Parados e em silêncio. Em meio a prisões políticas e à proibição de atos de protesto na Praça Taksim e no Parque Gezi, em Istambul, essa foi a maneira encontrada pelos manifestantes turcos, inspirados por um ativista, para mostrar seu descontentamento em relação ao governo do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan.
Continua depois da publicidade
No início da segunda-feira, o artista e coreógrafo turco Erdem Gunduz atravessou a Praça Taskim e postou-se em frente ao Centro Cultural Mustafá Kemal Atatürk – de onde pende uma fotografia do fundador e primeiro presidente da Turquia. Gunduz parecia um visitante comum na praça, salvo por uma exceção: ele não se mexia. Sem causar distúrbio e mantendo-se inerte por oito horas, o coreógrafo tornou-se um ícone dos protestos no país.
O coreógrafo Erdem Gunduz, o primeiro “homem de pé” FOTO: MARCO LONGARI, AFP
Após a declaração do ministro do Interior, Muammer Guler, de que a polícia não interferiria em protestos que “não afetassem a ordem pública”, milhares de pessoas pararam na Turquia, em um ato que se tornou viral nas redes sociais.
No Twitter, a hashtag #duranadam (homem em pé, em turco) chegou ao topo dos trending topics mundiais. Um aplicativo para Android foi lançado para compartilhar fotografias do protesto alternativo. Gunduz e os que se juntaram a ele foram expulsos da praça com a chegada da polícia, que prendeu 10 manifestantes que se recusaram a deixar o local, mas o ato continuava até a noite de ontem, reunindo pequenos grupos na Turquia.
Continua depois da publicidade
– Estou me posicionando contra toda a violência dos eventos que estamos testemunhando nas útlimas duas ou três semanas – disse Koray Konuk, um dos acompanhantes de Gunduz em seu silencioso protesto, à rede americana CNN.
Governo quer restringir acesso às redes sociais
O manifesto ganha visibilidade no momento em que o governo turco analisa a possibilidade de restringir o uso de redes sociais no país. Segundo o jornal Hürriyet Daily News, o ministério da Justiça prepara um projeto com o objetivo de reprimir a organização de protestos pela internet. No início do movimento de contestação, Erdogan chegou a afirmar que o Twitter, rede social preferida dos ativistas, era um elemento “perturbador”.
O primeiro-ministro também promoveu uma ofensiva contra a imprensa, com a invasão da sede do jornal Aitlim e da agência de notícias Etkin, ligados ao Partido Socialista dos Oprimidos (ESP), que teve cerca de 90 integrantes detidos em suas casas, ontem.
Também ontem, Erdogan declarou a vitória do governo contra os manifestantes, que chamou de “traidores”, em um discurso aos deputados aliados.
Continua depois da publicidade
– O povo e o governo do Partido da Democracia e Justiça provocaram o fracasso desta intriga organizada por traidores e seus cúmplices no Exterior – anunciou.
A celebração de Erdogan se dá após a prisão pela polícia turca de centenas de pessoas ligadas ao movimento nos últimos dias. Só no domingo, aproximadamente 600 turcos foram levados a depor em Ancara e Istambul.