Eleita aos 18 anos, em 2012, como vereadora de União do Oeste, no Oeste de Santa Catarina, Jayana Nicaretta da Silva, atualmente com 25, assumiu no começo de 2019 a Secretaria Nacional da Juventude do governo federal. A pasta está ligada ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, de Damares Alves.
Continua depois da publicidade
No início deste ano, Jayana foi uma pessoas que contribuiu para a campanha sobre a gravidez precoce lançada recentemente pelo governo. Além disso, ela é a responsável pela política pública voltada aos jovens brasileiros. Na entrevista a seguir, a secretária responde sobre as ações do governo para a juventude do país e as campanhas para jovens e adolescentes.
Confira a seguir:
Em um pouco mais de um ano trabalho, o que você encaminhou como projetos na secretaria?
Espaço 4.0, com certeza. Passamos o início de 2019 construindo esse projeto. Ele tem um foco em preparar os jovens para a quarta Revolução Industrial e para todas as mudanças que vão acontecer no futuro do trabalho. Mais de 40% das profissões vão deixar de existir em 20 anos, 62% das crianças, jovens e adolescentes vão trabalhar em profissões que ainda não sabem quais serão. Então, temos um desafio muito grande de preparar a juventude para as mudanças de mercado que vão acontecer. E a elaboração do Espaço 4.0 foi o nosso principal trabalho em 2019.
Continua depois da publicidade
Investimos R$ 8,5 milhões nesta política. Firmamos 22 pilotos que estão sendo feitos em quase todos os estados do Brasil. Alguns não conseguiram firmar o convênio por questões técnicas dos municípios, mas a ideia era fazer 27, um em cada estado. Dar o pontapé inicial nesse projeto foi a nossa maior marca em 2019. Foi o que nos deu maior respaldo e conhecimento para a secretaria, trabalhar essa questão da empregabilidade. Temos alguns desafios que andamos em 2019 e continuamos em 2020 trabalhando como sistema nacional de juventude, a política de prevenção à automutilação de suicídio de jovens. O projeto de lei que foi assinado pelo presidente, regulamentado agora, que torna a comunicação compulsória das escolas e das unidades de saúde das práticas de automutilação. Então, esses foram nossos principais objetivos em 2019.
Como o projeto 4.0 se aproxima do jovem na prática?
São espaços de qualificação elaborados a partir de uma política que já existe em alguns países. O Brasil tem alguns exemplares. É um espaço aonde o jovem vai para colocar a mão na prática e você tem desde as oficinas com trabalho mais bruto como prego, martelo e alicate, até os mais elaborados como a impressora 3D. A ideia é que o jovem aprenda a programar, se qualificar com novas competências.
Qual é a principal dificuldade que você tem enfrentado no trabalho com o jovem? Há muita resistência da juventude em ter políticas públicas próximas deles?
O principal pedido do jovem hoje é trabalho. Ele tem 2,8 vezes mais dificuldades em conseguir um emprego formal do que o não jovem. Então, o principal problema que a gente busca mitigar é o trabalho. A nossa dificuldade é conseguir comunicar com o público jovem que a partir de 17, 18 anos, não está mais na escola. A maioria deles também não está no ensino superior. Para a gente conseguir encontrar e se comunicar com esse jovem a gente tem uma certa dificuldade.
Continua depois da publicidade
Quando você tem crianças na escola, se comunicar com escolas é fácil. Você vai até escolas e faz trabalhos lá. Com jovens não é bem assim. Entre 20, 21, 25 anos, ele não está mais na escola, não está mais num ramo especial para que a gente possa se comunicar e fazer o engajamento desse jovem. Essa é uma das maiores dificuldades. E, sobre o trabalho, o governo federal lançou a carteira verde e amarela no final do ano passado. Estamos trabalhando na nossa função de articulação para que a medida provisória seja aprovada. É a única medida que o governo pode fazer para incentivar a contratação de jovens. É tirar alguns impostos para os contratados de 18 a 29 anos, é isso que a carteira verde e amarela propõe.
Ouvimos muita relação dos jovens sobre a entrada no mercado de trabalho. Ele começa como estagiário e sempre se pede algo a mais deles. Como enfrentar essa barreira?
