O Aeroporto Lauro Carneiro de Loyola vai servir como plano B das companhias aéreas durante a Copa do Mundo caso o Aeroporto Afonso Pena, na Grande Curitiba, deixe de funcionar em algum momento. É este o argumento que o secretário de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de Joinville, Jalmei Duarte, usa ao dizer que espera a entrada em operação do instrument landing system (ILS), equipamento que facilita pousos de aeronaves em condições climáticas adversas, ainda neste mês.
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– Qualquer coisa que fugir disso vai me surpreender – conta.
Joinville será a décima cidade brasileira que não é capital de Estado a ter o equipamento em funcionamento. Reivindicação antiga de toda a região Norte – já se falava nele em 1987 -, o ILS vai melhorar em pelo menos 60% a performance do aeroporto, estima o secretário. Isso significa que o terminal ficará menos vulnerável em dias de muita chuva, vento ou nevoeiro.
Só no último ano, o Aeroporto de Joinville permaneceu 339 horas sem operar por causa do mau tempo, segundo dados da Infraero. É o equivalente a quase duas semanas. Em 2012, o Lauro Carneiro de Loyola foi fechado 163 vezes, o maior número do País. Com a homologação do ILS, este número deve diminuir consideravelmente.
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Na última semana de abril, técnicos da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) estiveram em Joinville para avaliar detalhes técnicos do ILS. Uma exigência que estava pendente para que o sistema entre em operação era a instalação de duas cancelas na Estrada João de Souza Mello e Alvim, nos fundos do aeroporto, que interrompem a passagem de veículos e impede que eles interfiram no sistema de navegação – uma chegou a ser depredada, mas já foi substituída e voltou a operar. Os fiscais enviaram um relatório final para a Anac bater o martelo.
– Os fiscais (da Anac) fizeram toda a checagem. Não houve nenhuma não conformidade – afirma Jalmei, indicando que o caminho para a homologação está livre.
Outra boa notícia para o aeroporto veio de um estudo contratado pela Infraero para medir a resistência da pista. O levantamento definiu que o pavement classification number (PCN, que em português significa número de classificação de pavimento) do terminal é de 51, e não de 33, como se apontava até então. Ou seja, quanto maior o PCN, maior a capacidade do aeroporto de receber aviões maiores e mais cargas e passageiros. O dado ainda precisa ser validado pela Infraero.
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Esperança que vem de Uberlândia
Com porte parecido com o de Joinville, com cerca de 585 mil habitantes, Uberlândia viu o ILS do seu aeroporto entrar em operação em fevereiro. Na cidade mineira, o processo de instalação e homologação do aparelho se arrastou durante três anos, lembra o superintendente do terminal, Sérgio Kennedy. Ele ainda não sabe dizer quanto o volume de passageiros deve aumentar, mas já nota evolução, com redução de transtornos. Para este ano, o número de voos cancelados ou atrasados no terminal, por onde passam em média 98 mil pessoas por mês, de acordo com Kennedy, deve cair 70%.
Conversas para atrair mais voos
A instabilidade que ronda o aeroporto leva muitas pessoas de Joinville e região a buscarem os terminais de Curitiba e Navegantes para não ficarem reféns do mau tempo. Um estudo realizado pela Associação Empresarial de Joinville (Acij) mostra que, de cada seis bilhetes vendidos no terminal joinvilense, apenas um passageiro embarca por aqui.
Além dos passageiros, os transtornos também prejudicam as companhias. A Azul, por exemplo, anunciou no início do mês a retirada do voo 4021, que saía de Campinas às 21h24 e chegava a Joinville por volta das 22h30, de domingo a quinta-feira, por causa das condições meteorológicas adversas.
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A segurança para pousos e decolagens proporcionada pelo ILS deve reverter esta situação e também aumentar a oferta de voos. Hoje, há dez opções diárias no terminal. Mas já há conversas entre a Prefeitura e comandantes da Gol, Azul e TAM, companhias que operam em Joinville, para aumentar este leque. No começo de junho, o secretário Jalmei Duarte terá reunião com as empresas, em São Paulo, para formalizar o pedido.
