Durante três horas, na manhã desta sexta-feira, o Instituto Geral de Perícias de Santa Catarina (IGP/SC) reconstituiu em oito diferentes versões o atropelamento que deixou um jovem morto e outros dois feridos na rodovia SC-402, que dá acesso ao bairro Jurerê, no Norte da Ilha, na manhã de 6 de agosto.

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A simulação, que não teve a participação do principal suspeito de causar o acidente, Sérgio Orlandini Sirotsky, 21 anos, indiciado por homicídio simples e lesão corporal, reproduziu o que dizem os sobreviventes, pessoas que passavam pelo local no dia dos fatos e passageiros de um ônibus que também transitava na rodovia quando do atropelamento. Agora, o IGP terá 10 dias, prorrogáveis por mais 10 ao menos, para entregar o laudo da reconstituição ao delegado Otávio Cesar Lima, titular da 7° DP de Florianópolis, responsável pelo caso.

A reprodução simulada dos fatos ocorreu nas proximidades do complexo Music Park, no norte da Ilha. O atropelamento causou a morte de Sérgio Teixeira da Luz Júnior, 23 anos, e feriu Rafael Machado da Cruz e Edson Mendonça de Oliveira.

Tanto Rafael como Edson participaram da simulação, e ambos relataram não lembrar com exatidão como tudo aconteceu, já que os dois foram arremessados na rodovia com a violência do choque. As testemunhas, porém, puderam reproduzir a posição de cada um no acostamento no momento em que foram atingidos e o que antecedeu a batida. Para o delegado Otávio, as peças do quebra-cabeça tendem a encaixar melhor com a reprodução do ocorrido, mesmo que a versão de Sérgio Sirotsky não tenha sido reproduzida.

— Ele (Sérgio Sirotsky) não compareceu porque a defesa fez uma petição comunicando ao juízo que não viria, e a Justiça aceitou. Assim, não reproduzimos a versão do indiciado, já que ele foi o primeiro a depor e deu um depoimento muito vago, sem que eu pudesse confrontá-lo com outras questões. Mas, agora, eu vou reinquiri-lo novamente, para ouvi-lo de novo. Com esse novo depoimento, e os laudos do IGP, vou acrescentar essas informações ao inquérito para leva-lo ao Ministério Público (MP/SC — explica o delegado Otávio, que mesmo já tendo indiciado Sérgio Sirotsky, pediu à Justiça – que concedeu – a dilação de prazo para juntada de novas provas.

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IGP vai pedir prorrogação do prazo de 10 dias para entregar laudo pericial

O promotor Andrey Cunha Amorim, que espera o inquérito no MP/SC para decidir se oferece ou não denúncia criminal contra Sérgio Sirotsky, disse à reportagem esperar tomar uma decisão sobre o caso ainda neste ano, caso a peça chegue para ele antes do recesso do judiciário, após a metade do mês de dezembro. Isso, no entanto, ainda não é certo que acontecerá, já que o IGP informou, na manhã desta sexta-feira, que o prazo de 10 dias para concluir o laudo pericial terá que ser prorrogado, talvez até por mais de 10 dias. Isso porque além do laudo da reconstituição, o IGP também produzir o laudo no Audi A3 conduzido por Sérgio Sirotsky e de outro veículo envolvido no acidente.

O advogado Nilton Macedo Machado, que defende Sérgio Orlandini Sirotsky, disse que seu cliente não compareceu à reconstituição do atropelamento em Jurerê “porque não é obrigado a produzir provas contra si mesmo e tem o direito constitucional de permanecer calado, e que nem é o caso, já que ele colaborou prestando depoimento”.

Macedo Machado disse ainda que comunicou à Justiça e ao delegado esses motivos, e que Sérgio Sirotsky mantém a versão dada em depoimento: de que não se lembra do que aconteceu. O advogado também questiona o horário da reconstituição, às 9h, já que o atropelamento ocorreu antes das 6h, quando ainda estava escuro. Ele acredita que esse fator prejudica a reconstituição.

O delegado Otávio, confrontado com esse entendimento de Macedo Machado, afirmou que no momento do acidente havia bastante trânsito na SC-402, já que era saída de balada no Complexo Music Park, e acredita que a reprodução “alcançou realidade parecida com a daquele dia”.

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O acidente

Quatro pessoas foram atropeladas por dois carros diferentes em intervalo de minutos na manhã de domingo, 6 de agosto, na rodovia SC-402, que dá acesso ao bairro Jurerê, no Norte da Ilha de Santa Catarina. Segundo informações da Polícia Militar Rodoviária (PMRv), o acidente aconteceu por volta das 5h30min próximo ao complexo Music Park. As vítimas saiam de uma festa no local e três delas, que foram atropeladas primeiro, se preparavam para ir embora em um veículo da Uber.

Sérgio Orlandini Sirotsky dirigia um Audi A3 quando atingiu as vítimas. Ele deixou o local do acidente e abandonou o veículo na SC-401. Acompanhado de um advogado, se apresentou à polícia três dias depois e prestou depoimento. Conforme o delegado, o motorista disse estar sozinho no carro e admitiu ter ingerido bebida alcoólica antes da colisão. Falou que teve um “apagão” no momento da batida, que o impacto foi forte e não percebera em que havia se chocado. Também relatou ao delegado que parou o veículo, mas ouviu gritos e muitas pessoas em sua direção, o que o teria motivado a fugir do local.

O motorista de outro veículo, que se envolveu em outro atropelamento no mesmo local após o que envolveu Sérgio Sirotsky, tem seu caso apurado em outro processo que, na semana passada, foi apensado ao de Sirotsky.