Chapo Guzmán já era o bicho-papão do México quando lá desembarquei em setembro de 2009, enviado por Zero Hora para cobrir a guerra entre os cartéis de droga daquele país. Capo do Cartel de Sinaloa, na costa do Oceano Pacífico, ele estava no auge. Tentava tomar o controle do submundo em Ciudad Juárez, a mais lucrativa praça de comércio de entorpecentes na América do Norte – isso por sua privilegiada localização, em meio a um oásis que divide com a cidade de El Paso, no Texas (EUA).
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Com 1,5 milhão de habitantes, tamanho idêntico ao de Porto Alegre, Juárez vivenciava naquele ano taxa de homicídios sete vezes maior. Era de 130 mortes por 100 mil habitantes, a cada ano, maior proporção na América (quiçá no planeta inteiro).
Pois grande parte dessas mortes era atribuída a Chapo Guzmán, agora na cadeia. Dias antes de eu desembarcar, o fotógrafo que me acompanhou lá, o mexicano José Luis González, documentou uma cena estarrecedora: três cabeças cortadas e colocadas sobre bancos de plástico, em frente à prefeitura de Ciudad Juárez. Atrás delas, cartazes que alertavam:
– Isso é o que vai acontecer com todos que nos buscam, os seguidores de Chapo. Assinado: La Línea.
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Para quem não sabe, La Línea (A Fronteira, na gíria mexicana) é um dos nomes pelos quais é conhecido o Cartel de Juárez.
Na primeira noite em que acompanhei a rotina dos policiais de lá, 17 pessoas foram assassinadas. Ao cabo de cinco dias, documentei 60 assassinatos – inclusive chacinas envolvendo gente sem antecedentes. Apenas estavam no lugar errado, na hora errada, próximos a bandidos. Dizem que a situação melhorou um pouco desde então e as taxas de homicídio caíram. Quem sabe a prisão de Guzmán ajude a conter essa guerra.