Ah, Florianópolis… Cheia de encantos, trejeitos e história. Passando pela “nossa jovem senhora”, a Ponte Hercílio Luz, ou pelas pontes vizinhas, há um jeito único de viver aqui. Cidade com lindos cartões postais, pôr do sol que irradia vida, ostra fresca no Ribeirão da Ilha, passeios na Lagoa da Conceição e sempre um bom peixinho frito para arrematar. Quem resiste?
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Quem nasce em Floripa é…
Oficialmente, quem nasce em Florianópolis é florianopolitano. Porém, a verdade é que quem nasce na capital catarinense é popularmente conhecido como “manezinho“. O modo de chamar pode até parecer um pouco estranho para quem não está acostumado, mas, acredite, um verdadeiro manezinho tem orgulho de ser chamado assim.

A origem do apelido é cheia de versões. Alguns acreditam que vem do nome Manuel, comumente usado pelos portugueses que colonizaram Florianópolis por volta de 1700. Esse povo, que veio principalmente da Ilha dos Açores, foi responsável por trazer a cultura açoriana à ilha, a arquitetura típica portuguesa, a culinária e o modo de falar dos florianopolitanos.
O manezinho é tão especial para Florianópolis que ganhou até data no calendário municipal. Por isso, no dia 5 de junho comemora-se o Dia do Manezinho, criado pela Lei Municipal nº 6.764, de 2005.
“Tú falax manezês?”
Para ser um verdadeiro manezinho não basta ter nascido em Florianópolis, tem que saber falar de um jeito bem típico da região. É um modo de falar cantado, corrido e puxando a letra “s” no final das palavras, que, no final, fica mais parecido com o som de “x” mesmo. Conhecex?
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Esse jeitinho dos manezinhos ficou tão famoso que foi intitulado de “manezês“, como se fosse o idioma oficial dos nativos da capital. Não é à toa, já que para alguns turistas, ouvir um nativo falando pode parecer outra língua, principalmente nos bairros mais marcados pela colonização açoriana, como Ribeirão da Ilha, Lagoa da Conceição e Santo Antônio de Lisboa.
Ah, uma carapeva frexquinha, né não?
Prato típico do manezinho é um peixinho frito, uma carapeva da Lagoa ou uma tainha, com um bom pirão de peixe. À noite é a vez daquele siri pego na hora ali mesmo, na beira do mar ou na Lagoa. E, por falar em pirão, tem que ter aquela farinha boa! Aquela feita de mandioca no engenho, sabex qual é?
A farinha de mandioca começou a ser produzida na Ilha após a chegada dos açorianos, que adaptaram o modo de produção da farinha de trigo, que já era produzida no Arquipélago dos Açores, à de mandioca, que era cultivada aqui.
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Atualmente, a cidade conta com poucos engenhos e é até estranho pensar que no início do século XX existiam cerca de 150 engenhos de farinha na ilha – que chegaram a fornecer o produto até para a família real portuguesa. A expansão do número de fábricas de farinha, que aconteceu a partir de 1970, foi um dos principais fatores que contribuíram para a extinção dos engenhos.
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Como “tú visse”, o manezinho adora pratos com frutos do mar, principalmente aqueles frescos, que foram pegos “di já hoje” de preferência. E olha que um bom manezinho é bem exigente quando assunto é peixe. Não gosta de peixe congelado, não! Por isso, quando não consegue pegar seu próprio peixe, já sabe qual é o melhor lugar para comprar: no Mercado Público de Florianópolis. Ainda tenta aquela boa pechincha, né querido?
“Olê, mulé rendera, Olê, mulé rendá…”
Como bem registrou o compositor Zininho, na música Rancho de Amor à Ilha, considerada o hino de Florianópolis, a renda de bilro é um dos costumes tradicionais do manezinho. Trazida também pelos açorianos à ilha, a prática conta com vários bilros pendurados em linhas. Usando como base uma almofada, a renda vai sendo desenhada pelas mãos habilidosas da rendeira.
O bilro é uma pequena bobina que pode ser feita de madeira ou osso e, tradicionalmente, era confeccionado pelos maridos das rendeiras. Essa marca cultural recebeu até um dia em sua homenagem que, em Florianópolis, é 21 de outubro.
Você já foi à Floripa?
“Quem nunca foi à Floripa não sabe onde fica o meu coração. Um pedacinho de terra, o mar e a serra e sol de verão…”. É assim que começa a canção “Você já foi à Floripa?“, composta por Rodrigo Piva, servidor público federal, músico e morador de Florianópolis há 33 anos. Segundo ele, a letra da música foi composta em 2010 na praia da Cachoeira do Bom Jesus, no norte da Ilha, onde ele morou por alguns anos.
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— Foi a forma que eu encontrei de agradecer e homenagear este pequeno pedaço de paraíso que me acolheu. E é claro, o nome da música foi inspirado no grande sucesso do mestre Dorival Caymmi, em que ele homenageia a sua terra: ‘Você já foi à Bahia?'” — conta Rodrigo sobre o que o inspirou a escrever a letra da bela canção que serve muito bem de trilha sonora para Florianópolis.
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A música foi gravada originalmente no CD “Na Garganta do Artista”, do músico, lançado em 2011. Porém, após a apresentação ao vivo com a Camerata Florianópolis, Rodrigo resolveu gravar o novo arranjo no CD mais recente, “Canto Quântico” (2018), com a participação do cantor Leleco Lemos. A faixa está disponível também no Spotify, onde já tem quase 22 mil acessos.
— São centenas de vídeos, fotos e stories do Instagram feitos por gente de toda parte, que se identifica com a letra ou com a melodia da canção. Eu entendo perfeitamente, pois a sensação de atravessar a ponte que liga a Ilha ao Continente ou de subir o morro da Lagoa da Conceição pela primeira vez é sempre uma experiência que merece ser celebrada — destaca Rodrigo.
Para ele, Florianópolis é uma cidade muito sedutora e cheia de belezas naturais.
— O incrível mesmo é poder mudar radicalmente a paisagem depois de um dia de trabalho, simplesmente percorrendo alguns quilômetros. Um final de tarde em Santo Antônio de Lisboa ou no Ribeirão da Ilha, por exemplo, para mim, é como estar em outro país. Um lindo país, diga-se de passagem.
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Como deu para perceber, morar na Ilha é mais do que endereço, é um estilo de vida. Então, feliz aniversário, como diz a letra da canção de Rodrigo Piva, “cidade com nome de flor, comece no sul ou no norte, onde for… Floripa tem rima, combina com amor…”.
Box: As lagoas e o coração na Ilha
Quem visita a região de carro pode não perceber, mas de cima é fácil avistar o formato de coração que une as duas lagoas. Com as bruxas soltas, uma grande maldição teria dado origem a essas águas.
Apesar de algumas adaptações, a lenda mais comum contada era de que Peri era um índio, apaixonado pela bruxa Conceição. Mas o amor era proibido tanto pela família de bruxas quanto pela aldeia indígena. As diferenças e o receio de serem pegos não era o suficiente para separá-los, com encontros às escondidas. Com a descoberta por parte das bruxas de tal desobediência, surgiu o feitiço para dar fim ao romance em um castigo duplo, transformando ambos nas lagoas existentes. O amor foi tão intenso que a Lagoa do Peri teria formado um belo coração. Com as águas separadas, Conceição chorou e chorou, até que as águas teriam ficado salgadas.
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