A data é dia 30. Mas a festa se estende até cinco de janeiro. Vai ter música, dança e comida típica. Não importa a idade. Todo mundo quer estar na maior elegância. A senhorinha também. Como se aproxima dos 94 anos, tem ajuda de mulheres que pela idade poderiam ser suas filhas, netas, bisnetas. Como Idalice Sena Nery dos Santos, 38 anos, sua maquiadora.

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Todas se admiram da história dela, que se aposentou aos 56 anos. Cedo para os dias de hoje. Mas a verdade é que trabalhou muito, desde que nasceu em 13 de maio de 1926. Se hoje está velhinha, é bom que os mais jovens saibam: foi ousada para a época! Até que o tempo, o implacável senhor do qual nenhum vivente escapa, passou. A idade chegou, e também a doença. Os primeiros sinais começaram na década de 1960. Em 1967, sofreu um baque: a irmã gêmea não aguentou a fadiga. Mergulhou para o fundo do Rio Ohio, nos Estados Unidos. O susto serviu de alerta. Ninguém desejava o mesmo destino para “dama de ferro catarinense”.

Depois das plásticas, a cirurgia definitiva

Precisou se tratar. Passou por algumas operações plásticas. Mas, como as aparências enganam, teve que se submeter a um longo tratamento: do esqueleto, como se diz, às entranhas mais profundas. Espera-se que agora seja a última e definitiva cirurgia.

Ah, tem algo que faz parte da sua memória e que precisa ser lembrado, um apagão, em 29 de outubro de 2003. Quem ouve suas histórias se encanta. Todos concordam que nasceu talhada para desempenhar uma tarefa importante, aproximar as pessoas. Independente do lugar onde viviam.

Dá pra dizer que abraçou Continente e Ilha. Fez mais do que abraçar, soube unir sua gente. Idalice é uma das que cuida da velha senhora. Sim, como carinhosamente é chamada a majestosa Hercílio Luz.

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Ao todo são 39 mulheres, sendo que oito trabalham diretamente na ponte. Elas têm de 17 a 59 anos. O Sul é a região com maior representação, quase metade com 48,72 do total. Em seguida surgem as nordestinas. Trabalhadoras do Norte e do Sudeste vêm atrás. Idalice é ex-agricultora, mãe duas vezes e veio de longe. Chegou a Florianópolis em fevereiro do ano passado. A família vive em Belém do Pará, mas por causa da profissão estava em Vitória. Ela é pintora de estrutura metálica e trabalhava em plataformas usadas para exploração do petróleo.

Pés nas águas frias do canal

Idalice
(Foto: Christian Monteiro Viana/Secom/Divulgação)

Acostumada a lidar com obra naval, a paraense se impressionou ao chegar. A dimensão da ponte, com 819 metros de comprimento e pesando cinco mil toneladas de aço, surpreendeu. Assim como o fato de ter nascido pênsil, a 30 metros acima do nível do mar, e “com os pés” concretados nas águas frias do canal.

Um relato sempre chama a atenção: a queda da irmã gêmea, a Silver Brigde, que despencou por corrosão. No Pará, as pontes são bem diferentes. A alça viária de Belém é um complexo de pontes e estradas com 74 quilômetros de extensão e quase cinco quilômetros de ponte. Idalice e outras mulheres pintam vigas.

Algumas fazem rapel para que não escape nenhum detalhe:

— Já trabalhei em vários estados, mas nunca vi uma ponte como a Hercílio Luz, que é belíssima.

Com a experiência de quem está na quarta empreitada de grandes obras, Idalice faz um comparativo entre a velha senhora e a vida de mulher:

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— Sou daquelas que só me apresento pros outros quando estou arrumada, me sentindo bonita. Com a ponte tem que ser assim, deixar ela bem linda para o povo.

E sugere:

— Não tem nada igual a esta aqui.

Idalice tem razão. É linda sempre a Hercílio Luz. Em nublado ou muito azul; em lestada ou calmaria. Por isso, como na homenagem do filho ilustre Luiz Henrique Rosa, é considerada eterna joia. Todos sabem disso, negro, brancos, Carijós. Agora até a paraense Idalice, que tem ascendência indígena.

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