Diante da lotação da emergência do Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG), em Florianópolis, pais e mães apelaram para o barulho e muitas reclamações para conseguir atendimento para os próprios filhos nesta segunda-feira (24). Crianças e responsáveis esperam por atenção médica em uma fila que chegou a sete horas e que, apesar de andar, não parava de crescer. Os relatos no local são de indignação e até desespero de quem tem a unidade como principal opção para atendimento pediátrico na Grande Florianópolis.
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Após cinco horas de espera na entrada da emergência, uma das mães decidiu bater na porta da classificação de risco para exigir atendimento ao filho que apresentava problemas respiratórios e já havia registrado febre no mesmo dia. Com revolta e alto tom de voz, a mulher pediu um termômetro para verificar a temperatura da criança.
— Só se a gente berrar ou se a criança estiver quase morrendo para ser atendido. Se a gente está aqui é porque precisa. Se não, eu estaria em casa. Tem hora que eles fazem pouco caso porque a gente está esperando. Você viu o que eu precisei fazer. Na primeira vez, não me deram o termômetro. Na segunda, ela deu e eu disse que iria chamar a polícia! E ela [da equipe do hospital] disse pode chamar — relatou a mãe à reportagem.
Depois do primeiro confronto com os profissionais do atendimento da emergência, pelo menos mais dois pais protagonizaram desavenças com a equipe do local por conta da demora para chamar casos avaliados como prioritários. Um deles foi Jallal Ali Hussein, técnico de informática, que precisou medir a temperatura da filha e provar que ela estava com 39.8ºC de febre para passar pela atenção de um médico.
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— Se eu não tivesse usado o modo agressivo, de bater na porta e dizer ‘quero um médico agora’, eu não sei que horas teria sido atendido. Eu cheguei e ela estava febril, com 37ºC. Cinco horas depois, 39.8ºC. Aí eu comecei a bater na porta com força e disse que não iria discutir com ninguém, mas que precisava de um médico imediatamente. E, então, me deixaram entrar — conta o pai.
Veja a situação no Hospital Infantil de Florianópolis nesta segunda:
Enquanto isso, crianças de colo choravam e a indignação tomava conta do ambiente lotado, sem lugares para sentar. Mesmo com a fila andando, mais famílias chegavam e o bancos não ficavam vazios. Por volta das 16h15min, a equipe do HIJG decidiu colocar mais fileiras de cadeiras do lado de fora da emergência, para que a espera pudesse ser, ao menos, em repouso.
A situação acontece duas semanas após a diretoria do hospital afirmar que irá ampliar a capacidade de atendimento em 30%. Conforme a apuração do colunista Raphael Faraco, uma operação já está definida para enfrentar os dias de superlotação como esta segunda-feira, mas o prazo para as mudanças acontecerem é de três meses.

Quase 10 horas no hospital
Pessoas que chegaram pela manhã só conseguiram atenção médica pelo meio da tarde e ainda afirmam que a expectativa era de deixar o local ainda mais tarde por conta da fila para exames. Essa é a situação vivida por Eliana Cristina Alves, que levou o bebê de 11 meses para a emergência por conta de sintomas como diarreia, vômito e problemas respiratórios, e esperou por sete horas até ser chamada pelo médico.
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— Estou muito, muito indignada. Estou eu, minha filha de seis anos já que não tinha com quem deixar ela, e meu bebê chegamos aqui às 8h da manhã. Sem comer, sem nada! E eles não pensam que muitas dessas famílias não têm um centavo para comprar comida, porque o hospital não fornece. E eles ainda colocam uma média de atendimento de seis horas e você que se vire — afirmou Eliana.
O bebê dela apresentava problemas respiratórios e suspeita de pneumonia. Por isso, precisou passar por raio-X e tratamentos na enfermaria. Apenas às 17h50min, a família deixou a emergência — quase 10 horas depois de ter chegado.
— Nossa isso aqui tem que acabar, não pode acontecer mais. Eu vi uma enfermeira lá chorando, no desespero, porque não consegue atender o tanto de criança que tá aqui. Imagina o que que não acontece aqui dentro — relata a mãe.
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Conforme muitas das famílias, questionar a equipe de atendimento sobre o tempo de espera é “inútil” e até desmotivador. A informação inicial é de que pelo menos seis horas de fila são necessárias até o atendimento médico e que não há o que fazer.
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O sobrinho de cinco anos da Vanessa Nascimento colocou um “objeto não identificado” dentro do ouvido e foi encaminhado para o HIJG pela UPA. Ela acompanhou a irmã com o menino durante essas seis horas até os dois entrarem no atendimento.
— A gente trouxe pelo encaminhamento de urgência. Só para passar em um otorrino, nem é com o pediatra. Eles misturam todas as consultas aqui, é problema respiratório, ortopedista, otorrino, tudo! Uma criança como ele, que está saudável, fica aqui com outros que estão com doenças contagiosas — observou Vanessa.
Tanto Eliana quanto Jallal relataram também que os corredores da parte interna da unidade hospitalar estão tão lotados quanto a parte externa. O pai afirma que os pacientes estão sendo chamados, mas que ainda precisam aguardar mais nos corredores.
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— Estão dizendo que está tendo dificuldade de atendimento porque tem muita gente na fila. Eles estão chamando para dar uma esvaziada na parte da frente, para poder colocar o pessoal na parte de dentro e atender com calma porque todos os consultórios estão lotados — confirmou Jallal.
O que diz a SES
Questionada sobre o tempo de espera no HIJG, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) justificou que o tempo médio de seis horas é apenas para casos considerados leves. Veja abaixo a nota completa do órgão sobre os atendimentos pediátricos na unidade hospitalar.
“A Secretaria de Estado da Saúde (SES) informa que, diante do momento sazonal, o aumento nos casos de doenças infecciosas virais identificadas como a dengue e as doenças respiratórias vem refletindo na busca por atendimentos infantis no sistema de saúde do Estado, abrangendo todas as regiões.
As unidades estão se organizando para atender a ampliação da demanda, no entanto, os dados apontam que cerca de 50% dos atendimentos são pacientes classificados como de baixa prioridade (verde), neste sentido é importante esclarecer que os Hospitais utilizam o protocolo da Secretaria de Estado da Saúde (SES/SC) na triagem de classificação de risco, priorizando os atendimentos de maior gravidade.
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Nesta manhã, a unidade recebeu grande volume de pacientes encaminhados via unidades de saúde, com classificação de risco mais grave, o que acarreta em um tempo maior de espera de pacientes com classificação de risco verde.”
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