A aposentada Terezinha Martins do Nascimento, 63 anos, mora no sul da Ilha e sempre que vai ao Centro de Florianópolis, não deixa de agradecer e fazer seus pedidos na Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, que fica na esquina do calçadão das ruas Felipe Schmidt e Deodoro. Mesmo em obras, a igreja mais antiga da Capital — inaugurada em 1815 — está sempre de portas abertas e é destino de 200 a 400 pessoas, por dia, avalia Ação Social e Cultural do espaço secular.
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— Está ficando bonita. A cidade merece uma igreja assim — avaliou a aposentada.
A pensionista Natalina Duarte, 73, também aproveita sua ida ao Centro, já que mora em São José, para visitar a tradicional capela. Devota de São Francisco e de São Judas Tadeu, sempre acende uma vela para seus agradecimentos e ora pelos que já se foram.
Por enquanto, a vela que ela deposita no pé do santo está em um local improvisado, na entrada da igreja. A expectativa é que até fevereiro do ano que vem, dona Natalina, Terezinha e tantas outras pessoas possam acender suas velas em um local digno de sua fé. A igreja São Francisco recebe a terceira e última etapa de sua reforma e restauração.
O contrato para a fase final da obra foi assinado no início do mês, no valor de R$ 5,9 milhões, com recursos do Fundo Estadual de Incentivo à Cultura (Funcultural). O valor total da restauração, informou Roberto Bentes de Sá, presidente da comissão especial de restauração da Arquidiocese Metropolitana de Florianópolis e vice-presidente da Ação Social e Cultural da Igreja São Francisco, vai girar em torno de R$ 12 milhões. A igreja já está em obras há quatro anos.
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De acordo com Roberto, esta fase pode ser considerada a mais delicada, porque trata da restauração das imagens sacras, dos cinco altares da igreja, de dois sinos e da cruz metálica do frontão. A igreja ganhará ambiente climatizado, com controle de umidade, e outras duas portas de entrada serão reabertas, como era no século passado.
— Hoje a igreja só tem uma entrada, pela Rua Deodoro. Vamos reabrir a porta que dá na Rua Felipe Schmidt, como era em 1815, e uma terceira porta ao lado, onde hoje um quiosque se encontra. Esta entrada dará direto para o novo velário que será construído no local — explicou Roberto.
Junto do velário, que ficará no lado direito da igreja, o espaço contará com uma lojinha para venda de velas e souvenirs religiosos, como ocorre em capelas antigas da Europa, exemplifica o presidente da comissão especial de restauração.


Uma das mais especiais
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Definida com estilo arquitetônico eclético — pois sua fachada foi modificada ao longo dos anos — a igreja São Francisco ainda apresenta, no entanto, detalhes do estilo neoclássico. A pedra fundamental de sua construção foi lançada em 1803, quando a Ordem Terceira deixou uma capela, onde hoje está localizada a Catedral Metropolitana, para ganhar casa própria na Rua Deodoro.
Tombada tanto pelo Patrimônio Histórico do Município, como do Estado, a igreja é uma das poucas no Brasil a trazer uma rara imagem de São Francisco nos pés do Cristo na Cruz, revelou Roberto Bentes.
— Descobrimos que é uma das únicas do país quando o Frei Gunther Max Walzer (padre responsável pela igreja) foi para Salvador e lá eles falaram que uma igreja que o frei visitou era a única do país a ter São Francisco nos pés de Cristo. O Frei Gunther chamou o guia para conversar e avisou que no Sul, em Florianópolis, também tinha — brincou Roberto.
Esta imagem do santo padroeiro da igreja é a mesma da inauguração, de 1815, e será restaurada por equipes que virão do Rio de Janeiro e de São Paulo e farão a restauração das demais imagens sacras e dos altares. A empresa contratada, Concrejato, já atuou na restauração da Catedral de Brasília, Museu da Língua Portuguesa e Museu do Futebol.
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Atualmente, além da imagem de Cristo e São Francisco, a igreja traz imagens de São Francisco das Chagas, Santo Antônio, da Imaculada Conceição e de Nossa Senhora.