“Para complicar a situação do Brasil, onde coexistem duas normas ortográficas até 2015, o Senado debate uma nova reforma ortográfica propondo uma simplificação da língua portuguesa. Para tanto, a ideia seria excluir o “h” inicial de palavras como “homem”, abolir o “ch” e o “ç” e ainda substituir “x” e “s” por “z” nas palavras com esse som, entre outros.
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O fato, claro, gerou polêmica. Segundo os idealizadores do projeto, os principais objetivos para a simplificação são: a redução do número de horas despendidas com o ensino de mera ortografia; tornar o ensino mais fácil, rápido e prazeroso e ainda reduzir o analfabetismo.
A partir disso, sugerimos algumas reflexões. Em primeiro lugar, a valorização da língua portuguesa é ação que começa em casa e continua na escola. Se não houver isso, lacunas posteriores poderão ser incontornáveis. Em segundo lugar, há dificuldade em reconhecer que ortografia não é língua, mas sim uma parte do sistema linguístico que diz respeito apenas à escrita. E escrita e fala são faces distintas de uma mesma moeda, por isso não seria oportuno tentar aproximá-las. Em terceiro lugar, qualquer dificuldade de aprendizado tem a ver com deficiências do sistema educacional. Há muito tempo as autoridades voltaram as costas para o ensino e para o sujeito-professor. Também não consideramos válida a relação estabelecida entre o analfabetismo e a ortografia. O analfabetismo mais tem a ver com a má distribuição de renda no país do que com as regras ortográficas.
Acreditamos que o patamar cultural da sociedade se elevará no momento em que a dicotomia carnaval e futebol não for mais perpetuada pela mídia como definidora de nossa identidade ou quando modelos arcaicos de educação se tornarem obsoletos. Enquanto os estudantes não forem incentivados à leitura e às atividades que contemplem o pensamento lógico e a capacidade de relacionar, nenhum esforço será válido. Também não nos esqueçamos dos professores: eles carecem, principalmente, de remuneração adequada e melhoria nos cursos de formação. Só assim, com qualidade na educação, é que o ensino se tornaria mais eficiente e prazeroso, não com a redução de algumas regras ortográficas.“
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