Hugo Chávez teve no líder cubano Fidel Castro um mentor que o orientou desde sua ascensão política na Venezuela e que o ajudou nas adversidades, uma ajuda que o falecido chefe de Estado recompensou contribuindo no resgate da anêmica economia cubana às custas do petróleo e de subsídios.
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Durante duas décadas, Chávez e Castro foram amigos, aliados e confidentes, que se apoiaram incondicionalmente em política interna e externa, até o ponto de o venezuelano querer preparar o terreno para unir os dois países em uma federação, o que foi rejeitado por seus compatriotas em um referendo constitucional em 2007.
– Fidel é, para mim, um pai, um companheiro, um professor de estratégia perfeita (…) Nós dois temos que agradecer a vida por termos nos conhecido – admitiu Chávez em uma entrevista em 2005 ao jornal oficial cubano Granma.
O líder da revolução cubana reparou no tenente-coronel Chávez, 28 anos mais novo que ele, quando o venezuelano liderou em 1992 um frustrado golpe de Estado contra os velhos e desgastados partidos do país.
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O jovem revoltado passou dois anos na prisão e, ao sair, foi convidado pessoalmente a Havana por Fidel, que o recebeu aos pés da escada do avião como um chefe de Estado.
Desde o triunfo da revolução cubana, Fidel Castro havia prestado uma atenção particular à Venezuela por sua riqueza petrolífera e porque o presidente social-democrata Rómulo Betancourt havia se convertido na vitrine da Aliança para o Progresso, programa com o qual Washington procurava contrabalançar o contágio revolucionário cubano.
Cuba forneceu, então, ajuda militar às guerrilhas comunistas venezuelanas.
Para Cuba, “a Venezuela sempre foi muito atrativa em termos geopolíticos porque tem o que a ilha não possui: petróleo e energia”, explica à AFP o historiador e escritor Angel Lombardi, para quem o líder cubano não perdeu a oportunidade.
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– Fidel sempre apostou em aproveitar situações políticas em outros países para criar influência na região. E um golpista encaixava perfeitamente neste esquema – disse Lombardi.
A convergência ideológica não ocorreu imediatamente, mas Fidel aproveitou o fato de que Chávez “não tinha nenhuma formação e era um político que se acomodava às circunstâncias para atraí-lo”, afirma Lombardi.
Com a chegada ao poder do venezuelano, em 1999, os dois presidentes começaram a se ver com frequência, forjando uma aliança observada com muita atenção pela região e por Washington.
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A oposição conservadora venezuelana começou, por sua vez, a se inquietar, à medida que cresciam os rumores sobre a influência política de Castro em Chávez e os dois exibiam orgulhosos sua boa sintonia, disputando partidas de beisebol ou fazendo turismo pelo país petroleiro.
– Precisam multiplicar Chávez por 5.000, por 10.000, por 20.000 – declarou em uma ocasião o líder comunista, que cedeu a ele muito rápido as bandeiras do anti-imperialismo e o propulsou no cenário internacional como o novo líder da esquerda revolucionária.
A aposta de Fidel por Chávez foi retribuída rapidamente. Os dois assinaram em 2000 um convênio que segue em vigor e através do qual a Venezuela fornece hoje cerca de 130 mil barris diários de petróleo a condições preferenciais.
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Em uma Cuba comunista que sofria com a perda dos milionários subsídios da desaparecida União Soviética, a ajuda de Caracas, que se converteu em pouco tempo em seu primeiro sócio comercial, significou literalmente um resgate econômico.
Em 2003, Fidel foi novamente o ator necessário para um jovem presidente que acabava de sofrer um golpe de Estado frustrado e que temia a aproximação de um referendo revogatório de seu mandato.
O líder cubano o aconselhou a lançar as missões sociais de ajuda aos setores mais vulneráveis, com um impacto político imediato que o permitiu superar a consulta quando ela foi finalmente realizada, em 2004.
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Habitação, assistência médica, alimentos… Chávez mobilizou bilhões de dólares para levantar estes bem-sucedidos programas nos quais Cuba contribuiu de forma determinante e também lucrou com o envio de dezenas de milhares de médicos e de outros colaboradores.
Embora Fidel tenha se retirado do poder por motivos de saúde em 2006, sua aliança com Chávez se manteve intacta. Em 2012, o venezuelano foi reeleito nas urnas e inventou seu “socialismo do século XXI”, embora tenha cuidado para não associá-lo ao comunismo cubano, rejeitado inclusive entre seus partidários.
Os dois países continuaram desenvolvendo suas relações comerciais e montando negócios conjuntos. Caracas aprovou novos créditos e Havana enviou mais mão-de-obra, entre acusações da oposição venezuelana de que também despachava agentes secretos a serviço do presidente.
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O sigilo com o qual os dois governos administraram estes intercâmbios explica a falta de números oficiais sobre o valor, assim como os números da dívida cubana com o país sul-americano.
Em 2011, Fidel em pessoa informou a Chávez em Cuba de que sofria de câncer e os médicos cubanos começaram seu tratamento.
Durante os últimos meses de sua vida, nos quais passou tanto tempo na ilha comunista quanto em seu país, o presidente venezuelano ouviu mais uma vez os conselhos de seu mentor, que sempre recomendou que cuidasse de sua saúde.
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