Hosni Mubarak conseguiu nesta quinta-feira ser transferido da prisão para um hospital e será julgado sob regime de detenção domiciliar, um pequeno consolo para um homem que governou o Egito com mão de ferro por quase três décadas.
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Outrora bajulado no exterior e temido em seu país, Mubarak, de 85 anos, estava atrás das grades desde abril de 2011, acusado de corrupção e da morte de manifestantes na revolta que o havia derrubado dois meses antes. Segundo dados oficiais, pelo menos 850 pessoas morreram nesses eventos.
Desde então, seu estado de saúde suscitou todo tipo de boato e informações contraditórias, com supostos diagnósticos de depressão aguda, câncer, infarto, ou problemas respiratórios.
O ex-chefe de Estado, que chegou a ser declarado “clinicamente morto” em 2012 pela agência oficial de notícias Mena, aguardará em um hospital militar a retomada das audiências de sua apelação, no próximo domingo, a uma denúncia pela morte de manifestantes. Ele foi condenado em primeira instância à prisão perpétua.
Em 1981, Mubarak sucedeu o presidente Anwar al-Sadat, assassinado por islamitas. Naquele momento, poucos se atreviam a apostar na permanência no poder desse homem sem grande carisma.
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Mohamed Hosni Mubarak nasceu em 4 de maio de 1928, em meio a uma família da pequena burguesia rural do delta do Nilo. Avançou na hierarquia militar até chegar ao posto de comandante-em-chefe da Força Aérea e foi nomeado vice-presidente em abril de 1975.
Separado do povo
Soube mostrar-se pragmático, mas sua imagem foi se desgastando com o tempo pela falta de contato com seu povo e por sua reputação de orgulho sem limites. Um temível aparato policial e um partido a seu serviço se tornaram as principais demonstrações de seu poder.
No Ocidente, manteve uma reputação de moderado, conseguindo preservar a aliança com os Estados Unidos e os acordos de paz firmados em 1979 com Israel – e que custaram a vida de Sadat. Com sua silhueta imponente, a cabeleira sempre escura (apesar da idade) e o olhar frequentemente escondido por óculos escuros, tornou-se uma figura familiar dos encontros internacionais.
Ele se opôs fervorosamente ao islamismo radical inspirado na rede Al-Qaeda, embora não tenha conseguido impedir o fortalecimento de um Islã tradicionalista defendido pelo influente movimento da Irmandade Muçulmana. Essa confraria foi a grande vencedora das eleições realizadas após sua queda – as primeiras livres no Egito. Isso não foi suficiente, porém, para pacificar o país, e seu sucessor, Mohamed Mursi, acabou sendo deposto em julho, pelos militares apoiados por grandes protestos contrários a um governo que, segundo os opositores, beneficiava apenas a Irmandade.
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No plano econômico, Mubarak foi um liberal cada vez mais convicto, e essa orientação lhe permitiu desenvolver setores, como as telecomunicações e a construção civil. Ao final de seu regime, quase 40% dos 80 milhões de egípcios continuavam vivendo, porém, com menos de US$ 2 por dia, de acordo com estatísticas internacionais.
A corrupção foi outro mal endêmico de seus anos no poder.
Durante sua longa carreira, Hosni Mubarak escapou de pelo menos seis tentativas de assassinato. O estado de emergência foi mantido ao longo de praticamente todo seu governo, sendo suspenso apenas em maio de 2012. Há uma semana, voltou a entrar em vigor pelas autoridades instaladas pelo Exército após o golpe contra Mursi.
Hosni Mubarak é casado com Suzanne Thabet, que também exerceu grande influência em seu entorno. O casal teve dois filhos, Alaa e Gamal. Este último foi considerado, durante muito tempo, como provável sucessor de Mubarak. Eles também são acusados de corrupção.