Imagens de satélite feitas pela Universidade Federal do Rio Grande (Furg) mostram uma grande mancha de sedimentos que chega ao rio Guaíba e se espalha pela Lagoa dos Patos. O cenário é consequência das enchentes que atingem o estado gaúcho há mais de duas semanas. Especialistas ouvidos pela GZH destacam que esta mancha pode ocasionar assoreamento e danos ambientais.

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As imagens foram captadas por um satélite da Agência Espacial Europeia nos dias 14, 15 e 17 de maio. Profissionais da Furg aplicaram um tratamento de brilho para facilitar a visualização da mancha.

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— A mancha corresponde à pluma de sedimentos oriunda da bacia hídrica do Guaíba. Ela pode envolver materiais como areia, argila, fragmentos de rocha e detritos de origem orgânica — explicou o professor Fabrício Sanguinetti, coordenador do Laboratório de Oceanografia Dinâmica e por Satélites da Furg, à GZH.

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O professor ainda destacou que a cor de argila predominante na mancha é indicativo que os volumes de solo estão sendo transportados em grande escala pelas águas. E isso pode fazer com que seja levado para dentro do sistema hídrico outros componentes.

— É difícil dizer exatamente o que compõe a mancha, mas não tenho dúvida de que há resíduos de químicos de lavouras, agrotóxicos. E, muito provavelmente, tem água de esgoto — diz Sanguinetti

Ele ainda observa que o deslocamento está ocorrendo de forma lenta, influenciado pelos ventos e que os sopros do quadrante sul represam a lagoa e dificultam o escoamento para o Oceano Atlântico.

O professor também alerta que a mancha pode prejudicar o uso recreativo da Lagoa dos Patos e trazer prejuízos ambientais, tanto para a fauna quanto para a flora.

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Veja as imagens do satélite

Volume de deslocamento de detritos mais que triplicou

Como explica a reportagem da GZH, a bacia hídrica do Guaíba tem 84 mil quilômetros quadrados. Ela é composta por rios como Caí, Jacuí, Gravataí, Sinos e Antas-Taquari, além do próprio Guaíba. Todos receberam volumes históricos de chuva durante as enchentes de 2024. Os cursos d’água desses rios descem desde o interior do Rio Grande do Sul até o Guaíba e, dali, seguem para a Lagoa dos Patos.

Em condições normais, segundo disse ao jornal gaúcho o professor Elírio Toldo Jr., do Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a bacia hídrica do Guaíba transporta a média diária de três mil toneladas de sedimentos para a Lagoa dos Patos.

No período de enchentes, no entanto, novas medições indicaram que o deslocamento de detritos aumentou para mais de 10 mil toneladas. Isso significa que o volume mais do que triplicou.

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O especialista destaca que nem todo sedimento segue o caminho de escoamento até o Oceano Atlântico. Uma parcela da pluma se acumula no canal do Guaíba e no fundo da Lagoa dos Patos. Isso pode ocasionar, observa Toldo, assoreamento de hidrovias.

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