O Congresso reagiu de duas formas à homologação da delação premiada de Delcídio Amaral (sem partido-MS): os citados trataram de desqualificar os depoimentos do senador, enquanto a ala da oposição que ficou distante das revelações quer usá-las para acelerar o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

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Confira, na íntegra, a delação de Delcídio

Aliados do Palácio do Planalto temem que, mesmo com acusações contra caciques de PMDB e PSDB, a delação dissolva o que sobrou da base, fato preocupante na véspera do julgamento dos embargos do rito do impeachment no Supremo Tribunal Federal (STF).

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Paira o temor de que o clima contamine a comissão especial de deputados que dará o parecer sobre o afastamento de Dilma, que deve ser instalada — o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciou o ato para quinta-feira. Líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE) garantiu desejo de votar logo o tema.

— Sai a decisão (do STF), e o governo tem pressa de montar a comissão. As condições de temperatura e pressão estão altas. Os fatos têm impacto na manchete, mas logo se dissipam e as coisas entram na normalidade — disse.

O cenário desta terça-feira foi de preocupação para o governo. Foi difícil encontrar deputados e senadores, exceto os do PT e PC do B, dispostos a defender Dilma. Em conversas reservadas, parlamentares de legendas aliadas, como PDT, PSD, PTB e PMDB, admitem a dificuldade de seguir com o governo, diante das cobranças dos eleitores.

O Planalto sabe que a pressão na base pode virar votos que eram contrários ao impeachment. Assim, o governo monitora a situação e conta com o empenho de ministros para conter uma debandada. Já a oposição reforça seu discurso de “fim de governo”. No Senado, Cristovam Buarque (PPS-DF) defendeu a abertura imediata do processo de impeachment.

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— A cada semana que se adia a abertura desse processo, é uma semana a mais de angústia, de sofrimento, de descrédito, de desorganização social e política do país — avaliou.

Petistas e peemedebistas mencionados pelo delator deixaram o impeachment de lado e se concentraram em suas defesas. Eles insistiram na necessidade do ex-petista apresentar provas.

Entre escudeiros de Michel Temer, a estratégia foi rebater a versão de que o vice participou de indicações na Petrobras. Apontado como “menino de recados” do banqueiro André Esteves, Eduardo Cunha minimizou a menção ao seu nome. Situado no grupo que teria se beneficiado de propina na construção de Belo Monte, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), classificou como “delírios” as acusações de Delcídio.

— Acho que esses delírios que estão chamando de delações não confirmam nada, absolutamente nada, porque não têm nenhuma prova. Acho até que, quando não confirmada a delação, tem que agravar a pena. É um aprendizado que já poderemos ter nesse curto período de validade das delações — reagiu Renan.

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Com a afirmação de que Aécio Neves (PSDB-MG) teria recebido propina de Furnas, os tucanos optaram por centrar as críticas em Dilma, no ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e nas negociações para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assuma um ministério.

Os líderes da oposição — PSDB, DEM e PPS — e dissidentes da base vão à Procuradoria-Geral da República (PGR) entregar uma representação que pedirá a prisão de Mercadante, gravado em uma conversa com um assessor de Delcídio, na qual ofereceria auxílio e pressionaria para o parlamentar desistir da delação premiada.

— O mesmo argumento utilizado pela Justiça para prender o senador Delcídio deve ser usado para o caso do ministro Aloizio Mercadante. A matéria (da Veja) mostrou que Mercadante ofereceu benefícios para o senador Delcídio não demolir o governo com as informações de que tinha conhecimento. Defendo a isonomia de tratamento para ambos — afirmou Ronaldo Caiado (DEM-GO).

Entre senadores, a cassação de Delcídio é considerada irreversível. Randolfe Rodrigues (Rede-AP) promete um requerimento para que o delator preste depoimento no Conselho de Ética da Casa.

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— A presença de Delcídio Amaral no Conselho de Ética dará ao senador a oportunidade de esclarecer ao Brasil, pessoalmente, ao vivo, o conteúdo das graves acusações que faz em sua delação a figuras importantes do Palácio do Planalto e a membros destacados do próprio Congresso Nacional — justifica Randolfe.

*Zero Hora