Na investigação própria que fez sobre o incêndio da Kiss, a Brigada Militar manteve imaculada a porção da tropa que mais credibilidade tem junto à população: os bombeiros. O Inquérito Policial Militar (IPM) acumulou quase 7 mil folhas e concluiu que não houve omissão de socorro por parte dos bombeiros que estiveram no palco da tragédia-mor da história gaúcha.
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Confira como foi a divulgação do IPM no Comando-Geral da Brigada
Conforme o coronel Flávio da Silva Lopes, que chefiou as averiguações, 12 bombeiros compareceram ao local e se dividiram em três tarefas: manusear os caminhões e equipamentos, combater o fogo e salvar pessoas.
– Se não tivessem ficado com a mangueira aspergindo água em spray e nem aberto buracos no teto e nos fundos da boate, muito mais pessoas teriam morrido. Ninguém teria conseguido entrar para fazer resgate. E vários bombeiros, inclusive um de folga, ajudaram nos resgates – pondera o coronel, ao justificar porque nenhum PM foi indiciado por omissão de socorro.
As conclusões do IPM são bem diferentes das da Polícia Civil. Em março, o inquérito criminal feito por policiais civis recomendou que sete bombeiros fossem processados pela Justiça Militar por falhas na prestação de ajuda às vítimas e no combate ao incêndio na Kiss. Os policiais concluíram que esses militares teriam cometido homicídio culposo (por atos de negligência, imperícia e imprudência), ao não fazer tudo que poderiam e expor voluntários a risco mortal.
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Os voluntários ingressaram no local sem equipamento de segurança ou treinamento. Testemunhas dizem que pelo menos cinco pessoas que entraram para salvar os frequentadores da boate morreram, sufocadas pelos gases tóxicos emanados do fogo – embora o IPM tenha obtido provas da morte de apenas três desses socorristas improvisados.
A Polícia Civil concluiu que muitos desses voluntários entraram num lugar onde só profissionais poderiam entrar, com máscara. E que alguns bombeiros fizeram outros assumirem um risco que deveria ser de pessoas treinadas. Um dos testemunhos colhidos é de Elissandro Spohr, o Kiko, sócio da Kiss. Ele disse ter pedido uma máscara de oxigênio para um bombeiro para voltar dentro da boate, mas o equipamento lhe foi recusado.
Luciano Bonilha Leão, produtor da banda que tocava na danceteria na hora do incêndio, assegurou à polícia que muitas pessoas que fugiam da boate em chamas eram jogadas de volta para dentro da danceteria por jatos de água das mangueiras dos bombeiros. Isso caracterizaria imperícia dos bombeiros.
O IPM descartou culpa dos bombeiros nesses episódios. Conforme o major Emílio Barbosa Teixeira, assessor jurídico da investigação, muitos jovens socorristas burlaram a vigilância policial para entrar na Kiss.
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– Estavam em uma situação de guerra. PMs ainda formaram um cordão de isolamento para impedir que muitos jovens entrassem, mas é difícil impedir que alguém tente salvar vidas.


