José Silveira acorda praticamente junto com o nascer do sol, embora não tenha que bater cartão num emprego fixo. Quando os habitantes de Santo Amaro da Imperatriz começam a se mexer para as atividades diárias, ele já correu sete quilômetros na Beira-Rio, fez aula de ginástica com a mulher e botou o papo em dia com os colegas. O ex-professor de Ciências também é bastante ativo na comunidade, atuando como presidente da Academia de Letras e da Associação de Bombeiros Voluntários, participando de campeonatos esportivos, bailes e outras atividades que seriam um sofrimento para os mais sedentários. Tudo isso seria muito comum se não fosse um pequeno detalhe: Zezinho, como é conhecido entre os mais próximos, tem 78 anos de idade.

Continua depois da publicidade

Silveira não é o único idoso da cidade que prefere combater a ferrugem com uma rotina agitada ao invés de ficar sentado em casa reclamando de dor nas costas. Apontada como a 11ª no ranking nacional de longevidade no Atlas do Desenvolvimento Humano 2013, a expectativa de vida no município é de 78,4 anos. Santo Amaro tem pelo menos 400 pessoas inscritas em dez grupos voltados a maiores de 60 anos, todos coordenados pela professora e gerontóloga Sirley Eller Della Rocca.

– Nem todos gostam de se mexer, não. Tem um outro lugar aqui perto conhecido como a “Praça do Mata-Velho”, onde está cheio de velho deprimido – brinca Silveira enquanto se exercita no equipamento instalado ao do Centro de Convivência da Terceira Idade.

É impossível ignorar o quanto as aulas de Sirley chacoalham a rotinas dos velhinhos de Santo Amaro. Lá, eles cantam, dançam, fazem exercícios, se abraçam, conversam e se divertem. A professora contratada pelo município comanda grupos parecidos em vários bairros desde 1996, quando ainda fazia pós-graduação em Gerontologia na Udesc.

– É diferente trabalhar com idosos porque eles têm muita vontade de aprender, nada é chato, tudo é interessante – explica a professora.

Continua depois da publicidade

Foto: Guto Kuerten/Agência RBS

De fato, na manhã em que a reportagem acompanhou a aula no Centro de Convivência, o que mais se viu foi animação. Nenhum dos 30 idosos que participavam da aula reclamou da alteração na rotina, e o fotógrafo do DC suou a camisa para conseguiu atender todos os pedidos de “Tira uma foto minha”. Dois dos velhinhos, inclusive, perguntaram como podiam conferir a reportagem na internet – algo no mínimo surpreendente para alguém beirando os 70 anos. Dona Terezinha Della Rocca, mãe do marido da professora e integrante do grupo de ginástica, resume o pensamento dominante no grupo da maneira mais simples possível:

– Pra quê pensar adiantado na morte? O importante é viver bem. Há sete anos, quando tive um câncer no estômago, sequer contei para o grupo que ia fazer cirurgia para evitar que todos ficassem impressionados com aquilo ou sentindo pena de mim – relembra Terezinha Della Rocca, aluna e sogra de Sirley.

Lista de longevidade bota catarinenses no topo

O Atlas elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) a partir dos dados do Censo de 2010 coloca 12 cidades de Santa Catarina entre as 20 com maior expectativa de vida do país inteiro. Quatro delas ficam na Grande Florianópolis: Rancho Queimado (5º lugar), Nova Trento (9º), Santo e Amaro da Imperatriz e Antônio Carlos (empatados na 11ª posição).

Foto: Guto Kuerten/Agência RBS

No Brasil, as pessoas com mais de 60 já ultrapassam os 20 milhões. O Caderno Continente entrou em contato com as prefeituras das cidades citadas no ranking. Confira abaixo os motivos que cada uma dá para o alto índice de expectativa de vida, e entenda como elas lidam com seus idosos: ?

Continua depois da publicidade

:: Rancho Queimado – 78,59 anos

:: 5º lugar no ranking

“O idoso aqui vive melhor porque é uma cidade pequena, sem problemas de trânsito, criminalidade ou barulho. Nós temos três grupos para idosos em distritos diferentes, e lá são desenvolvidas atividades que vão desde o bordado até viagens para outras cidades, piqueniques e cafés coloniais. Uma das principais ações do município é a festa anual voltada aos mais velhos, sempre feita numa região diferente da cidade.

ASTRID MACHADO – Secretária Municipal de Turismo e Cultura de Rancho Queimado

:: Nova Trento – 78,43 anos

:: 9º lugar no ranking

“Nós temos cerca de 300 idosos bem ativos em Nova Trento, que participam de quatro grupos diferentes. O maior, no centro da cidade, se reúne duas vezes por semana para atividades, como bingo, dança e artesanato. Estas são atividades conjuntas entre vários setores e por isso a saúde também está sempre presente, seja com medições de pressão ou com fisioterapia e dicas de exercícios”.

ADAUTON RAULINO – Secretário Municipal de Bem Estar Social e Habitação de Nova Trento

:: Antônio Carlos – 78,40 anos

:: 11º lugar no ranking

“Não acho que tenha um fator decisivo para que Antônio Carlos tenha uma alta expectativa de vida, mas o fato de ser uma cidade tranquila ajuda bastante. Temos vários grupos de idosos com monitores e educadores especializados, e a Prefeitura disponibiliza um ônibus para eles fazerem passeios. Eles costumam ir a encontros, fazer turismo religioso, participam de ‘matinês’, enfim, é uma população bem ativa”

JAISSON BASEI – Secretário de Turismo, Esporte, Indústria e Comércio de Antônio Carlos