A fila por atendimento de emergência no Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG), em Florianópolis, continua grande nesta quarta-feira (15). Mães relatam que a espera chega a seis horas e que buscaram a unidade após não receberem atendimento no sistema básico de saúde por falta de médicos ou para realizar exames. O local é a única opção para atendimento em diversos casos na Grande Florianópolis.
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Mesmo com a chamada de pacientes acontecendo normalmente, a fila para entrar na área de atenção médica manteve o mesmo tamanho das 16h às 17h, horário em que o Hora de Santa Catarina esteve no local. A demanda era crescente, com famílias chegando com crianças de todas as idades. Na sala de espera, os pacientes brincavam, choravam e dormiam no colo das mães.
Zenilda, mãe da Larissa de sete anos, relata que chegou no hospital às 14h. A menina desmaiou no período da manhã e estava com dor de cabeça e febre. A dona de casa levou a filha à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Biguaçu, onde mora, mas foi encaminhada para o HIJG, único local que possui equipamentos para fazer exames adequados na criança.
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Apesar de ter passado rápido pela triagem, a mãe de Larissa não está otimista e avalia que o atendimento continua lento como nos dias anteriores. Na terça-feira (14), crianças aguardavam até 10 horas para receber a atenção das equipes de saúde.
— Eu vi a reportagem de que estava cheio, e acabei precisando vir para cá. Pelo jeito, creio eu que vou sair daqui umas 22h. Até que estão chamando para atendimento, mas tem que esperar lá dentro também, onde tem outra fila — relatou Zenilda às 16h45min, quando ainda não havia previsão para atendimento da menina.
Depois de seis horas de espera e muito incômodo, Nathaly e a filha Kauane, de um ano e seis meses, conseguiram passar por uma médica para avaliação e prescrição de medicamento. A bebê está com a doença mão-pé-boca, provocada por um vírus que gera manchas e erupções na pele, mal-estar e até febre. Porém, o atendimento só aconteceu depois da mãe reivindicar que a menina fosse avaliada.
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— Eu fiz barraco e aí fui atendida. E isso é muito chato, é muito complicado, a gente quer ser uma mãe normal. Eu entendo que tem criança pior, mas tiveram outras que passaram na frente — contou Nathaly.
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Mãe e filha chegaram na unidade às 10h, mas precisaram deixar o local por volta das 12h por conta do filho mais velho de Nathaly, que precisava almoçar. A profissional de serviços gerais relatou que então decidiu passar no centro de saúde, mas foi informada que não havia médico ou enfermeira para atender Kauane.
— A moça do posto disse que eu tinha que ir às 7h da manhã, mas não tinha como deixar a menina assim doente até o outro dia. Aí retornei para o hospital e ainda não tinham chamado ela. Resolvi esperar e brigar para conseguir uma receita, o nome de uma pomada para passar nela — disse Nathaly.
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O diagnóstico de Kauane é comum entre as crianças, causa coceira e irritabilidade. A doença é curada sozinha após pelo menos 10 dias, mas é contagiosa e a criança fica impedida de frequentar a creche até melhorar.
— Eu só queria um medicamento para ela melhorar, se não ela não pode ir para creche e eu não posso trabalhar — explicou a profissional.
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Espera desamparada
Tanto tempo de espera com os pequenos implica algumas necessidades, como alimentação e trocas de fraldas. Para as mães em situação de vulnerabilidade econômica, é mais difícil prover essas demandas no hospital com poucos recursos por seis horas ou mais.
— Algumas pessoas têm condição de comprar uma comida para dar para a criança durante tanto tempo de espera, eu não tenho. Se eu soubesse que iria passar por isso, tinha trazido uma marmitinha — confessou Nathaly.
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A jovem ainda relatou que contou com a ajuda de outras mães, que deram bolachas e frutas para Kauane quando a menina ficou com fome. No dia anterior, ela estava sem apetite por conta da doença e havia comido muito pouco. Fora de casa, a profissional de serviços gerais não tinha como oferecer algo enquanto aguardava o atendimento.
— Outra coisa é fralda, eu trouxe duas mas ela já trocou. Agora tá aqui, tadinha, suja de novo porque não tem outra — falou enquanto esperava o marido chamar um táxi, já que também não tinha dinheiro para uma passagem de ônibus.
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A Secretaria do Estado da Saúde (SES), que administra o Hospital Infantil, afirmou em nota que observou aumento na busca por atendimento de emergência na unidade durante os últimos dias e que “está sendo providenciado uma ampliação no quadro de pediatras”. Ainda orientou que as famílias procurem as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) em casos de menor gravidade.
O que diz a SES
“A Secretaria de Estado da Saúde (SES) informa que, diante do momento sazonal, o aumento nos casos de doenças infecciosas virais identificadas como a dengue e as doenças respiratórias vem refletindo na busca por atendimentos infantis no sistema de saúde do Estado, abrangendo todas as regiões.
As unidades estão se organizando para atender a ampliação da demanda, no entanto, os dados apontam que cerca de 50% dos atendimentos são pacientes classificados como de baixa prioridade (verde), neste sentido é importante esclarecer que os Hospitais utilizam o protocolo da Secretaria de Estado da Saúde (SES/SC) na triagem de classificação de risco, priorizando os atendimentos de maior gravidade.
Para garantir os atendimentos, a SES renovou no início deste mês os contratos com sete unidades hospitalares para o atendimento dos pacientes infantis. Essas unidades complementam a rede própria da Secretaria. Também está prevista a abertura de mais 10 leitos de UTI Neonatal no Hospital Regional de São José (HRSJ) duplicando o número de leitos de UTI Neo da Unidade.
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Na região da Grande Florianópolis, está sendo providenciado uma ampliação no quadro de pediatras do Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG). Ademais, a SES, firmou parceria com a Prefeitura Municipal de Florianópolis para a implantação da Policlínica da Mulher e da Criança, com previsão de abertura para o dia 28 de março. O espaço com atendimento especializado será uma nova porta de entrada para os pacientes, distensionando os Hospitais Infantil Joana de Gusmão e a Maternidade Carmela Dutra.
Desta forma, a SES orienta que, nos casos de menor gravidade, as famílias procurem as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) que são fundamentais para o pleno funcionamento do SUS, colaborando para a diminuição das filas nas emergências dos hospitais.”
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