A Lagoa da Conceição, já conhecida por abrigar gente do mundo inteiro na Ilha de Santa Catarina, foi o cenário de mais um encontro multicultural neste domingo, reunido peruanos, árabes, italianos, marroquinos e muitas outras nacionalidades na primeira Feira Gastronômica dos Imigrantes.

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Quem chegou cedo na Feira pode sentir os cheiros e provar os sabores de diferentes partes do mundo preparados por imigrantes que estão vivendo na cidade. Em cada ingrediente selecionado e preparado, o visitante recebia além do alimento parte da história das mãos que preparam, pessoas que largaram suas terras para vir ao Brasil por algum motivo, seja fugindo da guerra, por um amor ou em busca de mais oportunidades.

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O italiano Guglielmo Visentini serviu duas receitas típicas de Ferrara, sua região na Itália: porchetta e pizzaiolla. Por volta das 15h já não tinha nenhum um pedacinho de massa para contar história, mas ele explicou que aprendeu a cozinhar com a mãe, na Itália:

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— A porchetta é uma receita com carne de porco. Começo a preparar um dias antes, para pegar os temperos. Desse jeito que faço é especial. Não imaginei que o público iria gostar tanto, se soubesse teria feito mais — comemorou.

Guglielmo veio para o Brasil com a esposa brasileira depois de terem morado em vários países da Europa, e além do sucesso nas vendas, neste domingo ele completava um ano da chegada ao país:

— Sabia cozinhar e por conta da crise na Itália resolvemos vir pro Brasil, então comprei um Kombi e agora vamos participar de feiras — explicou.

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O movimento foi tanto que a comida acabou em muitas tendas poucas horas após o início do evento. Aqueles que conseguiram repor os estoques mal davam conta de atender a enorme fila, como no caso da tenda do sírio Yahua Zacaria, que veio para o Brasil fugindo da guerra civil no seu país. Enquanto o homem fritava quibes típicos, a esposa Tatiana atendia os clientes:

_ Nem conseguimos sair daqui para experimentar a comida dos outros países, mas está ótimo. O pessoal gosta do quibe original. Igual o nosso, não tem _ disse Tatiana.

De Guiné Bissau, a estudante de nutrição Bessy Ludmila Soares Tavares trouxe para a feira o caldo de mancarra, uma pasta de amendoim servida com frango, acompanhada de arroz.

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— Vim para o Brasil para estudar, mas sempre cozinhei, então faço comida em eventos — contou.

Bessy disse que o prato saiu muito bem. Ela conseguiu refazer três vezes, e também não teve tempo de provar os pratos dos colegas de tanta correria.

Feita por voluntários

A primeira edição da feira foi pensada pela cientista social Carolina Becker Peçanha, que faz parte da Associação Cultural Cachola de Bernunça, um coletivo de pessoas que busca mudar a realidade em que estão inseridas.

Carolina conta que quando começou a trabalhar com o tema imigração conheceu muitas pessoas e histórias interessantes, e acredita em um mundo sem fronteiras territoriais, em que todos possam construir em conjunto:

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— O trabalho da feira foi isso, de co-criação. Tudo foi feito sem patrocínio ou apoio público, as tendas foram emprestadas, um ajudou o outro pra conseguir dinheiro para comprar os ingredientes e fazer as coisas. A gente ia convidando e outros mostravam interesse. Essa primeira edição foi um aprendizado, mas a ideia é que se torne um negócio social.

Além da gastronomia, a feira teve música do mundo inteiro, apresentação de curtas sobre refúgio e migração e debates sobre o assunto.