A carteira verde e amarela é a maior iniciativa que a gente já viu para o público jovem na história do Brasil em relação à contratação de jovens. Fica 50% mais barato contratar os jovens do que não jovem. Ela tira cerca de 50% dos impostos para o empresário que contratar esses jovens. Justamente pela falta de experiência, que é a maior barreira que o jovem encontra para entrar no mercado de trabalho. O jovem continua com todos os direitos trabalhistas garantidos já na Constituição. Então, a gente precisa trabalhar muito pela aprovação dessa MP. É a única coisa de fato que o governo pode fazer porque quem gera emprego, quem contrata, é o setor privado. Não é o governo necessariamente que gera o emprego. E, se o governo pode tirar impostos para a contratação de jovens, isso o governo está fazendo.
Existe a preocupação grande de ter jovens qualificados para encarar o mercado de trabalho, mas também há um ponto preocupante no Brasil que é a evasão escolar. Como vocês pretendem enfrentar isso, apesar de ser um assunto mais ligado ao MEC, também impacta na secretaria, certo?
Continua depois da publicidade
Colocamos muita fé na reforma do ensino médio, que tem até o ano que vem para ser implementada pelos governos dos estados. Essa reforma será mais útil para que esse estudante saia do ensino médio técnico já com alguma qualificação para o mercado de trabalho. Precisamos trabalhar junto aos governos dos estados para que essa reforma aconteça da melhor forma possível.
E o ensino superior em si até aí tem um desafio da quarta revolução industrial. Cada vez menos as empresas vão contratar menos pelo currículo e pela formação superior e cada vez mais pelas competências desses jovens. E a evasão escolar no ensino fundamental e médio é um desafio, não só para o Brasil, mas para a América Latina num todo. Porque a gente tem a gravidez precoce como uma das principais causas da evasão escolar, a falta de incentivo dos pais. Nisso o bolsa-família entra. Para você receber o benefício, os filhos precisam estar matriculados na rede de educação. Algumas articulações como essa ajudam que o jovem se mantenha no ensino básico por mais tempo possível.

Como você acha que essa campanha lançada recentemente pelo governo federal sobre gravidez precoce, que é uma atribuição da secretaria da Criança e do Adolescente, mas que vocês têm participado, pode alterar esse cenário?
Nos últimos anos vêm caindo os números de gravidez precoce, mas a gente tem um desafio muito grande. E a campanha foi um sucesso em relação à repercussão que teve. Todo mundo opinou sobre o assunto. Então, a gente considera uma vitória. Seja criticando ou apoiando a campanha, você estimular este debate já é uma vitória. Tivemos uma mídia gratuita que se fosse pagar, faltariam recursos para o governo federal.
Continua depois da publicidade
Porque a campanha esteve veiculada em programas como o Fantástico, como a Fátima Bernardes, enfim. Ela teve uma repercussão enorme. Isso foi muito positivo para a campanha. Aí, você encontrou os críticos, mas também os apoiadores. Mas o mais importante é que o debate foi estabelecido. Todo mundo passou a pensar sobre o assunto. Ele foi foco das rodas de debate por um tempo. Isso já é um ponto positivo da campanha. No geral, ela tem que trabalhar junto com as outras campanhas que o Ministério da Saúde já faz. O incentivo ao uso do preservativo. Agora vem o Carnaval, o ministério da Saúde já tem uma campanha encaminhada nesse sentido.
E qual foi o papel da secretaria na campanha? Quais as sugestões e encaminhamentos?
Foi a forma como abordar o assunto com a juventude. Então, a gente ajudou a pensar um nome, talvez uma hashtag, para que tivesse mais envolvimento da juventude, maior engajamento desse público-alvo. Essa foi a nossa colaboração, além de juntar estudos, dados e índices sobre o assunto.
A campanha é voltada para pessoas de qual idade?
De 15 a 18 anos e pais. Porque o pai é um ator muito importante nesse assunto, tanto que eles foram os maiores apoiadores da campanha. Se for parar para ler críticas e apoios, a maior parte dos apoios é dos pais que já aconselham os filhos nesse sentido.
Em que tom chegam as críticas e como vocês as recebem? Isso é levado à frente?
Com certeza, a gente reflete sobre toda devolutiva que a gente recebe da sociedade. Houve um erro de comunicação no início, que foi falar a palavra abstinência. Ela nunca foi a melhor palavra a ser utilizada para descrever a campanha. Então, houve esse erro de comunicação inicialmente, a gente tentou corrigir depois e passar a mensagem correta do que de fato seria a campanha.
