Isolada em casa desde março de 2020, Jeannette Salerno, 84 anos, passou a anotar quantos dias ficou sozinha. Segundo seus cálculos, anotados em um calendário feito com folhas de fichário, já são mais de 300. A moradora de Florianópolis teve como companhia a televisão e as cruzadinhas. Ansiosa pela vacina da covid-19, ela não vê a hora de abraçar os filhos, netos e a bisneta que encontra somente por chamada vídeo. Diz não querer viajar, nem ir para muito longe. Quer mesmo é sentir a brisa do mar:

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— Eu quero ir para a praia. Antes eu dizia assim: ‘que vento chato’. Agora eu digo ‘que vento abençoado’ — brinca sobre a mudança nos gostos após o isolamento.

Durante os meses de isolamento, Jeannette adaptou a vida. Para evitar sair até na hora de descer o lixo, ela amarrou uma corda na sacada do apartamento. Por ali, descia os resíduos diretamente para os funcionários do prédio onde mora, que os descartavam depois. As compras do mês também foram modificadas.

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A filha Debóra Vargas foi a encarregada de levar as compras até a mãe. A visita ficava restrita à porta do apartamento. A mudança na rotina de isolamento só aconteceu em dezembro, quando Jeannette começou a sentir sintomas físicos de tristeza. A filha passou então a isolar-se para fazer companhia à mãe.

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Jeannette faz parte do grupo que deve receber as primeiras doses da vacina contra a Covid-19 que chegarem a Santa Catarina. A vacinação, anunciada para começar na próxima semana pelos membros da Frente Nacional dos Prefeitos (FND) após reunião com ministro da saúde Eduardo Pazuello, imunizará em um primeiro momento idosos com mais 75 anos e os que vivem em asilos e instituições psiquiátricas.

Para o geriatra Roberto Esmeraldino, a vacinação é fundamental para a prevenção de doenças. No caso da Covid-19, esclarece o médico, a imunização tem início nos idosos pelo maior risco de agravamento em caso de infecção. 

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— Os idosos com mais de 75 anos são idosos, em geral, mais frágeis, com mais comorbidades, que quer dizer doenças associadas e que se adquirem a Covid-19 podem ter casos mais graves da doença. […] O mesmo acontece com os idosos institucionalizados, que, em sua maioria, são mais frágeis — afirma Esmeraldino. 

Idosos são 79% dos mortos por Covid-19 em SC 

A primeira morte causada pela Covid-19 em Santa Catarina foi a de um morador de uma casa de repouso em Antônio Carlos, na Grande Florianópolis. Ao menos outros três idosos, que moravam no mesmo local, faleceram com a doença.

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Em Palmitos, no Oeste de SC, outros três idosos que moravam no Núcleo de Profissionais Amigos dos Idosos (Nupai) também morreram pela Covid-19. A instituição chegou a ter 16 internos e quatro funcionários infectados.

O índice de idosos mortos pela Covid-19 em Santa Catarina representa 79% do total de óbitos. São 4.587 vítimas com mais de 60 anos até a tarde desta sexta-feira (15). Ao todo, o coronavírus já matou 5.794 pessoas no Estado.

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Para evitar o agravamento deste cenário, o geriatra explica que a prioridade na aplicação da vacina nos idosos deve ser mantida mesmo que os imunizantes sejam oferecidos pela rede particular. A justificativa, em sua visão, é que haverá uma corrida pela vacinação. Tal fato pode ocasionar a falta da vacina na rede privada aos mais vulneráveis. 

— Na minha opinião, a prioridade deveria seguir a mesma ideia da área pública. As clínicas de vacinação privada podem ter a vacina como tem para outras doenças, mas deveriam prioritariamente vacinar os mais velhos e as pessoas que trabalham na área da saúde.

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A Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (ABCVAC) negocia a compra da vacina Covaxin para a ampliação da cobertura vacinal. O imunizante, desenvolvido pela Bharat Biotech, teve autorização para uso emergencial na Índia, país onde ele é produzido. Não há uma liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a utilização no Brasil.

Vacinação em quatro etapas 

Santa Catarina tem uma população de 1,1 milhão de idosos, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Anual (PNAD) feita em 2019. O plano de imunização do governo estadual estima vacinar 2 milhões de pessoas, entre estas, os idosos.

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Num primeiro momento, devem ser imunizadas 426.678 mil pessoas. Idosos com idade entre 60 e 74 anos devem ser o segundo grupo a ser vacinado, com a estimativa de aplicar doses em 844.644 mil cidadãos.

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A terceira e quarta etapas vão imunizar pessoas com comorbidades, professores, agentes da forças de segurança e salvamento, além de funcionários do sistema prisional. 

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A data de início da imunização foi anunciada na quinta-feira (14) por prefeitos que participaram de uma reunião com o ministro da saúde, Eduardo Pazuello. Prevista para 20 de janeiro, ela depende da liberação do uso emergencial dos imunizantes CoronaVac e AstraZeneca e da chegada de doses trazidas da Índia. 

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