só vê aspectos positivos. Morador da região Norte de Blumenau e usuário das linhas 10, 11 e 17, o porteiro Cláudio de Lima recorda do tempo em que o ônibus ficava trancado no congestionamento, desde a ponte da Rua Santa Catarina até o trevo da Parada 1.

– Antes levava muito tempo. Hoje, faz em 15 minutos daqui até lá (Fonte-Aterro) – conta.

Rua Itajaí – Da preocupação ao alívio para alguns comerciantes

Os benefícios da implantação do corredor por enquanto não são consenso entre os motoristas. Desde o anúncio da prefeitura, a repercussão entre os condutores mostrou divergência entre o que é prioridade para um e para outro. Há quem aponte que a medida não irá resolver os congestionamentos na região e considere que apenas obras de grande vulto podem fazer, de fato, a diferença. Existem também aqueles que temem o agravamento.

– Além de não solucionar, vai dificultar mais ainda. Não tem espaço (para o corredor de ônibus), será mais estreito e isso facilita acidentes. Também nunca vi ônibus lotado ali, até porque não tem tanto fluxo de ônibus assim – argumenta o motorista Vlademir Carlos de Souza, que sugere que a nova faixa tenha uso compartilhado entre carros e ônibus.

Quem está dentro do ônibus pensa diferente. Matheus Martins, 20 anos, sai do serviço às 18h e precisa enfrentar o trânsito pesado da Rua Itajaí no horário de pico. O representante comercial tem na memória dias em que levou mais de duas horas para sair da frente do Clube de Caça e Tiro Blumenau e chegar ao Terminal Proeb, perto de onde mora.

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Quando o corredor entrar em funcionamento, praticamente todo o trajeto do jovem terá pista exclusiva de ônibus. É nisso que ele aposta para seguir usando o transporte coletivo. A expectativa é descrita por ele em uma palavra “alívio”.

O comércio às margens do trecho com corredor já teve receio quanto à medida, mas agora se mostra mais confiante de que o impacto será diferente do que viveram os empresários da Rua 2 de Setembro. Há 13 anos, Elisangela Palhano tem uma cafeteria na Rua Itajaí e conta que por três dias o estacionamento na via ficou proibido, já em virtude obras de implantação do corredor. Nesse período, o retorno foi ainda mais positivo por parte dos clientes. Segundo ela, teve mais gente passando e, logo, o movimento cresceu.

Velocidade é um dos pilares do transporte coletivo

O presidente do Seterb, Marcelo Schrubbe, aponta estudos mundiais para justificar o investimento municipal nos ônibus. Segundo ele, cidades onde o transporte individual foi privilegiado atualmente enfrentam dificuldades de mobilidade urbana, diferente das que optaram por investir no transporte coletivo.

– O transporte coletivo tem que ter velocidade, confiabilidade e valor justo. Então, o que a gente vem fazendo é aumentar o corredor exclusivo de ônibus para poder dar confiabilidade ao sistema, de que os ônibus estarão naquele lugar no horário e para isso é preciso aumentar a velocidade – explica Schrubbe.

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A aposta no transporte coletivo também terá um ganho com dois novos terminais urbanos. O Norte está previsto para ser entregue até o final do primeiro semestre e o Oeste até agosto. Ainda não há confirmação de como será remodelado o sistema e se haverá acréscimo de linhas, mas o Seterb já desenvolve o estudo sobre as mudanças necessárias para quando as estruturas entrarem em funcionamento.

– Se você pegar de 2000 para 2018, nós aumentamos 190% a frota (de veículos). Estávamos em 2000 com 103 mil e agora com mais de 260 mil. Então, a alternativa é investir no transporte coletivo – argumenta o presidente do Seterb.

O corredor da Rua Itajaí

O trecho exclusivo ao transporte coletivo será entre as ruas Pedro Krauss Sênior e XV de Novembro, no sentido Gaspar/Blumenau. Segundo a prefeitura, a estrada tem 10 metros de largura, o que permite a implantação da terceira faixa. A metragem mínima prevista para cada pista é de 2,7 metros, segundo a prefeitura. Para isso, porém, serão suprimidas 85 vagas de estacionamento existentes hoje após o Hospital Santo Antônio. São 55 para carros e 30 para motos. A faixa de conversão que dá acesso à Ponte dos Arcos não será desativada. Nesse ponto, carros e ônibus irão dividir a pista, com exclusividade ao transporte coletivo. A rua segue com uma faixa em cada sentido. Uma ilha de segurança será implantada em frente ao Hospital Santo Antônio para garantir a segurança dos pedestres.

Aumento de velocidade dos ônibus com os corredores

Corredor da Rua 2 de Setembro

– Velocidade média passou de 8km/h para 24km/h. Aumento de 300% na velocidade.

– Diminuiu o tempo de deslocamento em 15 minutos.

Corredor Rua São Paulo

Trecho 1 (Furb-Prefeitura)

– Velocidade média passou de 12km/h para 18km/h. Aumento de 50% na velocidade.

– Diminuiu o tempo de deslocamento em três minutos.

Trecho 2 (Ponte do Tamarindo-Campus 2 da Furb)

– Velocidade média passou de 12 km/h para 18 km/h. Aumento de 50% na velocidade.

– Diminuiu o tempo de deslocamento em três minutos.

Corredor da Avenida Martin Luther

– Velocidade média passou de 13 km/h para 25 km/h. Aumento de 80% na velocidade.

– Diminuiu o tempo de deslocamento em três minutos.

Fonte: Seterb