Um morador de Joinville buscou a delegacia para denunciar um caso de injúria racial que sofreu em um posto de gasolina na zona Sul da cidade. Rhuan Carlos Fernandes, 31 anos, afirma que abasteceu no Auto Posto Monsenhor no último sábado (21) e, na segunda-feira (23), recebeu ligações e mensagens de uma funcionária do local acusando-o de não ter pagado a conta.

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Rhuan conta que estava indo com a família para a praia e, antes, passou pelo posto por volta das 5h30min de sábado. Além de R$ 50 de gasolina, comprou também uma bolacha para o filho. O valor total da compra foi de R$ 54,50, conforme mostra o comprovante enviado por ele à reportagem do AN.

Rhuan guardou cupom fiscal após sair do posto (Foto: Rhuan Carlos Fernandes, Arquivo pessoal)

Dois dias depois, no entanto, por volta de 1h30min da madrugada de segunda, a esposa dele recebeu uma ligação. O casal não atendeu à chamada e, por volta das 5h30min, o telefone tocou novamente. Do outro lado da linha, uma das funcionárias do posto acusava-o de ter saído sem pagar a conta no sábado, que teria dado, segundo ela, R$ 188.

— A ligação foi constrangedora, racista e chegou a deixar todo mundo amedrontado. Porque, imagina, tu sair de um lugar com o cupom fiscal, porque pagou, e receber uma ligação às cinco e meia da manhã dizendo que tu não pagou — relatou ele.

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Rhuan é historiador e militante do Movimento Negro Maria Laura e compartilhou a situação nas redes sociais do grupo. Na segunda-feira, inclusive, completou de 31 anos. “Hoje é o meu aniversário e, de presente, recebi o racismo nosso de cada dia”, indignou-se.

Ele registrou um boletim de ocorrência por injúria racial, uma ofensa praticada contra uma pessoa em razão de sua raça, cor, etnia ou origem.

Polícia teria fornecido dados pessoais do cliente

Rhuan diz que o tom acusatório da funcionária do Auto Posto Monsenhor mudou somente após a esposa dele enviar, por meio do WhatsApp, o comprovante de pagamento da compra. No aplicativo de mensagem, comenta que foram trocadas conversas em texto e áudio e, quando questionou de onde ela teria conseguido o contato de sua esposa, a mulher teria alegado que foi com a polícia.

O historiador ainda afirma que exigiram que ele fosse ao estabelecimento prestar esclarecimentos e a mulher, que atua no caixa, teria dito que não adiantava o casal acionar a polícia, pois ela já teria feito isso.

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— Pegaram a placa [do carro], o nome da minha esposa e entraram e contato a partir de informações que pegaram através da polícia, dizendo que o posto tinha um acordo com a polícia. A polícia foi utilizada, neste caso, como segurança privada. Se utilizaram do poder público da polícia pra pegar os dados de telefone da minha companheira e me acusar de não pagar eles. A empresa tem um acordo com a polícia pra ter segurança privada, quando a polícia é paga com nossos impostos, principalmente impostos da classe trabalhadora — denuncia.

O A Notícia entrou em contato com as polícias Militar e Civil para saber se estavam por dentro do caso e para questionar se algum agente de alguma das corporações teria repassado informações do cliente. A PM preferiu não se manifestar sobre o caso no momento, enquanto a Polícia Civil não havia respondido o contato até a publicação da reportagem.

Rhuan diz que ele e a família foram vítimas de racismo institucional e que o posto, inclusive, teria se negado a fornecer imagens das câmeras de segurança.

— O interessante é que no posto, a hora que fui pagar, tinha mais pessoas, todas brancas, e eles só me acusaram por ser um homem negro. Esta pecha do homem negro bandido, ladrão… não é a primeira vez que passo por uma situação como essa. Fizemos o boletim de ocorrência e queremos os nossos direitos — pontua.

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O que diz o posto de gasolina

A reportagem ligou para o Auto Posto Monsenhor e, em contato com a proprietária, Dayana Bieser, ela relatou a mulher envolvida no caso atua no caixa durante a madrugada e, naquele sábado, deu falta de R$ 190, “um valor muito alto pra madrugada”, comentou. A funcionária teria dito à ela que sabia quem era o cliente que não pagou toda a conta e, por isso, poderia pagar o que estava faltando, mas não informou como teria conseguido o telefone da esposa de Rhuan.

Dayana ainda alegou que ficou sabendo do caso apenas ao meio-dia de segunda-feira, quando o cliente voltou ao local na companhia de advogados.

Mais tarde, a defesa do Auto Posto Monsenhor entrou em contato e, por nota, informou que buscou entender o ocorrido junto à equipe, pois nenhuma das ações, “supostamente praticadas” pela pessoa que contatou Rhuan condizem com a “conduta e os ideais, tanto da direção quanto de todo o quadro de colaboradores da empresa”.

O texto ainda diz que, após a conversa com os funcionários que trabalharam naquele turno, uma das operadoras de caixa apresentou a versão dela dos fatos, na qual admitiu ter se perdido durante sua atuação no caixa e admitiu estar ciente de que eventuais prejuízos ao posto por responsabilidade dela acarretariam em desconto do salário.

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“Por esse motivo, tentou por livre e espontânea vontade, através de recursos próprios, contatar o cliente que ela pensou ter cobrado a menos”, cita a nota.

A funcionária ainda alegou que não agiu com intenção racista e que decidiu contatar o cliente exclusivamente pelo fato de ser o único veículo abastecendo naquele determinado bico da bomba, o número 7, às 5h30min de sábado. Segundo o posto, as imagens das câmeras de segurança do estabelecimento podem confirmar que havia apenas um veículo abastecendo nesta bomba específica no horário citado.

Ao ser questionada sobre o conteúdo da conversa que ela teria tido com o cliente através do celular pessoal, a mulher alegou utilizar mensagens temporárias e não disponibilizou o conteúdo para que a gerência pudesse avaliar a conduta da funcionária.

“Diante do ocorrido, não sendo possível de fato constatar a forma como ocorreu o diálogo entre a operadora de caixa e o cliente, a direção entendeu que a melhor alternativa seria se reunir juntamente com ambas as partes envolvidas no episódio, a fim de sanar qualquer diligência. Providências legais necessárias serão devidamente tomadas após a elucidação dos fatos em conjunto por ambos os envolvidos”, diz a empresa, que acrescentou repudiar qualquer atitude, manifestação ou pensamento de cunho racista ou preconceituoso.

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