“Eu vivenciei os dois lados da moeda, estou bem porque lá atrás uma família disse sim à doação de órgãos no momento mais difícil para ela, o de despedida de um ente querido. Depois, foi a minha vez de decidir, quando optei por doar as córneas do meu pai, que partiu há 10 anos”.
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Esses momentos marcantes fazem parte da trajetória do técnico de enfermagem Roni Anderson Schiochet, 39 anos, que já esteve na fila de espera por um transplante e hoje leva esperança para inúmeros outros que dependem desse tipo de ajuda para viver melhor. E os joinvilenses se mostram generosos neste tema. O Hospital Municipal São José liderou o número de doações de órgãos efetivadas após morte encefálica no Estado em 2017.
Foram 45 notificações de morte cerebral na unidade, 28 delas resultando na doação de múltiplos órgãos – 62% dos potenciais doadores. A média está 10 pontos percentuais acima do segundo colocado, o Hospital Santa Isabel, de Blumenau, que no ano passado efetivou 27 das 52 notificações de morte encefálica ocorridas na instituição.
Os dados de Santa Catarina também atingem destaque nacional. Foram 568 notificações e 282 doações concluídas no período, somente considerando os transplantes decorrentes de morte encefálica. Somadas as doações em vida, foram 1.217 procedimentos. No ano, o Estado registrou taxa de doadores efetivos de 40,8 por milhão de população (pmp) – metade dos potenciais doadores –, a maior média entre todos do país, que atingiu 16,6 pmp.
– Os ótimos indicadores do Estado e, consequentemente, na nossa cidade refletem a profissionalização daqueles que trabalham com a doação de órgãos e a generosidade do povo catarinense. No momento de dor, em que a pessoa perdeu o parente que mais ama, ela consegue definir ‘vamos salvar mais vidas’ – considera o enfermeiro Ivonei Bittencourt, da equipe de transplantes do Hospital São José.
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A doação de órgãos e tecidos do corpo quando feita em vida, por exemplo, pode envolver o rim, parte do fígado e da medula óssea. No entanto, as possibilidades são maiores nas ocorrências em que há confirmação por morte encefálica, geralmente decorrente de traumatismo craniano derrame. Neste caso, o transplante depende da autorização familiar, e podem ser doados, por exemplo, rins, fígado, coração, pâncreas, pulmões, córneas, pele e ossos.
Nova vida após procedimentos
As duas oportunidades foram dadas a Roni Schiochet, que dependia da doação para superar as sessões de hemodiálise nas quais era submetido três vezes por semana. Ele teve o rim acometido por causa de alterações do diabetes, que enfrentava desde a década de 1980. Primeiro, recebeu a doação do órgão da mãe, que era compatível e fez o procedimento em vida, em 2002. Porém, como o diabetes dele estava desregulado à época, seu corpo “perdeu” o órgão. Precisou esperar mais um pouco.
Aquela que ele considera a sua terceira chance de vida foi dada em 7 de fevereiro de 2006, quando realizou um segundo transplante a partir de uma doação decorrente de uma morte encefálica, em São Paulo. A cirurgia envolveu o recebimento de um rim e do pâncreas, que o tirou da cadeira de hemodiálise e da insulina. Hoje, ele trabalha e faz acompanhamento no São José, além de tomar a medicação indicada para os transplantados, cedida pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A vida pessoal também ganhou novos significados, com a publicação de um livro, palestras e garantia de mais saúde.
– Minha chance era pouca e apostei 100% em fazer o transplante. Foi um sucesso e exemplifico as mudanças por meio de um ato simples: tomar um copo d’água. Eu não podia tomar líquido, porque quanto mais tomasse, mais mal poderia passar na hemodiálise. Então, a água é o símbolo, e toda vez que tomo um copo, penso: hoje eu posso – conta Schiochet.
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