O caminhoneiro de Biguaçu, Ernesto José da Silva, acordou no sábado com cinco buracos nas pernas e um projétil de borracha alojado na pele, perto do tornozelo. Os tiros foram à queima-roupa, afirmam ele e sua mulher, que viu a ação da dupla de policiais militares que chegaram ao local onde mora o ferido por volta de 4h. O filho, de cinco anos, escutou tudo dentro do quarto.
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Os ferimentos não teriam acontecido se Ernesto não fosse ao bar no início da noite e se envolvesse em uma discussão com seu chefe, José Adelito Schappo. A desavença seria um caminhão, pertencente ao patrão e que se encontrava na casa do empregado.
– Para evitar confusão, voltei para a casa por volta da meia noite – conta Ernesto.
Duas horas depois, José e seu filho foram à casa de Ernesto onde a discussão aumentou e chegou a ter violência física. Depois do fato, o patrão teria chamado a polícia pois haveria uma tentativa de homicídio.
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Os dois militares bateram na porta da casa de Ernesto. A mulher dele atendeu e os policiais entraram na casa avisando que ele seria detido por tentativa de homicídio. Apenas de cueca, o homem disse que queria entender o que estava acontecendo, mas aceitaria ser levado pela polícia, se ao menos pudesse se vestir. A resposta dos policiais foi tentar empurrar o homem para fora de casa, mas este resistiu.
_ O policial colocou a arma na minha barriga, mas eu empurrei o cano para baixo _ diz Ernesto.
Foi aí que levou o primeiro tiro, com o cano encostado nele, como conta a mulher de Ernesto. A sala da casa do casal ficou cheia de sangue e um projétil cilíndrico, de borracha, indica o que aconteceu no local. Os dois policiais já o tinham ferido e ainda sim deram outros quatro tiros de borracha nas pernas. Um perto do tornozelo, e os outros todos nas partes internas das coxas, cada um da profundidade de uma tampa de refrigerante.
A sala da casa de Ernesto ficou com muito sangue no assoalho de madeira. Ele diz que vai falar com um advogado na justiça contra a polícia, pois considera a ação abusiva. Seu chefe, José, preferiu não dar entrevistas sobre o caso.
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A acusação contra Ernesto era de tentativa de homicídio com uma arma de fogo, que ele nega ter.
Depois dos tiros, a escolta
Ernesto foi levado pelos dois policiais à Unidade de Pronto Atendimento de Biguaçu. Depois ao Hospital Regional de São José, onde foi escoltado pelos dois militares até as 7h. Não foi levado a nenhuma delegacia.
Polícia explica ação
O comandante do 24º Batalhão, Newton Ramlow, diz que o delegado da Polícia Civil não quis instaurar flagrante de tentativa de homicídio, como acusa a PM. Por conta disso, a escolta deixou de ser feita. Na delegacia, ninguém foi encontrado que pudesse falar sobre o caso.
– Nós temos um problema sério em Biguaçu. Há cerca de 20 dias, em outro caso de tentativa de homicídio aconteceu a mesma coisa. Um policial nosso levou dez pontos na cabeça e precisamos de vários tiros de borracha e arma taser para conter a pessoa.
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Até o contato da reportagem, Newton não sabia do caso e disse que vai investigar, e, se for o caso, punir os policiais se for detectado abuso na operação. Na opinião dele, Ernesto deve ter feito algo errado e deve ter sido agressivo, para justificar os cinco tiros de borracha.
Sobre os tiros terem sido disparados à queima-roupa, o comandante explica que isso não existe. Os fabricantes de projéteis não-letais CBC e Condor colocam nos manuais que os disparos não podem ser feitos a menos de 20 metros, sob risco de morte ou lesões graves na pessoa atingida. Nenhum policial foi ferido, segundo informações do comandante.
Ernesto também acusa a polícia de ter invadido a casa sem um mandado. Newton diz que isso pode acontecer em situações de crime.
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