A ONU declarou seu “horror” nesta segunda-feira pelo mais recente ataque aéreo lançado pelo regime sírio, que deixou quase cem mortos em um mercado perto de Damasco, enquanto o Conselho de Segurança aprovou um novo plano de paz para a Síria, com o aval da Rússia.

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Trata-se do primeiro plano político sobre a Síria que conta com a aprovação de todos os membros do Conselho.

O mesmo pede que se ponha fim à guerra, “lançando um processo político gerido pela Síria para uma transição na qual se integrem todas as aspirações legítimas do povo sírio”.

A iniciativa, que começará em setembro, permitirá instalar quatro grupos de trabalho sobre segurança e proteção, contraterrorismo, questões legais e políticas, bem como sobre a reconstrução do país.

A transição compreende “o estabelecimento de um corpo dirigente de transição inclusivo, com plenos poderes, que deverá ser formado com base em um consenso mútuo que assegure a continuidade (do funcionamento) das instituições governamentais”.

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Este ataque brutal que ocorreu no domingo, em Duma, principal reduto rebelde na região de Damasco, foi um dos mais mortais desde o início da guerra, em 2011, e também recebeu a condenação de Estados Unidos e União Europeia.

O ataque aconteceu no mesmo local e quase dois anos depois de um ataque com armas químicas que as potências ocidentais e a oposição atribuem ao regime de Bashar al-Assad.

Uma série de bombardeios aéreos do regime sírio atingiu no domingo o mercado muito movimentado no centro de Duma, 13 km ao nordeste de Damasco, que está sob o controle insurgente há quase três anos.

“O balanço subiu para 96 mortos, incluindo ao menos duas mulheres e quatro crianças”, informou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), que citou a possibilidade do aumento do número de vítimas fatais, em consequência do estado crítico de muitos feridos.

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Pelo menos 240 pessoas ficaram feridas, segundo a mesma ONG, que tem sede no Reino Unido e conta com uma ampla rede de fontes.

Poucas horas depois do que a oposição no exílio chamou de “massacre”, os aviões do regime voltaram a atacar a mesma localidade nesta segunda-feira.

Um fotógrafo da AFP presente no local constatou que muitas pessoas que tentavam chegar ao cemitério para enterrar seus mortos não conseguiram fazê-lo devido a estes ataques aéreos lançados no domingo e na segunda-feira.

Crianças cobertas de sangue

Na véspera, o fotógrafo descreveu o ataque como o pior que já tinha coberto em Duma.

Depois dos bombardeios, ele contou ter visto moradores da cidade transportando, desesperados, vários feridos para hospitais improvisados. Na falta de espaço, muitos corpos jaziam no chão, cobertos de sangue, inclusive do lado de fora do hospital.

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Muitas crianças, cobertas de sangue, choravam e gritavam de dor.

Um vídeo publicado na internet por militantes mostrava veículos carbonizados em meio aos escombros, enquanto várias fachadas de edifícios tinham desabado.

O enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, considerou “inaceitável para um governo matar seus próprios cidadãos, independentemente das circunstâncias”, segundo um comunicado.

“O bombardeio do governo ontem em Duma foi devastador, os ataques contra zonas civis estão proibidos pelo direito internacional”, acrescentou.

O diretor de assuntos humanitários da ONU, Stephen O’Brien, que visitava Damasco no momento dos ataques, disse que estava “horrorizado com a total falta de respeito demonstrada para com as vidas dos civis neste conflito”.

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Ele afirmou estar “particularmente comovido com as informações sobre ataques aéreos que deixaram dezenas de mortos e centenas de feridos entre os civis no coração de Duma, uma zona cercada”.

O’Brien foi a Damasco para avaliar as necessidades humanitárias na Síria, um país com mais de 7,6 milhões de deslocados internos e 422 mil civis assediados pelos beligerantes, segundo as Nações Unidas.

“É um massacre deliberado”, afirmou, por sua vez, Rami Abdel Rahman, diretor do OSDH.

“Barbárie primária”

“Trata-se da barbárie primária, do ódio contra o Homem”, afirmou o chefe desta coalizão no exílio, Khaled Joja, denunciando indiretamente a cumplicidade, em particular, da Rússia e do Irã com o regime de Assad.

“Aqueles que armam este regime e impedem ao Conselho de Segurança (da ONU) responsabilizá-lo são cúmplices destes crimes”, acrescentou, em alusão a Moscou, que impôs seu veto em várias ocasiões a uma resolução da ONU que condene o governo de Damasco.

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Em Moscou, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, que recebia seu colega iraniano, Javad Zarif, afirmou que impor a saída do presidente Assad como uma pré-condição a uma solução política neste país era “inaceitável para a Rússia”.

Nos Estados Unidos, o Departamento de Estado reafirmou em um comunicado que Washington “trabalha com seus parceiros para uma verdadeira transição política negociada, sem incluir (o presidente sírio Bashar al) Assad.

“Os ataques brutais do regime Assad contra cidades sírias mataram milhares de pessoas e destruíram escolas, mesquitas, mercados e hospitais”, ressaltou o porta-voz da diplomacia americana, John Kirby, em um comunicado mais firme do que o habitual.

Ele reafirmou a linha diplomática de Washington, defendendo que “Assad não tem nenhuma legitimidade para dirigir o povo sírio”.

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Já a União Europeia afirmou que “os responsáveis pelas graves violações dos direitos Humanos e do massacre de milhares de civis devem prestar contas”.

O conflito na Síria começou em 2011 com a violenta repressão às manifestações pacíficas contra o regime de Assad, o que provocou um conflito armado que, aos poucos, virou uma complexa guerra civil na qual se enfrentam governo, rebeldes, curdos e jihadistas.

Desde então morreram mais de 240.000 pessoas e mais de quatro milhões fugiram do país.

* AFP