Com enfoque específico diante da atual conjuntura política e econômica do país e com base nas lideranças dos eventos criados nas redes sociais, fica fácil perceber, segundo especialistas, quem é o catarinense que vai às ruas neste domingo para protestar: adulto de direita, representante da classe média ou média alta, que tem sofrido diretamente com a crise econômica e tem alguns ideais conservadores.

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Pelo menos 22 cidades de SC têm protestos marcados

Movimentos planejam protestos contra PT em todo o país

Berço das manifestações populares que sacudiram o país em junho de 2013 e março e abril de 2015, as redes sociais, especialmente o Facebook, novamente dão impulso aos atos. No Estado, pelo menos 22 cidades têm eventos organizados pelos movimentos Brasil Livre, Vem Pra Rua e o Revoltados ON LINE, com confirmação de cerca de 38 mil pessoas até as 19h de sexta-feira.

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E se nos protestos anteriores, principalmente no de dois anos atrás, a pauta era ampla e fragmentada, agora o foco é abertamente a saída de Dilma Rousseff da presidência.

Confira as cidades de SC com protestos marcados para este domingo:

Doutor em Ciência Política e professor emérito do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), David Verge Fleischer avalia que o perfil catarinense segue as características nacionais do movimento.

Diferente dos protestos de 2013, quando o aumento da tarifa de ônibus desencadeou a mobilização, abriu um leque de reivindicações e envolveu massivamente os jovens, agora o panorama tem ligação estreita com a crise econômica.

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– A situação piorou muito de 2013 e de março de 2015 pra cá com os problemas econômicos. Desta vez há impacto em mais segmentos, a classe média perdeu emprego e existe o fator político. Em relação ao impeachment, quem vai pra rua sabe das questões jurídicas que o envolvem, mas as pessoas acreditam que, protestando, podem contribuir com o processo – analisa.

O professor de Ciências Sociais da Unisul, Valmir dos Passos, acrescenta também que o apartidarismo já não é absoluto, uma vez que siglas como o PSDB têm, em menor ou maior grau de empenho, levantado a bandeira contra o PT e incentivado a participação popular nos movimentos.

– E dizer que se trata de uma ação pouco politizada também me parece não ser a expressão correta. É um movimento que despreza eleições e a ordem institucional. As pessoas que vão pra rua e pedem impeachment não têm preocupação com as possíveis consequências disso à ordem do país – pontua o especialista.

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Em outras situações semelhantes nos últimos meses, a maioria das entidades aderiu aos protestos. Para este domingo, boa parte delas, como a Federação das Indústrias de SC (Fiesc) e a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que lançaram manifesto pelo “Brasil que queremos”, pede união política para que a economia volte a crescer, em uma mensagem clara contra a proposta de impeachment.

Entre as que apoiam a manifestação, como a Associação Empresarial de Itajaí, a orientação também é direta: ir às ruas e cobrar melhorias ao país, sem mexer nos pilares constitucionais da democracia e ameaçar a ordem nacional.

– O impeachment seria uma grande aventura. Não há base jurídica para isso, que é uma materialização do ódio – comenta o sociólogo político e professor da Univali, Flávio Ramos.

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A manifestação de domingo é encarada como um teste ao Planalto, que sentirá o termômetro popular às medidas tomadas nas últimas semanas, que buscaram reaproximação com o Congresso e mais prazo para explicar as pedaladas fiscais ao Tribunal de Contas da União (TCU), além da decisão de que as contas de Dilma serão julgadas em sessão conjunta da Câmara e do Senado.

Para o doutor em Ciência Política e professor da UFSC, Waldir Rampinelli, essas vitórias pontuais do governo diminuem ainda mais as chances de impeachment e podem amenizar o cenário de clamor popular no domingo.

– É importante que a sociedade se organize e se manifeste. Mas o mais importante é a pauta. Protestar contra o ajuste econômico, pedindo punição aos empresários que se apropriaram do dinheiro público, contra políticos que se deixaram corromper. Mudar por mudar, e indo contra a legitimidade, não – pondera.

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