Inquieto, Mouayad Faruk, 27 anos, só sentou depois de ajustar as luzes do restaurante que comanda, ligar o ar-condicionado e depois o ventilador, ir ao estoque e em seguida ao banheiro e de explicar a um casal desavisado que o local só abria mais tarde. “Eu sou assim”, repetiu, por várias vezes, o sírio que considera Florianópolis o melhor lugar do mundo (a comparação vale para todas as cidades por aí mesmo, mas em especial São Paulo, onde ele morou antes de vir para cá e que não volta de jeito nenhum).
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Parou no Brasil pelo mesmo motivo que tantos outros sírios: não aguentava mais o horror da guerra civil que já dura 13 anos. A vida se tornou cinza, e a morte era visita constante de Faruk e sua família. Se despediam de amigos e familiares quase todas as semanas e perderam a alegria de viver. Quando tinha quase 18 anos, foi embora sozinho. Deixou para trás mãe, pai, irmão e a vida que tinha no país.
O Brasil não foi a primeira parada. Trabalhou e morou por um tempo no Líbano, país natal de sua mãe, e no Egito, mas resolveu se arriscar e vir para um país que só conhecia pelas notícias. Morou em São Paulo por três meses até tomar coragem e se mudar para Florianópolis em 2015.
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— Quando estava em São Paulo, queria voltar para a Arábia porque São Paulo é muito doido, não dá para morar. Eu estava torcendo para Deus mandar uma oportunidade melhor e aí abracei Floripa — conta Faruk.
Se encantou ainda no avião com o que viu sobrevoando a Ilha. Os olhos brilharam e nele acendeu uma sensação de pertencimento.
Trabalhou sempre com comida árabe. Primeiro como funcionário e depois como empresário no restaurante que montou, o Faruk. Nome que veio de um personagem interpretado por ele em um filme em São Paulo. Ele foi o protagonista e emprestou ao personagem sua vivência na Síria já que os dois eram imigrantes que vinham para o Brasil tentar prosperar.
A maior barreira na nova terra foi a língua. São poucos os fonemas do português brasileiro que parecem os do árabe. Para aprender a falar como os brasileiros, passou a ouvir com atenção. Conheceu gírias com colegas, palavras de afeto com uma ex-namorada e outras tantas com clientes e pessoas na rua.
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— O povo aqui é maravilhoso. Quando vê alguém de fora é bem receptivo — descreve Faruk.
Diz que hoje fala melhor do que escreve e domina melhor gírias e o linguajar do cotidiano (fala “tipo” para explicar as coisas como um bom brasileiro). Mas ainda tem dificuldade para entender o que dizem os apresentadores de jornais, comenta.
A Florianópolis de Mouayad Faruk é o pé do Morro da Cruz onde está instalado seu restaurante de comida arábe legítima e também o Morro da Lagoa da Conceição onde foi a primeira unidade do estabelecimento. É a região da Avenida das Rendeiras, no mesmo bairro, onde adora passear e também a trilha da Lagoinha do Leste, lugar onde se apaixonou pela forma de Florianópolis.
— Quando vi a vista de lá, pensei: o que eu estava na Arábia até agora? Falei que Deus me escolheu para descobrir isso — completou rindo.
Mais de 4 mil estrangeiros vivem em Florianópolis
Faruk faz parte dos 4 mil estrangeiros que moravam em Florianópolis quando os recenseadores do Instituto Brasileiiro de Geografia e Estatística (IBGE) bateram às portas dos moradores de Florianópolis atrás de informações para compor o Censo de 2010.
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Apesar de já ter prévias do Censo de 2023, o IBGE ainda não diferenciou os dados de quantas pessoas de foram moram aqui atualmente. O que já foi divulgado é que a população cresceu. Conforme dados divulgados até março, são 574.200 mil com DDD 48.
Segundo o dado da Florianópolis de 12 anos atrás, a população de 421.240 habitantes era formada em sua maioria por catarinenses (293.262) e depois por quem veio de outros estados para cá. Gaúchos (53.476), paranaenses (22.363), paulistas (19.624), cariocas (7.988) e estrangeiros (4.622).
De lá para cá a cidade cresceu e a estimativa do IBGE é que vivam aqui agora 574.200 mil pessoas moram aqui.
Veja o vídeo “Quantas Florianópolis cabem aqui?”
Floripa 350 anos
A história de Faruk faz parte do projeto Floripa 350 anos, que celebra o aniversário da cidade. De março até dezembro serão contadas histórias sobre a cidade para celebrar a cultura, história e também sobre como Florianópolis cresceu ao longo dos anos.
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