Mal havia se acomodado na cadeira de presidente, no dia 2 de janeiro de 2003, Luiz Inácio Lula da Silva se ergueu para dar início a sua primeira audiência como chefe do Estado brasileiro: com um lauto café da manhã, ele abriu as portas do Palácio do Planalto para Hugo Chávez, que viria a ser um dos seus principais aliados.
Continua depois da publicidade
Ameaçado no poder, o líder venezuelano pediu apoio diplomático, financiamentos e combustível. Encontrou guarida junto a Lula. Era o cultivo de uma íntima relação, pautada pela “integração da América Latina”.
Na Venezuela, Chávez enfrentava havia um mês a greve geral convocada por siglas de oposição e empresários. O país estava paralisado, e a produção do petróleo, principal riqueza do país, havia despencado. Os desafetos do presidente venezuelano, que um ano antes haviam tentado um golpe militar, exigiam a renúncia ou a convocação de plebiscito para decidir sobre a continuidade do mandato.
Com o apoio diplomático do Planalto, o venezuelano suplantou a greve. Até abril de 2003, Chávez veio quatro vezes ao Brasil, encontrando-se com Lula em três ocasiões. O brasileiro contrariou os EUA, que eram simpáticos aos grevistas inimigos de Chávez. Também foram abertas linhas de crédito do BNDES, no valor de R$ 1 bilhão, para a Venezuela.
Antes da posse, em dezembro de 2002, a pedido de Lula e com o consentimento de Fernando Henrique Cardoso, 220 mil barris de gasolina do Brasil atracaram no país caribenho.
Continua depois da publicidade
Apoio do Brasil no Mercosul
Com mandato vigente até 2006, Chávez aceitou os conselhos de Lula – que sugeria um “acordo” com a oposição – e convocou um plebiscito em 2004. Com apoio da população, obteve o direito de permanecer no Palácio Miraflores.
A parceria se aprofundou. Em dezembro de 2005, em Pernambuco, os dois inauguraram a pedra fundamental da Refinaria José Inácio Abreu e Lima, binacional bancada pelas petrolíferas estatais Petrobras e PDVSA. O nome da refinaria, sugerido por Chávez, era uma homenagem ao general brasileiro que lutou ao lado de Simon Bolívar no processo de libertação da Venezuela.
Lula também foi o principal apoiador da entrada do país no Mercosul. E, junto com Chávez, liderou a criação da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). A relação de proximidade seguiu com o governo Dilma Rousseff, embora as afinidades pessoais da sucessora de Lula com o venezuelano fossem menos perceptíveis.
