Bispos de todo o mundo convergem em Roma para o lançamento na quarta-feira (3) de um sínodo dedicado à juventude, num momento em que a Igreja enfrenta uma crise existencial marcada por novos escândalos de abusos sexuais do clero.
Continua depois da publicidade
Serão 267 “padres sinodais” (cardeais, bispos, patriarcas cristãos, membros da Cúria, religiosos), 23 especialistas e 34 jovens com entre 18 a 29 anos, ouvidos por 49 auditores, incluindo um punhado de mulheres, a participar do Sínodo sobre “os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.
Reunida de 3 a 28 de outubro, esta assembleia deve produzir um documento consultivo ao final do encontro.
“A Igreja deve continuar a defender tolerância zero em matéria de abusos sexuais, se quiser aumentar a sua credibilidade com a juventude do mundo inteiro”, escreveram em março 300 jovens dos cinco continentes reunidos em Roma para se preparar para este Sínodo, apoiados por 15.000 internautas.
“Queremos dizer à hierarquia da Igreja que ele deve ser transparente, acolhedora e honesta, capaz de admitir seus erros passados e presentes”, ressaltaram ao final deste “pré-sínodo”.
Continua depois da publicidade
Foi este trecho que o papa Francisco ressaltou na semana passada aos jovens na Estônia. Os jovens “estão indignados com os escândalos sexuais e econômicas, contra os quais não veem uma clara condenação”, constatou na ocasião, observando que muitos “consideram a presença da Igreja dolorosa ou irritante”. “Queremos respondê-los”, prometeu.
Francisco talvez também estivesse retrucando um cardeal conservador americano que sugeriu, no final de agosto, o cancelamento deste sínodo. O arcebispo da Filadélfia, Charles Chaput, considerou que o tema da juventude atualmente “não tem credibilidade”.
Desde então, o papa convocou para fevereiro de 2019 uma reunião sem precedentes de todos os presidentes de conferências episcopais de todo o mundo para abordar o tema da “proteção dos menores”.
Para a organização “Ending Clergy Abuse” (ECA), o sínodo “é uma oportunidade sem precedente e histórica para Francisco e seus bispos para superar a crise, uma vez que vão falar dos jovens, da sexualidade e das vocações”.
Continua depois da publicidade
Mas a ECA lamentou que nem o programa nem o documento de trabalho do sínodo não mencionam “os abusos sexuais cometidos pelo clero, os abusos sofridos por seminaristas e os esforços dos bispos para encobrir” tais crimes por décadas.
– “Fragilidade humana” –
O papa foi pessoalmente atacado no final de agosto por um ex-embaixador da Santa Sé, o arcebispo Carlo Vigano, que acusou o pontífice de ter encoberto por cinco anos o cardeal americano Theodore McCarrick, suspeito de abusos sexuais contra seminaristas e padres.
E os relatórios chocantes se sucederam recentemente: pelo menos mil vítimas e 300 “padres predadores” na Pensilvânia (leste dos Estados Unidos), mais de 3.600 vítimas durante décadas na Alemanha.
Para o cardeal Lorenzo Baldisseri, secretário-geral do sínodo dos bispos, os escândalos não são um obstáculo. “A Igreja não é representada por alguns que estão errados” e “os jovens podem entender a fragilidade humana”, disse ele a repórteres na segunda-feira.
Continua depois da publicidade
Durante o “pré-sínodo”, os jovens fizeram perguntas sobre “sexualidade, dependências, casamentos desfeitos”, pedindo aos bispos que também abordassem as questões controversas da “homossexualidade e do gênero”. Eles também pediram uma melhor representação das mulheres na Igreja.
Neste contexto, o cardeal canadense Marc Ouellet, prefeito da Congregação para os Bispos, afirmou que “mais mulheres” deveriam participar da formação de seminaristas para promover “o equilíbrio da afetividade”.
O avanço da laicização também foi mencionado pelos jovens. “Às vezes nos sentimos excluídos porque os cristãos em um ambiente social se opõem à religião”, disseram eles. E para o papa, o sínodo também deve permitir um “despertar de vocações sacerdotais e religiosas”, em declínio no Ocidente.
Em outubro de 2014 e 2015, os dois sínodos anteriores, dedicados à família, ilustraram as profundas divisões dentro da Igreja em face das mudanças sociais.
Continua depois da publicidade
* AFP