Assistir aos lançamentos nos cinemas é uma tradição entre muitos moradores de Joinville. A cidade recebeu o primeiro cinema em 1943, no prédio do antigo Teatro Nicodemos, construído em 1917. A partir daí, outras salas foram inauguradas – como o Cine Colon que sucumbiu às chamas em 1983, após um curto-circuito em um disjuntor – especialmente a partir da instalação dos shoppings centers na cidade. Mesmo assim, tem gente que, mesmo com quase a mesma idade que data a inauguração do primeiro cinema de Joinville, nunca havia assistido a filmes em suas salas escuras.
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Na última semana, dois grupos se reuniram para um passeio diferente. Ao todo, 40 idosos da área rural de Joinville foram assistir ao filme Rei Leão no cinema, em um shopping da cidade; muitos deles, pela primeira vez. Uma delas foi a aposentada Luíza Bressanini Winter, de 73 anos.
Luíza nasceu em Luiz Alves, na região Norte de Santa Catarina. Aos 18 anos ela casou-se, morou em Gaspar e, aos 24, veio a Joinville. Luíza mora sozinha na região da Dona Francisca, mas trabalhou durante muitos anos na roça, com cana-de-açúcar. Ela só ia a Joinville quando precisava ir ao médico ou para fazer algumas compras. Há dois anos, a aposentada começou a fazer parte do grupo de idosos. Quando recebeu o convite para ir ao cinema, Luíza não pensou duas vezes.

– Pelo menos uma vez na vida eu tenho que ir, né? Não posso morrer antes de ir ao cinema – brinca ela – e quando eu soube que era desenho, eu não pude recusar; eu amo desenho.
Entre os idosos tinha até mesmo quem não ia ao cinema há, pelo menos, 30 anos. O casal Ivone Lichtenberg Alexandre (65) e Gregório Alexandre (74) estava lá para relembrar os anos. Ivone conta que eles iam com frequência ao cinema, mas, com a chegada da televisão, acabaram se acomodando em casa e passaram a não sair mais com regularidade.
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O último filme que Gregório assistiu foi, inclusive, o primeiro que a filha, Josiane Lichtenberg Alexandre, viu no cinema quando ela tinha cinco anos: Os Trapalhões e a Árvore da Juventude. A família foi ao antigo Cine Palácio, na região central de Joinville que, hoje, tem seu prédio alugado.

Junto da filha, que hoje tem 38 anos, e dos dois netos, Gregório e Ivone não esconderam a empolgação em sentar novamente nas poltronas para acompanhar a trama.
– É legal fazer algo diferente assim – diz Gregório – até pensei em ir lá lutar com o leão – brinca.
Além da animação, o casal também pontuou a evolução do cinema.
– Antigamente era mais simples, agora é muito mais moderno – completa Ivone.
Distração na melhor idade
Os grupos de idosos participam do programa de valorização e integração cultural, que funciona desde 2014. Eles se encontram semanalmente em duas localidades: o grupo Vida, na Unidade de Desenvolvimento Rural (UDR), em Pirabeiraba; e o grupo Canto da Alegria, na Estação da Saúde, no bairro Vila Nova. O principal objetivo é trabalhar com a inclusão tanto de pessoas da terceira idade, como com quem possui deficiência e que mora na área rural.
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Segundo a assistente social Jaqueline do Rocio Alves Coelho, responsável pelos grupos, os passeios permitem que os idosos conheçam outras áreas da cidade.
– Assim eles podem sair um pouco da área rural e ver as outras coisas belas que há em nossa cidade, além da integração com outros grupos de idosos – explica.
A ideia para o passeio ao cinema surgiu no ano passado. A equipe contou com o apoio da coordenação do shopping e da Prefeitura de Joinville, por meio da Secretaria da Cultura, que ofereceu ônibus para o transporte dos idosos do bairro Vila Nova. Já os de Pirabeiraba foram por meio de caronas solidárias. Eles também receberam um combo com pipoca e refrigerante ou água enquanto prestigiavam o filme.
– É bem interessante essa oportunidade de trazê-los ao cinema já que muitos estão vindo pela primeira vez com quase 80 anos de vida. Isso é bem gratificante para a gente porque é uma experiência nova pra eles – completa ela – e está sendo bem divertido, você pode ver no rostinho deles como estão amando.
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