Migrantes em lágrimas foram surpreendidos nesta segunda-feira pelo fechamento por Budapeste da principal passagem de sua fronteira com a Sérvia, no momento em que os países europeus, reunidos em Bruxelas, tentam dar uma resposta à crise de refugiados que ameaça a livre circulação na Europa.
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Em Roszke, principal ponto de trânsito dos migrantes na fronteira sérvia, cerca de quinze policiais húngaros impedem a passagem, enquanto outros agentes instalavam arame farpado ao longo da estrada, segundo jornalistas da AFP.
Muitos migrantes vindos da Sérvia não puderam conter as lágrimas ao ver a passagem fechada. E, a partir de terça-feira, a Hungria deverá colocar em prática uma nova legislação destinada a tornar sua fronteira intransponível para os refugiados.
Enquanto isso, em Bruxelas, o ministro de Luxemburgo das Relações Exteriores, Jean Asselborn, alertou os líderes europeus.
“Se não reagirmos em conjunto hoje, a Europa será totalmente rasgada”, advertiu Asselborn, que preside o conselho extraordinário de ministros do Interior da UE dedicado à distribuição de refugiados.
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Divididos, os líderes devem examinar as medidas desenvolvidas na semana passada pela Comissão Europeia.
Eles concordaram com a decisão tomada em julho de dividir o acolhimento de 40.000 refugiados que se encontram na Grécia e na Itália. Mas as discussões se anunciam difíceis aos 120.000 suplementares.
‘Inação’ de Schengen
Depois da Alemanha, Eslováquia e Áustria anunciaram nesta segunda-feira o restabelecimento dos controles nas fronteiras ante o fluxo de dezenas de milhares de migrantes, suspendendo os acordos de Schengen sobre a livre circulação na Europa.
Vista como terra prometida pelos refugiados cada vez mais numerosos, que podem chegar a um milhão este ano de acordo com o vice-chanceler Sigmar Gabriel, a Alemanha justificou nesta segunda-feira a decisão de suspender a livre circulação na Europa pela “inação” da UE.
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Uma reviravolta do governo da chanceler Angela Merkel, que enfrenta problemas logísticos e o descontentamento de seu campo político, que aconteceu poucos dias depois de a chefe de Governo pedir a seus parceiros europeus para acolher os refugiados sem limite de número.
A decisão de Berlim foi acompanhada imediatamente por alguns países do leste europeu – Eslováquia e República Tcheca – que rejeitam há semanas a ideia alemã de cotas de distribuição de refugiados entre os 28 membros da UE, mas também pela Áustria, sob forte pressão.
Mais de 4.500 migrantes se apresentaram ao posto de fronteira de Nickelsdorf entre a meia-noite e as 06h00, e milhares de novas chegadas eram esperadas ao longo do dia, segundo a polícia.
O tráfego de automóveis foi interrompido na estrada por razões de segurança.
Alemanha no limite de suas capacidades
Ao amanhecer em Freilassing, cidade bávara na fronteira com a Áustria, longos engarrafamentos se formaram, passaportes e veículos são agora controlados pela polícia, que direciona os refugiados diretamente aos centros de acolhimento.
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Durante a noite, a polícia prendeu um traficante que transportava oito sírios em sua van.
A capital da Baviera, Munique, está próxima da saturação, com 63.000 refugiados que chegaram em duas semanas pelos Bálcãs e Europa Central. Pelo segundo fim de semana consecutivo, a cidade enfrentou a chegada de cerca de 20.000 demandantes de asilo, alguns dos quais tiveram que dormir ao relento por falta de abrigos.
“A inação europeia na crise de refugiados levou a Alemanha ao limite da sua capacidade”, alertou o vice-chanceler democrata Sigmar Gabriel.
O problema “não é principalmente o número de refugiados, mas a velocidade com que eles chegam”, disse.
Gabriel também estimou que a Alemanha pode ter que receber “um milhão” de migrantes em 2015, embora o ministério do Interior alemão tenha anunciado uma estimativa de 800.000 chegadas.
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No entanto, a decisão de restabelecer controles em suas fronteiras não significa que a Alemanha tenha fechado as portas aos demandantes de asilo e aos refugiados, garantiu nesta segunda-feira o porta-voz da chanceler Angela Merkel.
O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados advertiu contra “um vácuo jurídico” para os refugiados na Europa com a multiplicação das medidas adotadas isoladamente pelos Estados, e ressaltou a “urgência de uma resposta global europeia” à crise.
A Comissão Europeia considerou que a suspensão do espaço Schengen “ressalta a urgência” de se chegar a um plano de distribuição europeu. Mas nada poderia ser menos certo.
A crise migratória, impulsionada pelas guerras e pela miséria em Oriente Médio e África, não dá sinais de desaceleração.
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Antes da reunião de ministros da UE, os ministros alemão e francês se reuniram com seus colegas italiano, grego e húngaro, bem como com um membro da Comissão e da presidência de Luxemburgo.
A França e a Alemanha “têm exercido pressão sobre os italianos, gregos, húngaros especialmente para que implementem ‘hotspots”, centros de acolhida para uma separação entre refugiados e migrantes ilegais, segundo uma fonte europeia.
A UE anunciou que recorrerá, a partir de outubro, à força militar contra os traficantes, como parte de sua operação naval no Mediterrâneo.
* AFP