O luxo dos condomínios contrasta com o terreno ao lado, tomado pelo mato, lixo e uma casa abandonada. O local na Rua João Meirelles, principal do bairro Abraão, deveria abrigar um parque, porém um impasse entre famílias que vivem no local e a Prefeitura de Florianópolis impedem o início da obra. Enquanto o projeto não sai do papel, a casa virou ponto de usuários de drogas e moradores de rua, causando insegurança para a população.
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Antiga casa foi saqueada e está tomada por lixo. Usuário de drogas já causaram dois incêndios no local Foto: Marco Favero / Agência RBS
Abelardo Ferrari, síndico de um prédio em frente ao terreno, relata que em 2015 ocorreram dois incêndios que teriam sido causados por usuários de drogas queimando fios dentro da casa abandonada. Ainda, relata haver lixo, mato crescendo e assaltos.
De acordo com Ferrari, a casa era utilizada como escritório e depósito da construtora Cyrela durante a construção do condomínio e que, com a conclusão da obra, o local foi saqueado, ficando como está hoje:
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– Já denunciei para a Vigilância Sanitária pelo perigo de dengue, mas ninguém faz nada. Teve um assalto dentro da garagem do condomínio, e o ladrão estava na casa – disse.
Projeto de 2013
O projeto do Parque do Abraão foi anunciado pela Prefeitura da Capital em julho de 2013, como resultado de uma medida compensatória firmada com o Grupo Cyrela, que construiu três condomínios na região. O projeto para área pública de lazer de 50 mil metros quadrados prevê o plantio de 2 mil árvores, praças, quadras de areia, quadras poliesportivas, ciclovia, pista de corrida, academia para terceira idade, parquinho, horta, além de posto policial. As obras estavam prevista para serem concluídas em 16 meses, ou seja, em novembro de 2014, porém nada foi feito.
Famílias vivem no local
Em parte da área em que o parque deve ser construído, funcionava a antiga associação de moradores do bairro. Atualmente existem um minimercado e um bar, além de três casas das famílias que vivem na área.
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Morador de uma das casas, Fabrício do Santos explica que a sogra tinha autorização da associação para viver no local e montou o mercado, que depois da morte dela passou aos filhos. Atualmente Fabrício e a esposa, Viviane Marcelino, dois filhos e o irmão de Viviane com a esposa vivem ali. O homem conta que, quando receberam uma ordem de despejo, em janeiro de 2013, foram procurar os direitos deles, e conseguiram permanecer. Ao longo de 2014 foram feitas várias reuniões com as famílias na Secretaria do Continente, mas nada foi acordado:
– Nós não invadimos esse lugar, sempre tivemos autorização. Ninguém é contra a construção do parque. Eu inclusive cuidava do campo, cortava a grama e fazia escolinha de futebol gratuita para os meninos da comunidade, mas agora ninguém deixa fazer mais nada. Nós aceitamos o acordo para outra casa modelada que a Prefeitura ofereceu, mas desde o ano passado ninguém nos procurou mais – contou.
Joel e Viviane participaram de reuniões na Secretaria do Continente, mas desde setembro de 2014 não foram mais procurados Foto: Marco Favero/ Agência RBS
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Moradora tem documento de casa
Já a situação da família de Mara Beatriz de Barros Oliveira é um pouco diferente. Ela tem o contrato que comprova que comprou parte do terreno e sua casa há 21 anos, quando veio de Chapecó para Florianópolis:
– Não acho justo eu ter que pagar por outra casa se eu comprei essa. Tenho medo de não ter pra onde ir. Já levei um susto quando vieram com a ordem de despejo. Hoje são três casas que temos aqui, porque meu filhos casaram e também têm as famílias deles. Nos ofereceram uma casa com dois quartos, mas precisamos de três casas _ explicou.
O filho de Mara, Fernando de Oliveira, conta que procurou o Ministério Público Estadual e Federal, e tem um ofício que nada pode ser feito até que a questão com as família seja definida:
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– A nossa família não quer impedir a construção do parque. A gente aceita sair, mas queremos o que é justo, que nos paguem uma indenização correta. Nosso terreno tem 500 metros quadrados, e trabalhamos com reciclagem, por isso também precisamos do espaço.
Construtora diz que aguarda definição para fazer o parque
De acordo com o gerente comercial da construtora Cyrela em Florianópolis, Samu Rick, a empresa se comprometeu a fazer o parque, mas toda a parte de liberação de licenças e negociação com as famílias são de responsabilidade da Prefeitura.
– Pelo que nos informaram, existe um impasse no local por conta de algumas famílias que vivem no terreno. Estamos aguardando para começar a obra – disse.
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Rick informou que a casa em que os usuários de drogas estão vai ser derrubada e que o projeto do Parque do Abraão prevê a construção de um pórtico de entrada naquele local. Segundo o gerente, já foi pedida a autorização do Ipuf para derrubar a estrutura. Enquanto isso não acontece, eles irão fechar novamente o local com tapumes.
Secretaria do Continente vai pedir agilidade no processo
A reportagem entrou em contanto com a Secretaria do Continente para verificar como estavam as negociações com as famílias, que relataram ter participado de diversas reuniões no órgão ao longo de 2013 e 2014. O secretário Deglaber Goulart, que assumiu a pasta no fim de fevereiro, explicou que cabe à Secretaria de Habitação realocar as famílias e confirmou que existe uma determinação do Ministério Público Federal para que nada seja feito até que o impasse seja resolvido.
– Vou cobrar agilidade neste processo, pois é do interesse de todos que o parque seja feito logo – disse.
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O diretor da Secretaria de Habitação Municipal, Paulo Abrahan, falou que foi entregue na Secretaria de Administração o pedido de licitação para quatro casas modeladas que serão construídas para as famílias viverem. Segundo Paulo, foi feito um acordo em uma reunião em 2013 na Secretaria de Habitação, o que é negado pelas famílias. Abrahan disse que existe uma ata dessa reunião, que estaria com o Ipuf e ele já solicitou uma cópia ao órgão.
– Não tenho como precisar quanto tempo vai levar, depende da licitação, mas a construção é rápida, cerca de 10 dias – disse o diretor.