O bispo Dom Gregório Warmeling nasceu em São Lugdero, no Sul de Santa Catarina, em 17 de abril de 1918. Filho de Henrique Warmeling e Rosa Wessler, esteve à frente do governo pastoral da diocese de Joinville durante 36 anos, deixando um legado de fortificação da fé para a comunidade. Nesta terça-feira, comemora-se o centenário de nascimento do segundo bispo joinvilense.
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— O Dom Gregório era esse homem forte, com voz de trovão, toda essa personalidade, mas ele tinha um coração de criança, era um pastor zeloso — relembra o padre Adenir José Ronchi, pároco da Catedral São Francisco Xavier.
Em 1929, então com onze anos, começou os estudos no Seminário de Azambuja, na cidade de Brusque. A vocação de seguir a vida religiosa foi confidenciada a fiéis durante a primeira missa, ainda na cidade do Sul catarinense. O fato foi transcrito em uma biografia colaborativa publicada em 2001, narrando que a vontade apareceu depois de ele observar, ainda criança, outro presbítero durante uma missa.
— Naquele instante, senti um impulso forte e uma voz interior que me dizia: ‘Gregório, por que tu não podes ser como ele, sacerdote da Igreja, chamado e enviado por Deus?’ — relatou no documento.
Anos mais tarde, em setembro de 1943, foi ordenado presbítero, um líder das congregações cristãs. Passou por diversas comunidades ao longo dos anos. Por causa do timbre forte, em 1946, ainda em Azambuja, foi mestre de canto e também era regente e tinha habilidade para arranjos e composições musicais, criando uma banda de música no local.
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Antes de chegar a Joinville, esteve à frente como pároco de Santo Antônio de Laguna e responsável pela colocação do monumento de 14 metros no Morro da Glória. A nomeação na diocese joinvilense aconteceu em abril de 1957, depois de o então bispo da cidade, Dom Pio de Freitas, enfrentar alguns problemas de saúde.
De acordo com o padre Ronchi, Dom Gregório se dedicou à organização pastoral e à construção de seminários e participou do Concilio Vaticano para depois implantar os ministérios na Igreja. Teve importante participação para o ecumenismo de Joinville, na busca de uma unidade para as igrejas cristãs da cidade.
Ao mesmo passo que contribuía com o desenvolvimento da diocese, ele também atuava na comunidade, sem esquecer-se das suas raízes. O bispo buscava ajudar o povo por meio dos ensinamentos da Igreja, estimulando e apoiando religiosos, padres e paróquias em iniciativas de transformação social, como o trabalho desenvolvido pelo padre Luiz Facchini e as Cozinhas Comunitárias. O projeto assumiu caráter institucional em 1994 com a Fundação Pauli-Madi Pró-Solidariedade e Vida.
— Para mim, ele significou um homem acolhedor, humano, misericordioso, com este ideal de amor à Igreja e também pela simplicidade de traduzir a teologia à linguagem popular — explica.
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A determinação era característica forte na personalidade dele, conforme Ronchi, que conviveu com o bispo por aproximadamente 15 anos, desde quando o pároco iniciou no seminário, até quando se consagrou padre. Além disso, mantinha bastante amor pelo município. Costumeiramente, declarava a frase “Joinville não falha”.
Catedral como legado aos joinvilenses
Um dos legados, resultado da determinação aliada ao amor por Joinville, foi a construção da catedral. À época em que chegou à cidade, o prédio era uma capelinha pequena e simples que já possuía um escopo para expansão. Após estudos, Dom Gregório reiniciou o projeto dando novas ideias para a construção. Ele acreditava que a cidade merecia um templo, que não fosse formado somente por paredes, mas que transmitisse também uma mensagem teológica.
Assim, diversos aspectos foram considerados durante a construção, com o objetivo de simbolizar a história da salvação. A simbologia está presente desde a porta principal, passando pelas escadarias até chegar à nave principal, por exemplo. Os vitrais também são importante quesito. Elaborados com a ajuda das ideias do bispo, eles representam o poder e a presença de Deus em aspectos importantes da história da humanidade.
O trabalho de arrecadação de recursos para a construção da catedral também contou com os esforços de Dom Gregório, que pediu doações à comunidade. As paredes do templo começaram a ser erguidas em 1960, e em junho de 1977 aconteceu a inauguração. Entretanto, a construção só foi finalizada em 2005, quando foi inaugurada a torre do campanário com 24 metros de altura, prevista na planta, desde 1959, do arquiteto Matié.
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Lembrança da dedicação a Deus
O padre Ronchi guarda na lembrança diversos ensinamentos oferecidos pelo bispo. O mais marcante deles veio já em seus dias finais, quando estava internado no hospital. No leito, ele relatou a algumas pessoas presentes a importância de ter seguido a vida religiosa, e como valeu a pena ter dedica a vida à Igreja e à comunidade.
— No leito de morte, ao fechar os olhos, ele disse assim: “Eu me sinto como uma folha seca levada pelo vento”. É este abandono e confiança de uma entrega a Deus, de um esvaziamento de si para se colocar nas mãos de Deus, isso que ele deixou como mensagem — conclui o padre.
O segundo bispo deixou a diocese em 1994, e morreu em janeiro de 1997, vítima de um câncer. Os restos mortais dele repousam na cripta da Catedral de Joinville.