A pesca artesanal da tainha faz parte da história e tradição de Florianópolis, e isso não é de hoje. Imagens feitas em 1926 mostram pescadores em um lanço na praia dos Ingleses, no Norte da Ilha, no que parece ter sido um bom dia de pescaria.
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Os registros que contam a história da prática, e da própria cidade, foram feitos por Edla von Wangenheim, fotógrafa e cineasta amadora que fez importantes imagens da capital entre as décadas de 1920 e 1950.
A baronesa Edla nasceu em Santa Catarina, sob o nome de Edla Scheele, e estudou em Mainz, na Alemanha, nas décadas de 1910 e 1920, período em que fez um curso de fotografia. Ao retornar para Florianópolis, passou a registrar a cidade por suas lentes.
O acervo é guardado e compartilhado pelo neto de Edla, Aldo von Wangenheim, professor e pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) nos campos de Informática, Estatística e Telemedicina.
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Em um álbum em que compartilha detalhes sobre as fotos tiradas pela avó, Aldo conta que duas das fotos guardadas em uma caixa tinham uma anotação atrás, em que Edla escreveu: “Tainhafischfang, Ingleses, 1926”. A descrição em uma mistura de alemão com português se referia a pesca da tainha na praia dos Ingleses.
“A cena é em algum lugar no lado Norte da praia (vemos as dunas do Santinho, cheias de vegetação, ao fundo) e, pelo visto, a pesca foi boa! Interessante observar os chapéus que os pescadores (de todas as idades) usam: este modelo cônico possui algum nome especial?”, comenta Aldo na legenda.
Ele destaca o enquadramento adotado por Edla, com o pescador ao centro, que “parece ter saído de um quadro de Portinari”, e também o pescador da direita, que parece olhar para dentro da câmera. “A foto é obviamente estudada e ela estava querendo fazer mais do que apenas registrar a pesca. Quanto tempo ela ficou de pé atrás da câmera, esperando por esta configuração da cena?”, questiona.
Tainha: maneira antiga, artesanal e coletiva de se pescar
A família já não possui mais o negativo dessa foto, e tem somente a ampliação em papel, que foi restaurada. Na época, eram usados negativos de vidro, que eram embalados em invólucros de metal, um a um. Ao puxar a capa capa da frente do invólucro para fora da câmera, por vezes a luz entrava, explica Aldo, o que faz com que alguns registros tenham superexposição.
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Edla von Wangenheim utilizava uma máquina Compur de fole, com lente Xonar 150mm, com a qual fazia seus registros da Ilha de Santa Catarina. Além de fotografias, Edla fez também diversas filmagens de Florianópolis, sendo conhecida como a primeira cineasta catarinense.
Veja as fotos antigas da pesca da tainha
Em outra foto, também da pesca da tainha nos Ingleses, Aldo destaca o olhar mais “jornalístico” e menos dramático, no qual ela eterniza o momento em que barcos cheios de pescadores chegam até a orla da praia. O destaque vai para a roupa dos presentes: as mulheres de lenço na cabeça, e os homens de chapéu “cônico”.
De chapéu Panamá e camisa branca, é o avô de Aldo quem protagoniza uma foto Armação do Pântano do Sul, no ano de 1938, tirada por Edla. Ao lado de duas baleeiras, e, provavelmente, de pescadores, o Barão Dietrich von Wangenheim se destacava pelo 1,95 metro de altura, em contraste com os descendentes de portugueses que eram maioria na ilha, bem mais baixos que ele.
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Edla foi casada com o Barão Dietrich, e juntos eles moraram no imóvel que ficou conhecido como Casa do Barão, no Centro de Florianópolis. Hoje o local, faz parte de um centro comercial e ainda é ponto de referência, além de dar nome ao documentário da TV UFSC, “Bocaiúva 42”.
O filme trás imagens feitas entre as décadas de 1920 e 1940, que ficaram por anos guardadas no porão da casa que pertenceu a Carl Hoepcke, que atuou como empresário em Florianópolis entre o final do século 19 e o início do século 20, na esquina das ruas Bocaiúva e Trompowsky.
Pesca da Tainha em 2024
Oficialmente aberta desde o dia 1º de maio, a pesca da tainha tem obtido números recordes em Santa Catarina durante esta temporada. Em Florianópolis, já foram pescados 425.581 peixes até esta sexta-feira (12), conforme o Tainhômetro, atualizado no site da prefeitura.
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A praia da Lagoinha do Norte é a atual campeã, com 77.315 peixes pescados nessa safra, vencendo o próprio número de 2023, em que lideraram entre as praias de Florianópolis, com a captura de 61.409 tainhas.
Na sequência, aparecem as praias de Ingleses, com 73.507 peixes pescados, e a Prainha da Barra da Lagoa, com 53.368 peixes capturados. Confira o ranking por praia:
- Lagoinha do Norte: 77.315
- Ingleses: 73.507
- Prainha da Barra da Lagoa: 53.368
- Barra da Lagoa: 49.948
- Praia Brava: 42.670
- Pântano do Sul: 19.503
- Galheta: 18.591
- Naufragados: 16.087
- Campeche: 15.877
- Praia do Gravatá: 14.775
- Moçambique: 11.558
- Santinho: 9.468
- Cachoeira do Bom Jesus: 4.334
- Ponta das Canas: 3.838
- Joaquina: 3.830
- Daniela: 3.326
- Jurerê: 2.570
- Caiacanga: 2.316
- Canasvieiras: 1.683
- Praia do Forte: 1.017
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