Mas aumentar as frequências implica custos operacionais e o lucro depende do aumento da procura em médio prazo, fundamental para que novas rotas se consolidem economicamente.
– Acredito que as companhias devem, num primeiro momento, experimentar timidamente o aumento de voos, à espera dos resultados – avalia Jalmei.
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Confirmado o acréscimo de linhas, a tendência é de que o preço das passagens também baixe, beneficiando passageiros como Emerson Corrêa. O empresário, de 35 anos, viaja frequentemente a negócios, mas prefere embarcar em Curitiba, onde o voo sai mais em conta do que em Joinville. Em uma viagem recente que fez ao Mato Grosso do Sul, ele economizou R$ 110 no bilhete comprado na capital paranaense. Em outros destinos, como Fortaleza, a diferença chega a ser o dobro.
Expectativa de 500 mil passageiros para este ano
A expectativa é de uma movimentação de mais de 500 mil passageiros no Aeroporto de Joinville neste ano, o que representaria um novo recorde. Além da maior segurança proporcionada pelo ILS, novos voos para Porto Alegre e Guarulhos, que entraram em operação em setembro de 2013, vão colaborar para que o índice seja alcançado.
Somente no primeiro trimestre deste ano, 118.271 pessoas passaram pelo aeroporto. O movimento é 47% superior ao verificado em 2013. Para atender ao crescimento da demanda, o terminal passa por obras de ampliação e modernização.
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O pacote de investimentos soma pouco mais de R$ 11 milhões e inclui reforma no terminal de passageiros e construção de um novo prédio para combate a incêndios. Um finger, ponte de embarque que leva os passageiros diretamente para dentro das aeronaves, também está em fase de testes.
Opinião
Claudio Loetz, colunista de economia
Falta pouco para o ILS-1 ser homologado e entrar em operação no Aeroporto de Joinville. Quando isso se efetivar, vai aumentar a segurança do voo, facilitar pouso de aviões e elevar o número de passageiros que vão partir de Joinville para os atuais destinos. Mais ainda: comprovando-se demanda crescente, aumentará, gradativamente, o interesse das companhias aéreas em elevar a oferta de frequências de voos. Até mesmo se espera por viagens regulares e diárias para lugares hoje não atendidos.
É necessário lembrar que a região Norte de Santa Catarina – tendo Joinville como polo geoeconômico principal – representa 24% do produto interno bruto (riqueza gerada) em todo o Estado. Significa dizer que praticamente um quarto do resultado econômico estadual tem origem neste espaço geográfico.
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Este fator, aliado à concentração de aproximadamente um milhão de moradores no conjunto de dez municípios da microrregião, mais do que justifica o ILS-1. E tem de ser levado em conta pela Anac e Secretaria de Aviação Civil.
A luta política das lideranças joinvilenses para conseguir o equipamento está perto do fim. E, em breve, precisa ser festejado. Este momento de vitória coletiva virá logo.
Otimismo no ar
Minha luta pelo ILS em Joinville vem desde que eu era presidente da Acij. Finalmente, ele chegou e ele é de fundamental importância para nossa cidade, tanto no aspecto turístico quanto no econômico e comercial. É uma luta ganha.
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Udo Dohler, prefeito de Joinville
O próximo passo será estudar as adaptações para o modelo mais avançado do ILS, o ILS 2, que, se homologado, pode nos tornar o melhor aeroporto de Santa Catarina. Mario Cezar de Aguiar, presidente da Acij
Tenho amigos em cidades vizinhas, como Jaraguá do Sul, e eles gostam de embarcar em Joinville. Só não o fazem mais por causa da dependência climática, que deve ser reduzida com o ILS.
Carlos Grendene, presidente da CDL
As pessoas querem visitar nossa cidade, mas muitas delas desistem pela falta de oferta, além das incertezas do clima. Com a homologação, vamos ter aumento no número de voos, mais gente procurando o terminal.
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Rosi Dedekind, presidente da Ajorpeme
Com o ILS, deve ocorrer uma otimização do serviço (aéreo), que beneficiará até mesmo investidores de outros Estados que procuram nossa região em busca de novos empreendimentos. Ganha Joinville, ganha o Estado.
Vilmar Steil, presidente da Fecomac-SC