Os ativistas da ICAN receberam neste domingo o Nobel da Paz em uma cerimônia em Oslo com um alerta: a destruição da humanidade pode depender apenas do fato de alguém perder a paciência, em um momento de crise na Coreia do Norte.

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“Será o fim das armas nucleares, o acaso será nosso próprio final?” questionou Beatrice Fihn, diretora da Campanha Internacional para a Abolição das Armas Nucleares (ICAN), durante a cerimônia do Nobel em Oslo.

A ICAN, que reúne quase 500 ONGs em mais de 100 países, alerta há vários anos para o perigo das armas nucleares. A campanha recebeu o prêmio na presença de vários sobreviventes dos bombardeios americanos de Hiroshima e Nagasaki, que deixaram 220.000 mortos há 72 anos.

A entrega do Nobel aconteceu em um momento de tensão na península coreana, o que alimenta os temores de uma guerra. Pyongyang multiplicou nos últimos meses os testes nucleares e lançamentos de mísseis. Kim Jong-Un e Donald Trump trocaram ofensas e ameaças. O presidente americano ordenou manobras militares na região.

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“A maneira racional de proceder é deixar de viver em condições nas quais nossa destruição dependa apenas do fato de alguém perder a paciência”, disse Fihn, antes de pedir ao mundo que abandone as armas nucleares.

A ICAN conquistou uma grande vitória em julho, quando a ONU aprovou um novo tratado que as proíbe as armas nucleares.

O documento, aprovado por 122 países, apesar da oposição das nove potências nucleares, pode demorar anos para entrar em vigor, pois precisa ser ratificado por pelo menos 50 signatários.

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Até o momento apenas três países – Santa Sé, Guiana e Tailândia – ratificaram o tratado.

Apesar disso, “a principal mensagem da ICAN é que o mundo nunca será seguro enquanto tivermos armas nucleares”, disse a presidente dp comitê Nobel, Berit Reiss-Andersen, em seu discurso de entrega do prêmio.

“A ameaça de uma guerra nuclear é agora a maior em muito tempo, sobretudo devido à situação na Coreia do Norte”, completou.

Em sinal de aparente desconfiança, as potências nucleares ocidentais (Estados Unidos, França, Reino Unido) não enviaram – ao contrário do que é habitual – seus embaixadores à cerimônia do Nobel, e sim diplomatas de segundo escalão.

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Para estas potências nucleares, a arma atômica é um instrumento de dissuasão que permite evitar conflitos e não pode ser deixada de lado.

Entre os sobreviventes dos bombardeios nucleares estava Setsuko Thurlow, 85 anos, que recebeu o Nobel em nome da ICAN ao lado de Fihn.

Satsuko Thurlow tinha 13 anos quando a bomba A explodiu em Hiroshima no dia 6 de agosto de 1945. Ela assistiu a morte de milhares de pessoas e falou sobre o horror sofrido.

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“Foi o inferno na Terra”, à AFP em uma entrevista antes da cerimônia.

Atualmente, Satsuko Thurlow mora no Canadá.

Apesar da redução do número de ogivas nucleares no planeta desde o fim da Guerra Fria, atualmente existem 15.000 armas do tipo e cada vez mais países possuem o armamento.

“Nove nações ainda ameaçam incinerar cidades inteiras, destruir a vida na Terra, tornar inabitável o nosso belo mundo para as futuras gerações”, lamentou Thurlow

“As armas nucleares não são um mal necessário, são o mal absoluto”, concluiu.

Os demais prêmios Nobel (Literatura, Física, Química, Medicina e Economia) foram entregues em Estocolmo.

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* AFP