Os procuradores da Lava-Jato asseguram que as 53 buscas realizadas hoje são técnicas, como tudo na devassa das falcatruas envolvendo a Petrobras. Mas há algo de simbólico quando um ex-presidente tem todas as suas residências e até a TV que comanda revistadas. Ainda mais se o nome dele é Fernando Collor de Mello e ele saiu do poder pela porta dos fundos, expulso pelo Congresso num processo de impeachment.

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Apreenderam inclusive um Lamborghini, uma Ferrari e um Porsche pertencentes a Collor, atual senador por Alagoas.

Já contra o senador Ciro Nogueira o simbolismo é outro: ele é o presidente nacional do PP, o partido com maior número de parlamentares envolvidos na corrupção da estatal petrolífera (até agora…). Ao jogar seu peso contra esses dois, o Ministério Público Federal e a PF mandam um recado: não há apadrinhados. Tanto é assim, que o tesoureiro de outro grande partido, o PT, João Vaccari Neto, está preso há meses em Curitiba, por suspeita de lavar dinheiro oriundo da Petrobras.

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Contra o senador Collor (PTB-AL) existem indícios substanciais. Ele é suspeito de ter recebido R$ 3 milhões de propina em um negócio envolvendo a BR Distribuidora. A informação partiu do doleiro Alberto Youssef, delator da Lava-Jato, que teria repassado o dinheiro em diversas etapas. Em delação premiada, o doleiro disse que fez vários depósitos para Collor a pedido de Pedro Paulo Leoni Ramos, ex-ministro do governo Collor e dono da GPI Participações e Investimentos, empresa que fazia negócios com Youssef.

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Em uma busca realizada num dos escritórios de Youssef, a PF encontrou depósitos anotados para Pedro Paulo que somam R$ 50 mil, o que corrobora, em parte, as afirmações do doleiro. Collor, ao se saber investigado, atacou sistematicamente o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, acusando-o de ser parcial e de perseguição irracional. A investigação contra o ex-presidente é o Inquérito 3883/2015. Aliás, aos mais jovens aconselho: se quiserem saber mais sobre Collor, leiam o livro 1989 – A Maior Eleição da História, publicado neste ano pelo historiador gaúcho Rodrigo Aguiar.

Em relação a Ciro Nogueira (PP-PI), a Procuradoria Geral da República (PGR) se embasa em delações tanto de Alberto Youssef como de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, ligado ao PP. Eles dizem que o senador do Piauí assumiu a liderança do Partido Progressista numa rebelião contra o ex-ministro Mário Negromonte e que passou a exigir os repasses de propina oriundos da Petrobras.

Os dois mencionam reuniões em hotéis no Rio de Janeiro, para estabelecimento de percentuais de suborno. Nogueira controlaria a redistribuição dos valores a parlamentares do PP, inclusive vários gaúchos. Tudo é investigado na Petição 5260/2015.

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O menos destacado dos senadores que sofreram busca hoje é Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE). Conforme o delator Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, Bezerra pediu R$ 20 milhões para a campanha de reeleição do então governador Eduardo Campos (PSB-PE), que morreu num acidente de avião em 2014.

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Parte do dinheiro teria sido repassada pelo doleiro Alberto Youssef, que confirmou isso e disse que a propina era oriunda de superfaturamento nas obras da refinaria Abreu e Lima (em Pernambuco). A Lava-Jato, nesta terça-feira, atirou contra três lideranças nacionais de três partidos diferentes, inclusive um de oposição.

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CONTRAPONTOS

O que diz a defesa do senador Fernando Bezerra: o advogado André Callegari, que defende Fernando Bezerra, informa que o senador “manifesta sua confiança no trabalho das autoridades e continua à disposição para colaborar. Inclusive, fornecer os documentos que poderiam ter sido solicitados diretamente ao senador, sem necessidade de constrangimento. Bezerra aguarda o momento de seu depoimento e reitera a confiança no esclarecimento dos fatos”.

O senador Fernando Collor de Mello disse que as buscas foram invasivas e visam constrangê-lo. Ele desafiou a PGR a provar seu envolvimento em corrupção.

A defesa de Ciro Nogueira não se manifestou.