No último domingo, 17 de maio, completou 30 anos que a Organização Mundial de Saúde (OMS) excluiu a homossexualidade do catálogo de doenças. A data ficou então marcada como o Dia Internacional da luta contra a LGBTQIfobia. Apesar das três décadas da causa, o movimento ainda sofre com o preconceito. No Brasil, a cada 26 horas morre uma vítima de homofobia, sendo um dos países que mais mata LGBTQI.

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Não é preciso ir longe para ver a realidade. Em Florianópolis, no último dia 5 de abril, o paulistano Márcio Flávio Guarnieri, 46 anos, que mora na Capital há 3 anos, sofreu com a homofobia. Foram quatro costelas quebradas, duas facadas, uma fratura no acetábulo e vários cortes e escoriações por todo corpo.

— Eu não lembro de tudo porque foi uma coisa muito rápida. Eu senti uma facada nas costas depois de terem me chamado de viado — relembra Márcio.

O crime aconteceu no Parque da Luz, no centro de Florianópolis, por volta das 9h30min. Márcio lembra também de ter sido jogado em um barranco com aproximadamente oito metros e de ter apanhado muito. Depois de um tempo desacordado, foi ajudado por um morador de rua que solicitou auxílio de outras pessoas para chamar o SAMU.

Ele ficou cinco dias internado, passou por cirurgias e segue em tratamento. Márcio, que trabalha com vendas e-commerce, está desde então impedido de trabalhar, já que precisou ficar vários dias sem caminhar e agora anda com ajuda de um andador. Tentou dar entrada no INSS do auxílio doença, mas até o momento não obteve confirmação do pedido, além disso, tem encontrado dificuldade de encontrar todos os medicamentos para seu tratamento.

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— Preciso abrir um processo na Defensoria Pública contra a Secretária de Saúde do Estado e Municipal de Florianópolis para receber o remédio Xarelto 10 mg por 180 dias. O valor médio dele é R$ 280 por mês — esclarece Márcio, que está com uma campanha virtual no site Kickcante para arrecadar fundos para cobrir o tratamento enquanto não consegue pelo Estado.

Homofobia é crime

Desde junho do ano passado, homofobia é considerada crime no país. A Suprema Corte decidiu que atos de homofobia e transfobia devem ter o mesmo tratamento penal que o racismo, com punição de até cinco anos de prisão, até que o Congresso legisle sobre o assunto. Embora isso já aponte um avanço do movimento, alguns conceitos da sociedade ainda impedem que pessoas que cometem esse tipo de atrocidade sejam devidamente penalizadas.

No caso de Márcio, a vergonha fez com que ele só registrasse o Boletim de Ocorrência 25 dias após o crime.

— Dói muito, não só o corpo, porque eu estou com o corpo completamente diferente do que eu tinha antes, mas dói a história toda — conta o administrador.

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A investigação do crime ainda não foi iniciada, pois Márcio ainda precisa realizar o exame de corpo de delito para dar continuidade. Neste período ele tem recebido apoio da ONG Acontece Arte e Política PLGBTI+, além de acompanhamento com uma fisioterapeuta voluntária e de médicos da rede pública de Florianópolis.

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