Popularmente conhecido como rótula do Tomio, o trevo da rua João Pessoa com a General Osório, no bairro da Velha, em Blumenau, ganhou uma nova paisagem. Às 10h desta quinta-feira foi inaugurada no local a obra urbana Embrião, do artista blumenauense Tadeu Bittencourt, que trabalha com arte há 30 anos. Produzida em aço corten, a estrutura de 2,80 metros de largura por cinco metros de altura chama a atenção pelas curvas e volumes crescentes de forma tridimensional. Esta é a segunda obra do artista instalada na cidade – ele tem outra erguida em frente ao Terminal da Fonte.

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Nas redes sociais, a repercussão não foi das melhores. Por acreditarem que a instalação foi financiada pela prefeitura de Blumenau, muitos internautas criticaram o trabalho, alegando que o dinheiro público deveria ser direcionado a outras prioridades. Porém, segundo Maria Terezinha Heimann, presidente do Instituto Artes Integradas de Blumenau e coordenadora do projeto, a escultura foi viabilizada pela iniciativa privada:

– De 2011 a 2013 fizemos a captação dos recursos com as empresas para possibilitar a instalação junto à Lei Rouanet. O único papel da prefeitura foi ceder o espaço para instalar a obra.

Três empresas participaram do processo: Link, de Pomerode; Eletro Aço Altona, de Blumenau; e DRBE, de Florianópolis. Segundo Maria Terezinha, o investimento total foi de R$ 49 mil. Mas as reclamações foram além dos recursos. No Facebook, o público criticou os traços, a forma e o sentido da arte de Bittencourt.

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Especialistas reforçam importância da arte contemporânea em espaços públicos

Para Mia Ávila, gerente do Museu de Arte de Blumenau, esta reação é comum, mas costuma ser passageira:

– Toda obra contemporânea provoca um estranhamento no primeiro momento. À medida em que as pessoas observam, passam a questionar e fazer uma leitura da imagem. Eu acredito que toda possibilidade de mostrar a produção artística da nossa região deve ser explorada. É importante que a gente forme esse público, essas pessoas mais atentas à leitura da obras.

A professora do curso de Artes Visuais da Furb Marilene de Lima Körting Schramm reforça a importância de a arte contemporânea invadir espaços públicos:

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-Sabemos que o acesso a arte é restrita e por isso poucas pessoas têm acesso. Levar peças para o ar livre é um trabalho muito importante e a arte contemporânea busca exatamente o estranhamento, instiga as pessoas para o novo. Provocar a sociedade, que nem sempre entende a proposta, é sem dúvida fazer as pessoas fruírem a arte. (Colaborou Pamyle Brugnago)

Entrevista: Tadeu Bittencourt, artista plástico

Como você se sente sabendo que o seu trabalho é visto diariamente por centenas de pessoas que passam pelo local?

Tadeu Bittencourt – É a intenção: levar a obra para a população. Ali no local da Velha, por exemplo, é interessante porque é uma rótula, as pessoas passam de carro e veem. Humanizar a comunidade também é importante e a arte faz isso pelos locais por onde passa. Blumenau carece muito disso. Eu fico feliz por ter obras minhas financiadas pela lei do incentivo à cultura, por contribuir com a cultura local. Nasci desenhando e pintando, então pra mim é um grande orgulho. Sou feliz, amo o que faço, acho meu trabalho interessante.

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De onde tira inspiração para criar?

Tadeu – Trabalho diariamente e por isso uso minha vida como inspiração. Não vivo de outra coisa, só de arte. As pessoas costumam me ver como um artista polêmico, por causa de trabalhos inusitados que eu fiz. Agora finalmente consegui trabalhar com um material mais sólido, mais tradicional. Mas é da vida que eu tiro a paixão.

Como enxerga a arte em Blumenau hoje em dia?

Tadeu – Blumenau é uma cidade que tem muito talento. Nesses 30 anos fazendo arte, vi que todos os artistas doam seus trabalhos para a comunidade. A universidade mantém cursos de arte, a Fundação Cultural dá cursos de arte, temos várias escolas de arte… Vejo isso em crescimento. Só acho que falta mercado. Nunca ninguém se preocupou com isso. Há talento, mas não há mercado.