A queda de parte da história de Treze Tílias deve mudar o cenário histórico da cidade do Meio-Oeste catarinense. Sessenta e três anos depois da construção, o Hotel Áustria começou a ser demolido nesta terça-feira. Ele deve estar completamente destruído até o final da semana.

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A propriedade é particular e nunca foi tombada. Um decreto municipal, por exemplo, seria o suficiente para manter o casarão intacto. O atual dono do local, Valdenir Seewald, é o terceiro proprietário do imóvel, construído em 1948. Ele afirma que tentou negociações com o Executivo para impedir a demolição desde que comprou o hotel, há pouco mais de um ano.

Seewald teria sugerido a locação ou a venda do imóvel. Só que, segundo ele, ninguém demonstrou interesse efetivo em manter o cartão-postal em pé. Em agosto do ano passado, a prefeitura expediu um alvará autorizando o desmanche.

Os responsáveis pelo Poder Executivo enxergam pela janela a queda do antigo hotel, desativado há 60 dias. O prédio fica em frente à prefeitura. Mas, ninguém teria questionado oficialmente a demolição. O único documento que existe é uma ata, datada de 12 de setembro de 2005, quando um vereador solicitou o tombamento.

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A vontade de manter o patrimônio vivo parece ter morrido naquele dia. O prefeito em exercício, Adilson Concatto, disse que desistiu da negociação antes mesmo de tentar um acordo oficial com o atual proprietário. Ele disse que o preço do aluguel seria alto demais, em torno de R$ 10 mil.

Conforme uma funcionária do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o tombamento poderia ter sido solicitado por qualquer cidadão. O processo, geralmente, é demorado e os possíveis custos de conservação do prédio são definidos por um conselho consultivo.

Só que agora é tarde. Como nenhum meio legal impediu a demolição, o terreno de 900 metros quadrados, que fica em uma esquina privilegiada no Centro da cidade, deve ganhar um novo prédio. A ideia de Seewald é construir cinco andares, divididos entre salas comerciais e apartamentos.

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Segundo ele, as características típicas da Áustria deverão ser mantidas na nova construção. E a opção de recomeçar do zero representa a inviabilidade de uma reforma. Os últimos reparos no prédio foram feitos há 20 anos.

– Não é viável mantermos o prédio. O turista tira fotos em frente ao casarão mas, na hora de buscar hospedagem, escolhe os hotéis mais luxuosos – frisa.

As desvantagens econômicas passam despercebidas pelos amantes da arquitetura histórica. O guia de excursão Luiz Martins Sobrinho perdeu as contas de quantas vezes visitou Treze Tílias. Mas, lembra que em nenhuma delas deixou de admirar a beleza do casarão. Sobrinho ficou bastante triste com o fato de que, quando retornar à cidade, encontrará a construção em ruínas. E diz que “só tem a lamentar a perda irreparável para a cultura austríaca”.

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Hotel Áustria está sendo demolido

Foto: Daisy Trombetta/Agência RBS

Cenário

Dos lustres à mobília, cada detalhe do antigo casarão é uma viagem à cultura tirolesa. Com cerca de 15 quartos, todos com banheiro, o casarão foi um hotel durante toda a sua história. Até a numeração das portas é esculpida na madeira.

Uma escada estreita leva aos quartos superiores. O terceiro andar é o menor e parece um sótão. As duas sacadas frontais do prédio têm detalhes austríacos no corte da madeira. O estilo arquitetônico também é notado na recepção, que tem um grande balcão e longos bancos fixados à paredes.

Poucos móveis e objetos de decoração restavam no local na tarde de ontem. Todos os outros foram vendidos por baixos preços, em apenas algumas semanas de negociação. O atual dono do hotel comprou o prédio e tudo o que estava dentro dele.

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A madeira de lei também rendeu algum dinheiro. E poucas pessoas que circulam pela rua do antigo hotel, que é a principal da cidade, lamentam a desvalorização da história. A maioria sequer percebe os pedreiros em cima do telhado.

Quatro pessoas trabalham no local. A demolição começou pela retirada das telhas e deve seguir com a retirada das tábuas. A parte de concreto, que dá base ao primeiro andar, será a última a virar ruína.