Continua depois da publicidade
Mas a gente recebe essas informações e faz a melhor interpretação possível para mitigar quaisquer erros da nossa parte. A campanha foi muito suave, muito leve, muito bem digerida. É difícil você encontrar críticas da campanha depois que foi lançada. É um assunto que todo mundo concorda que tem que deixar o adolescente ser adolescente e postergar a gravidez precoce.
Já fomos jovens e adolescentes e sabemos que estes assuntos geralmente são levados na brincadeira. Como vocês pretendem fazer com que o assunto realmente atinja o público-alvo?
O debate, nem que seja a brincadeira que foi feita, ajuda a colocar o assunto roda de conversa, o que já é muito difícil. Só de colocar o assunto na roda de conversa, já é um ganho da campanha. Mas o importante é que ele repercute muito bem junto aos pais, e os adolescentes estão sob a tutela deles. Então ninguém vai interferir nas decisões, na família, já que os maiores protagonistas desse assunto com certeza são os pais, que respondem pelas consequências dos filhos. Entre os adolescentes em si tentamos fazer a maior abordagem possível, mas é sempre um público muito difícil de conversar.
O caminho é qual? Rede social?
Com certeza. A rede social é a maior forma de comunicação destes jovens. Na verdade, a agência de publicidade fez um vídeo que conseguisse passar essa imagem para o adolescente, todas as consequências envolvidas numa possível gravidez precoce. Mostra o adolescente se formando no ensino médio, praticando esportes, na balada com os amigos. Mostra tudo que é dessa fase da vida e tudo que ele pode perder numa possível gravidez precoce. A maneira escolhida para comunicar pela agência de publicidade foi essa.
Continua depois da publicidade
O período do Carnaval é um momento propício para este tipo de debate, essa foi a visão?
A campanha foi pensada para a primeira semana fevereiro justamente por se tratar do pré-Carnaval. A campanha é estabelecida por lei, está no ECA como responsabilidade da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Então, todo ano nessa primeira semana de fevereiro a secretaria precisa fazer alguma ação para a campanha.
Vocês, como a secretaria da Juventude, têm campanhas focadas na vida do adolescente ou a ideia é priorizar a questão de emprego e formação?
Temos outras campanhas, agora vem o Maio Amarelo, que é a prevenção aos acidentes de trânsito. No Brasil, a maior causa de mortes de jovens são os homicídios, em segundo lugar estão os acidentes de trânsito. Então, vamos trabalhar junto ao Ministério da Infraestrutura nessa campanha do Maio Amarelo. E depois vem o Setembro Amarelo, que é sobre a depressão e suicídio de jovens, que em alguns anos reveza entre a terceira e a quarta causa de maior morte de jovens. São algumas campanhas foco que mais atingem a juventude.
Como tratar de suicídio com crianças e adolescentes?
É um assunto bem difícil, eu gostaria de ter essa resposta para sabermos exatamente como tratar o assunto. É muito delicado porque você tem números que mostram que quanto mais você fala do assunto, quanto mais você menciona isso com os jovens os números tendem a aumentar. Então, é um desafio. Trabalhamos junto ao Ministério da Saúde, que tem uma pasta responsável pela saúde mental. São eles que nos dão suporte técnico.
Continua depois da publicidade
Como tornar o governo mais amigável e próximo da juventude?
Engajar o jovem é um desafio bem grande. Campanhas que tenham impacto forte, emocional, são as que mais conseguem de fato focar e engajar as pessoas. Mas a gente tem algumas restrições nessas campanhas do Brasil. Algumas abordagens são proibidas, como, por exemplo acidentes de trânsito. As campanhas mundo afora que dão maior resultados são as que mostram cenas que de fato chocam as pessoas. E no Brasil são proibidas. Então, temos alguns desafios nessa comunicação.
Você acha que o caminho seria impactar as pessoas, tanto o adolescente como o jovem, por exemplo?
Com certeza. As pessoas acham que nunca vai acontecer com elas. E se elas não veem que a vida delas pode ser afetada por aquilo, elas tendem a ignorar. Os números mostram que campanhas na Europa que usaram essa abordagem e os números reduziram.