O homem acusado de assassinar a ex-companheira Agatha Christie Mafra em setembro do ano passado, em Joinville, foi condenado, nesta terça-feira à noite, a 26 anos de reclusão em regime inicial fechado, sem direito de recorrer em liberdade. O julgamento ocorreu no Fórum da cidade. Rodrigo José Pereira de Lima, 32 anos, foi declarado culpado pelo crime de homicídio qualificado por motivo fútil e recurso que dificultou a defesa da vítima, além de ter sido praticado contra a mulher por razões da condição do sexo feminino.

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A sessão foi aberta com a o sorteio dos sete jurados – cinco homens e duas mulheres. Presidida pela juíza Karen Schubert Reimer, este foi o primeiro julgamento – após a alteração da lei – de um crime denunciado como feminicídio em Joinville.

— Antes (da nova lei) nós tínhamos este fato como uma agravante, quando existia uma relação familiar. Agora é uma situação diferente: é uma qualificadora que está prevista no Código Penal e prevê uma pena mais grave nestes casos – afirmou.

A única testemunha ouvida durante a sessão foi Angela Maria Lima, mãe do acusado. Ela foi interrogada inicialmente pelo advogado de defesa indicado pela Defensoria Pública, Vinicius Manuel Garcia, e depois pelo promotor de justiça responsável pelo caso, Ricardo Paladino.

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Durante o interrogatório, a mãe afirmou que o casal manteve um ¿um relacionamento conturbado, mas houve momentos felizes¿. Ainda em depoimento, ela expôs que Rodrigo era usuário de drogas, mas sempre trabalhou para sustentar a família.

A senhora afirmou nunca ter presenciado nenhuma agressão do réu contra a nora. Entretanto, relatou já ter sido chamada por Agatha para buscar os dois filhos do casal – de seis e oito anos – para não presenciarem a violência ocorrida dentro do lar da família.Emocionado, o pai de Agatha observou a maioria da sessão em silêncio.

O pescador Rogério Alfredo Mafra, 57 anos, mora em São Paulo e não acompanhou toda a trajetória do casal. Porém, mesmo sem a convivência diária, Rogerio afirmou que conhecia o genro e mantinha um bom relacionamento com a filha. A expectativa dele é que, acima de tudo, a morte da jovem possa servir de alerta para que outras mulheres não tenham o mesmo destino.

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— Não é só porque ela é minha filha, mas eu quero que a pena seja bem agressiva para ajudar a combater este tipo de agressão contra a mulher – apontou.

Após o depoimento da mãe, Rodrigo foi chamado para depor. O réu declarou que mantinha um relacionamento longo com a vítima e cheio de altos e baixos. Também afirmou que durante as brigas já havia agredido Agatha e que também sofreu agressões e ameaças da vítima.

De acordo com ele, a motivação das agressões e do feminicídio foi uma suposta traição da vítima. Ainda segundo Rodrigo, no dia do crime ele foi até o trabalho de Agatha por solicitação dela. Houve uma discussão no local porque ela pediu dinheiro emprestado. O acusado deixou o lugar contrariado porque, conforme ele, o valor seria usado para ¿cuidar da beleza dela¿.

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— Eu fiquei transtornado porque ela queria o dinheiro para se arrumar para o outro. Eu fiquei remoendo toda aquela situação e usando álcool e drogas durante toda a noite – declarou.

Quando estava quase nascendo o dia, Rodrigo foi atrás da ex-companheira após ela sair do trabalho. Ele a encontrou em uma rua próxima a casa onde moravam. Ali, ele teria discutido com a vítima mais uma vez.

— Com a cabeça a milhão e conturbada com tudo que tinha acontecido, foi um ato impensado da minha parte e acabei fazendo o disparo contra ela. A única coisa que eu peço é perdão à família, sei que isso não vai trazê-la de volta, sei que vocês sentem a falta dela e eu também sinto – completou.

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Relembre o caso

O crime ocorreu no dia 11 de setembro do ano passado, por volta das 5 horas. A jovem foi morta na rua Petrópolis, enquanto retornava do trabalho. Segundo a denúncia, Agatha foi abordada pelo denunciado que efetuou dois disparos de arma de fogo contra ela, e fugiu do local. Rodrigo foi detido nove dias depois do fato.

À época, ele foi conduzido à delegacia e afirmou ter matado Agatha porque ela teria o traído enquanto eles ainda mantinham um relacionamento. A mulher havia registrado uma série de boletins de ocorrência contra o ex-companheiro, afirmando que ele havia invadido a casa onde ela morava com os filhos e tentado agredi-la. Roupas, documentos e eletrodomésticos teriam sido queimados em uma das brigas recentes.