– Relaxa, desta vez vou dizer que é um texto diferente do votado anteriormente, com emendas aglutinativas. Eu estou do seu lado, Celso, mas você vai ter que votar a favor [da redução da maioridade penal] dessa vez – diz o personagem que faz as vezes de Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
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– E se eu votar contra? – responde o outro.
– Valdir Colatto não vai deixar barato. Tentei convencê-lo de que mandar bandidos de 16 e 17 anos para a sua residência em Santa Catarina não era uma boa ideia. Não consigo mais defendê-lo, Celso. Por votar contra, por não demonstrar apoio ao nosso partido…
O diálogo foi retirado do vídeo House of Cunha, uma paródia da série americana House of Cards com o presidente da Câmara dos Deputados brasileira. Na série da Netflix, o protagonista é Frank Underwood, um congressista manipulador e audacioso; já na versão do morador de Florianópolis, Matheus Castilho, o narrador-personagem é Eduardo Cunha, que tem causado repercussão por mover as estruturas da Casa de acordo com o próprio interesse.
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HOUSE OF CUNHAA vida imita a arte e vice-versa.
Posted by Dilma Bolada on Segunda, 10 de agosto de 2015
O vídeo foi publicado no Youtube em 7 de agosto e não chegou às 2 mil visualizações: foi tirado do ar pela Sony Pictures por uma questão de direitos autorais. Entretanto, a párodia foi compartilhada em páginas populares no Facebook, como Dilma Bolada, e a na do deputado federal Chico Alecar (PSOL-RJ), gerando bastante repercussão no começo da semana. Só a partir destas duas, foram mais de 8 mil compartilhamentos em dois dias.
O jovem de 29 anos responsável pelo vídeo é natural de Mogi Mirim (SP). Mora em Florianópolis há dez anos, é formado em Cinema e trabalha com edição de vídeo.
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– Acompanho bastante a política, mas não tinha tudo de cabeça, precisei pesquisar os assuntos mais pontuais. Fui assistindo às cenas e pensando qual pauta eu poderia explorar ali, dependendo dos diálogos da série original – relata Castilho.
O ponto alto do vídeo é o debate entre “Eduardo Cunha” e o personagem transformado no deputado federal catarinense Celso Maldaner (PMDB-SC), que acusou o também deputado de SC Valdir Colatto (PMDB-SC) de insinuar que a residência dele seria “invadida por bandidos de 16 e 17 anos”. Maldaner foi um dos 24 deputados que mudou de posição em relação à maioridade penal na votação da Câmara, em julho, e Colatto negou qualquer tipo de coerção.
– Desde que publiquei a paródia, não recebi nenhum tipo de ataque pessoal, mas já imagino que isso vá acontecer. Ainda mais porque estou pensando em contiunuar a brincadeira e fazer novos vídeos, sempre com um cunho político. E aí, com certeza, vai ter uma enxurrada de gente contra – comenta o Castilho.
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Comparação entre Cunha e Underwood não é novidade
Castilho não foi o primeiro a fazer a comparação entre Cunha e Underwood: em maio, o jornal americano Washington Post fez a mesma relação, destacando que as ações do deputado ameaçam o governo de coalizão de Dilma Rousseff, em que o PMDB é “supostamente seu mais importante aliado”.
A revista inglesa Economist, por sua vez, afirmou que o peemedebista “pode segurar as pautas que não aprova ou incentivar” a tramitação das que apoia.
No Brasil, a revista IstoÉ publicou uma capa-paródia da imagem de divulgação do House of Cards, com Eduardo Cunha sendo retratado como alguém “sem o charme do ator Kevin Spacey, que interpreta Frank Underwood, mas com o mesmo jogo bruto”.
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Castilho diz que passou dois dias inteiros editando o House of Cunha, mas traz no currículo outras paródias que bombaram nas redes. Uma das de maior sucesso é Maria do Bairro: o drama da eleição presidencial 2014, uma versão do dramalhão mexicano para as brigas familiares entre apoiadores de Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) no fim do ano passado.
– Só quem assiste House of Cards entendeu tudo no vídeo sobre o Cunha, enquanto o da Maria do Bairro se popularizou mais, é bem mais escrachado – comenta.