Recanto da Paz, 7h30. A chácara localizada no bairro Itinga, em Joinville, ainda fazia jus ao nome naquele momento, quando o sol começava a surgir e o termômetro marcava oito graus. Debaixo de mantas, os bailarinos do 32º Festival de Dança de Joinville descansavam corpo e mente para mais uma maratona de apresentações. Para um grupo de amazonenses, a noite havia sido puxada: eles ensaiaram até altas horas para as apresentações das cinco coreografias que trouxeram a Joinville, e serão mostradas nos palcos abertos e na Mostra Competitiva.

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Entre 8 e 8h30, André Durand começou a bater de porta em porta para chamar as quase quatro dezenas de bailarinos trazidos sob sua supervisão da capital amazonense. Normalmente, a esta hora, eles já estão prontos para começar o dia. Na sexta-feira, quase como um prêmio pelo último dia útil da semana, a agenda de apresentações começaria ao meio-dia – daí a folga para acordar.

Nos quartos, estocados com as malas e as peças de figurinos, estavam também as compras da noite anterior. É assim que eles tomam café de forma econômica – no alojamento, o valor por pessoa é de R$ 7 para o café da manhã feito pela administração do lugar – e cereal com leite, iogurtes, frutas e sanduíches com saladas prontas são algumas das principais opções para se alimentar sem perder o corpinho de bailarino.

Boa parte dos bailarinos vindos com André e alojados no Recanto da Paz fazem parte da The Fusion Norte Company, na qual ele é diretor. Os preparativos para o 32º Festival de Dança de Joinville começou cedo para eles – mais precisamente, dois meses depois do término da 31ª edição. Apesar das promessas feitas todo ano de que é o último “sacrifício”, logo depois que o evento passa, já vem a vontade de viver tudo de novo.

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Uma parte desta árdua tarefa é sair de Manaus sob 40º e voar para o Sul (com escala em São Paulo e chegada em Florianópolis, onde pegam um ônibus para acompanha-los na estadia em Joinville) e acordar todos os dias em temperaturas que jamais aconteceriam no Amazonas (o dia mais frio já registrado em Manaus marcou 17º, em 1981).

Para fazer o frio passar, um grupo de bailarinos se reúne no pátio do Recanto da Paz para passar uma parte das coreografias. Sem compromisso, só para exercitar e aquecer. Depois, é hora de começar a sessão maquiagem, colocar os figurinos na mala e partir – uma tarefa que pode ser a mais demorada de todas, já que até os 37 membros da equipe chegarem ao ônibus pode levar muito tempo e chamadas do diretor.

É então que, com todos acordados, a animação começa a tomar conta do grupo. Para chegar ao Festival de Joinville, eles precisaram fazer apresentações em Manaus para arrecadar fundos e comprar passagens de avião em dez parcelas no boleto. Muitos vieram preocupados com a perda de alguns dias de aulas e de trabalho. Por tudo isso, a dança que toma conta do corredor do ônibus a caminho de quatro apresentações ao longo do dia não tem passos coreografados: ela vem da emoção.

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