Há quatro dias, as roupinhas permanecem cuidadosamente dobradas e o bercinho continua enfeitado, no canto do quarto. Ainda não houve coragem para tirar nada do lugar, como se a recordação física pudesse diminuir a dor da perda que sente na alma. O olhar de mãe, meio distante, ainda revela certo brilho quando vê as fotos do pequeno Enzo. O retrato é agora apenas uma lembrança. Ariana Cristiane Camilo, de 24 anos, sabe que nunca mais será a mesma.
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No último sábado, “seu menino”, como ela diz, morreu por insuficiência respiratória aguda na UTI neonatal do Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen, em Itajaí. O caso fez com que a maternidade restringisse o parto por 72 horas, contando a partir de domingo.
Nascido prematuro, com 33 semanas, o bebê aguardava ganhar mais peso para ir para casa. Antes disso, porém, ele contraiu uma bactéria ou vírus, que ainda está sendo investigado, e não resistiu. Outra criança, em condições semelhantes, segue internada em estado grave e há suspeita de pelo menos mais uma morte pelo mesmo motivo.
– A gente tenta esquecer um pouquinho, mas todo dia volta a lembrança – diz Ariana.
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No atestado de óbito de Enzo constam mais cinco causas para a morte: choque séptico, prematuridade, insuficiência múltipla dos órgãos, hiperpotassemia (comprometimento das funções renais) e broncopneumonia. Conforme a família do menino, ele nasceu com a saúde perfeita e todos aguardavam a alta médica para esta semana, assim que ele completasse o período de gestação na UTI neonatal.
– Quando o Enzo tinha uma semana de vida, começou a piorar a respiração, mas os médicos disseram que era no máximo uma gripe. Um dia depois já começaram a fazer exames e ele teve de ir para o isolamento. Ele pegou algum vírus lá dentro, porque tinha nascido perfeito – afirma a mãe.
A casa da família, no Bairro São Vicente, já estava preparada para receber o novo morador. Além de todo o conforto para o bebê, até alguns mimos com a foto de Enzo já tinha sido feitos, como um chaveirinho e um cartão de lembrança do nascimento. Os objetos começaram a ser entregues na semana passada, para que desse tempo de todos os amigos e parentes receberem o presente. Agora, restou a saudade e a missão de cuidar do outro filho do casal. Anthonny, de sete anos, sequer tem noção de tudo que aconteceu a seu redor nos últimos dias.
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Vigilância Epidemiológica investiga o caso
Segundo a Vigilância Epidemiológica de Itajaí, houve quadro de infecção respiratória em três crianças recém-nascidas no Marieta, e pelo menos um óbito foi confirmado. A causa está sendo investigada pelo hospital, já que os bebês não apresentavam qualquer fator de risco anterior e nasceram saudáveis. A partir disso houve restrição no atendimento da maternidade por 72 horas, contando a partir de domingo. A medida ocorreu por precaução, uma vez que a unidade sempre lida com grande movimento de pacientes, e a duração dela pode ser ampliada se mais casos de infecção aparecerem.
– Foram feitos vários exames, inclusive de H1N1, que já deu negativo para uma das crianças. A outra ainda aguarda o resultado. A verdade é que ninguém sabe o que aconteceu ainda – explica o médico infectologista da Vigilância, Carlos Manuel Corrêa da Silva.
Direção do hospital divulga nota
A direção do Hospital e Maternidade Marieta Konder Bornhausen se manifestou apenas por meio de um comunicado. No texto, informa que a Unidade de Cuidados Intermediários não está interditada.
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“Como medida de prevenção, a direção Técnica e a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar emitiram no dia 26 de maio um comunicado interno orientando a equipe da Unidade de Cuidados Intermediários para tomar medidas de contenção (precaução de contato, rotinas de controle de infecção, diminuição de visitas, etc.) em função do registro de um caso de paciente com doença respiratória.
O paciente segue internado em precaução respiratória aguardando o resultado de exames. Até o momento não houve confirmação de nenhum caso de Influenza no setor de neonatologia”, diz o texto.
Informa, ainda, que os partos normais e as internações na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal estão ocorrendo normalmente e que apenas as cesáreas eletivas (agendadas) estão sendo avaliadas pela equipe médica.
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“O Hospital não deixará de prestar assistência a nenhuma gestante que necessite de atendimento. As medidas tomadas são preventivas e visam conter e observar o surgimento de novos casos infecção respiratória, beneficiando os pacientes já internados e os que possam necessitar de atendimento na Unidade de Cuidados Intermediários”, conclui o comunicado.