Clausura: uma palavra que normalmente remete a um sentimento claustrofóbico, lugares fechados e solitários. No dicionário, é também um modo de vida dedicado ao recolhimento. Mas há em Blumenau uma clausura que é na verdade uma casa leve, alegre e cheia de boas histórias. Existe música, fé, cuidado com a natureza e uma vida inteira dedicada à solidariedade. Se a palavra remete ao recolhimento, aqui ela promove o contato entre as pessoas, a ajuda mútua e o bem-estar. No claustro do Hospital Santa Isabel moram 13 senhoras, algumas com mais de 90 anos de idade, a maioria deles dedicados à vida religiosa. São algumas das Irmãs da Divina Providência que permanecem na instituição, que moram e dedicam sua vida ao hospital, mantendo uma tradição centenária.

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É no terceiro andar da casa de saúde, em um corredor ao lado da maternidade, que fica a clausura, local que já chegou a ser casa de 35 irmãs nos anos 1960, mas desde então fica cada vez mais vazio. Na próxima semana, com transferências para outras cidades, apenas 10 dos 30 quartos estarão ocupados. São freiras que dedicaram a vida à Sociedade Divina Providência, trabalharam no Santa Isabel e hoje são aposentadas. Dentro do hospital, vivem em forma de comunidade, com tarefas divididas e uma rotina regrada.

_ Todos os dias levantamos para rezar juntas às 6h30min, antes do café. No meio da manhã temos mais uma hora reservada para oração pessoal, enquanto mantemos nossas atividades. No fim da tarde, às 17h45min, todas rezamos a ação de graças pelo dia, antes de irmos para a capela principal do hospital, onde participamos da missa das 18h. Depois da janta ainda temos o hábito de rezar o terço _ explica a Irmã Leonice Mattei, coordenadora da comunidade.

A maior parte das irmãs foi enfermeira, atendente da farmácia, costureira de uniformes, habilidades que desenvolvem na rotina dentro da comunidade. Caso da Irmã Isaltina Gripa, que está no Santa Isabel desde 1976, sempre como costureira. Hoje ela faz os reparos nas roupas das outras irmãs e cuida da pequena capela que faz parte da clausura. Com dois grandes corredores, a casa das irmãs tem sala, cozinha, biblioteca, uma sala com computador e até um jardim externo. Algumas religiosas vieram também de outras casas da Sociedade Divina Providência, como o Colégio Sagrada Família, onde a Irmã Leonice lecionou para o primário antes de se mudar para o Santa Isabel.

_ A presença das irmãs aqui no hospital é como um sorriso para o paciente que cruza com a gente no corredor. É estar ao lado, acolher as pessoas com alegria. Nosso dever aqui é transmitir essa alegria. Acredito que se alguém está com a cara triste é porque errou na vocação _ afirma a Irmã Teresilda Butzke, freira há 62 dos seus 82 anos de vida. Ela começou a trabalhar na farmácia do hospital em 1951. Hoje, longe do balcão de atendimento, guarda em suas gavetas diversas folhas com receitas de medicamentos homeopáticos que indica aos que vem lhe procurar com problemas.

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Teresilda é também a irmã mais ativa nos corredores do hospital. Conhecida por todos os funcionários, várias vezes por semana cumpre sua rotina no quarto e quinto andar do Santa Isabel: visitar os pacientes. Apoiada em sua bengala, a irmã vai a passos rápidos, de quarto em quarto, rezar, conversar e dar apoio aos internados.

O futuro

A saída da Sociedade Divina Providência da administração do Hospital Santa Isabel (HSI) acendeu uma dúvida sobre a preservação da tradição das irmãs, presentes na instituição desde a fundação, 105 anos atrás.

Em abril começa a transição da gestão do local para a Congregação Santa Catarina, motivada pela constante redução nas Irmãs da Divina Providência. Atualmente, são somente 158 mulheres, 77% acima dos 70 anos de idade. Sem expectativa de renovação, o número de irmãs diminui frequentemente. No momento há somente uma noviça na sociedade em todo o estado. Para as moradoras da comunidade do Santa Isabel, não há motivo para preocupação:

_ A sociedade pediu ajuda na hora certa, nem as irmãs mais novas tinham a expectativa de manter a administração do hospital por muito tempo. Estamos aqui há quase 106 anos e deixamos muitas marcas. Não temos como saber o que vai acontecer daqui a dez anos, mas não temos por que nos preocupar _ afirma, esperançosa, a Irmã Leonice.

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Para as moradoras da clausura, a fé nos corredores do hospital não deve se apagar tão cedo.

_ Os remédios ajudam na dor, mas sem fé o homem não é nada. A presença das irmãs aqui pode diminuir, mas não vai acabar _ finaliza a Irmã Teresilda Butzke.