Uma das moradoras mais proeminentes de Florianópolis no século passado, a baronesa Edla von Wangenheim era também uma cineasta e fotógrafa amadora. Entre as décadas de 1920 e 1940, quando fotos e vídeos ainda não eram tão comuns para a população, ela fez uma série de registros do cotidiano da época e também empreendeu expedições fotográficas pelo Estado.
Continua depois da publicidade
Receba notícias de Santa Catarina pelo WhatsApp
Casada com o barão Dietrich von Wangenheim, Edla é considerada a primeira cineasta de Santa Catarina. Além de registrar festas e passeios de família, ela também fazia imagens de eventos oficiais, como a vinda de Getúlio Vargas, e de cenas do cotidiano da Ilha, como a pesca da tainha, o funcionamento do Estaleiro Arataca e a caça de uma baleia na Praia da Armação.
Seus registros passaram seis décadas guardados no porão da casa da família, localizada na esquina das Rua Bocaiúva com a Av. Trompowski, propriedade que também inclui a famosa Casa do Barão, na esquina com a Gama D’Eça. O acervo foi encontrado apenas depois da morte da baronesa, em 1998, e incluía 36 rolos de filme e mais de 400 fotos em negativo de vidro.
Fotos antigas mostram como era o Centro de Florianópolis no passado
Continua depois da publicidade
Desde então, a família vem recuperando e divulgando a obra da matriarca. O material deu origem a dois documentários exibidos na TV UFSC: Volta à Ilha em 16 mm e Bocaiúva 42. Agora, suas netas, Marina Lins von Wangenheim e Paula Lins von Wangenheim Micheloni, vêm se dedicando à divulgação dos registros em uma conta no Instagram, chamada Imagens da Baronesa.
— A nossa avó contava muitas histórias. Encontrar essas imagens materializou toda a nossa imaginação, aquilo tudo que ela contava. Afetivamente, foi muito importante para a gente — conta Marina, de 53 anos.
— Essa página faz um elo de quase 100 anos atrás com o passado. São memórias muito afetivas para nós, mas como são imagens da cidade, as pessoas se encantam. É uma janelinha para o passado. Aos poucos, estamos organizando e publicando esse material — diz Paula, de 51 anos.
Veja fotos da baronesa
Continua depois da publicidade
Janela para o passado
Edla nasceu em Itajaí, em 1905, em uma família de origem alemã. A habilidade de filmar e fotografar foi aprendida na Alemanha, para onde ela foi enviada ainda criança, para estudar. A jovem retornou ao Brasil em 1922, já equipada com câmeras e filmadoras, e passou a filmar o cotidiano das famílias imigrantes.
Depois de casada, a vida em família virou o principal objeto de suas fotografias. Ela registrava, por exemplo, um passeio de barco até a Ilha do Francês, em Canasveiras, onde mostrava a flora local. Toda a filmagem seguia um roteiro estruturado, já que não era possível editar o filme posteriormente.
— Como cineasta, ela tinha um olhar feminino. Então filmava família, festas de Natal, Páscoa, mas também cenas cotidianas da Ilha, com técnica e um olhar artístico — diz Paula.
Na Segunda Guerra Mundial, o barão se afastou das funções na Cia. Hoepcke, da qual foi diretor-presidente. Foi quando começaram as expedições fotográficas do casal pela Ilha e pelo interior.
Continua depois da publicidade
— As câmeras eram enormes e na época eles tinham que carregar uma caixa com negativos de vidro, que também pesava horrores. Imagina uma mulher, usando vestido, com aquele equipamento todo em um piquenique nas Dunas da Joaquina. Era uma função enorme, mas ela gostava muito. Era muito importante para ela — descreve Marina.
Filme da baronesa registra o Estaleiro Ararataca em operação e hidroaviões na Baía Sul
Leia também
Fotos antigas mostram a Avenida Beira-Mar Norte, em Florianópolis, antes e depois do aterro
Desenhos de Domingos Fossari relembram Florianópolis no início do século 20