O movimento econômico da Colônia Dona Francisca começou a decolar a partir de 1877, quando contabilizava quatro engenhos de erva-mate, 200 moinhos e 11 olarias, demonstrando o potencial produtivo do empreendimento. Foi com a Revolução Industrial e a vinda de imigrantes com profissões específicas que surgiram as primeiras indústrias.
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Os alemães tiveram uma importante participação nesse desenvolvimento. A historiadora Raquel S. Thiago explica que o objetivo inicial era montar uma colônia agrícola de grandes proporções, mas, como os colonos apresentaram dificuldades para se adaptar às condições climáticas, houve o redirecionamento das atividades, principalmente para a área têxtil e metalúrgica.
– A imigração germânica deixou duas grandes heranças culturais: a ética do trabalho, trazida pelos protestantes, e a vocação industrial – destaca a historiadora.
Munido dessas características, um descendente de imigrantes, Albano Schmidt, morador da cidade, foi buscar na Alemanha os conhecimentos necessários para empreender na região. Formado em engenharia, passou a pesquisar a fórmula de um ferro que não quebrasse. Junto de mais dois sócios, Hermann Metz e Arno Schwarz chegou ao ferro maleável, o que os levou a criar a Fundição Tupy, em 9 de março de 1938.
– Não só a minha família, mas várias famílias de imigrantes vieram com essa vontade de produzir. Não tinha nada, então eles precisavam trabalhar – afirma o neto do fundador, que também se chama Albano Schmidt.
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A Alemanha sempre foi um polo de busca de conhecimento para a família Schmidt. A primeira instalação da fundição veio toda do país germânico, desde a estrutura até as máquinas.
– A Tupy é precursora de tecnologia, inovação – diz.
O impulso para o crescimento veio com a Campanha de Nacionalização, concebida pelo presidente Getúlio Vargas, e que impediu as importações. A Fundição Tupy se tornou uma das únicas fornecedoras de peças para as indústrias brasileiras. A necessidade de mudança começou a aparecer logo que a fábrica foi instalada onde hoje é o Shopping Mueller, no Centro de Joinville.
– Meu avô tinha muita visão e logo percebeu que era preciso retirar a operação do Centro. Por isso, comprou o terreno no Boa Vista. No início, o acesso era muito difícil, feito com carroças – lembra.
À medida que a fundição crescia, o bairro se desenvolvia também. Com a morte do avô, seu pai Hans Dieter Schmidt, com 25 anos, assumiu a presidência.
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– Nessa época, a Tupy já era muito grande e nos mudamos para São Paulo, onde fiquei até os nove anos. Para a família, sempre importou retornar para a cidade e estar junto da comunidade – justifica Albano Schmidt, que hoje preside a Termotécnica, empresa surgida dentro da fundição.
Em 1995, a Tupy deixou de ser familiar para ter uma gestão profissionalizada, com controle acionário de fundos de pensão e bancos. Fernando de Rizzo, atual presidente, relata que vivencia a cultura de pioneirismo e dedicação dos fundadores há 26 anos, desde que foi contratado.
– Pesquisa e inovação são premissas da Tupy desde sua fundação. Esse espírito inovador e a busca pela melhor e mais adequada tecnologia possibilitaram a expansão no país e no mercado internacional – garante.
Hoje, a Tupy emprega aproximadamente 14 mil funcionários, sendo quase 8,5 mil em Joinville. Tem capacidade para transformar 848 mil toneladas anuais, concentrando a produção nas fábricas de Joinville e Mauá, em São Paulo, e Saltillo e Ramos Arizpe, no México. Além disso, possui escritórios comerciais em São Paulo, Estados Unidos e Alemanha. O Boa Vista, bairro em que ainda se encontra a fundição, contava, em 2016, com 18.390 habitantes, de acordo com o relatório Joinville Bairro a Bairro 2017, divulgado pela Prefeitura Municipal.
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* Textos: Letícia Caroline Jensen, especial para o AN