O homem filmado sendo transportado para o Hospital Regional do Oeste (HRO) na carroceria de um carro em Chapecó, recebeu alta na noite de domingo (28) após ficar seis dias internado. Altair Gonçalves Pereira, de 41 anos, se recupera em casa e lembra dos momentos difíceis que passou na unidade de saúde.

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— Se não fosse o oxigênio, eu não estava aqui para contar essa história. A sensação é muito pesada, eu vi muita perda, muita coisa pesada lá dentro [do hospital] — contou o cabeleireiro ao G1 SC.

As imagens que mostram o transporte improvisado foram feitas no dia 22 de fevereiro. Ao lado de Altair na carroceria estavam um cilindro de oxigênio e sua esposa Lúcia Vieira. A atitude de desespero foi tomada após uma piora na condição de saúde do cabeleireiro. Informado que precisaria ser internado, ele não conseguiu transporte para ser levado ao hospital.

Segundo a família, Altair não conseguia respirar sem o cilindro de oxigênio e foi colocado na carroceria do automóvel, pois o equipamento não cabia dentro do veículo. O item foi comprado pelos familiares, que desembolsaram cerca de R$ 750.

Durante a internação, Altair ficou em um leito de enfermaria junto a outros doentes com a Covid-19. Ele não precisou ser encaminhado para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Nos dias que passou na unidade, o cabeleireiro lembra ter visto pacientes morrendo e profissionais de saúde chorando.

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Na noite em que Altair deixou o hospital, 136 pessoas da região esperavam por um leito. No estado, a fila de espera chegou a 220 pessoas, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES), aos quais o G1 SC teve acesso.

Filho também foi infectado

Pai de três filhos, ele conta que o momento de maior medo foi quando descobriu que o filho de 16 anos também estava com Covid-19. Com dificuldade em receber notícias sobre o adolescente, cresceu a angústia. Vendo pacientes de diferentes idades e sem doenças pré-existentes chegando no hospital, a preocupação cresceu.

— Dá todo o tipo de sentimento lá dentro. Eu fiquei dois dias tentando ligar, o médico, as enfermeiras e não conseguia [falar com o filho]. Na minha ideia, para mim, meu filho estava muito doente — lembra Altair.

Já em casa, ele se recupera junto do filho, que não precisou ser internado. Altair diz não estar 100% ainda e segue fazendo exercícios de para melhor a capacidade do pulmão.

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— Eu sempre tive uma vontade extrema de viver, quem vive comigo sabe disso. O valor para a vida a gente sempre teve. Dessa doença, a gente sai com um trauma. Eu ainda não consigo falar 15% do que eu vi lá dentro, mas a gente vai se recuperando — afirma.

Até segunda-feira (1º) 24,6 mil pessoas foram diagnosticadas e 270 delas morreram por causa da Covid em Chapecó, desde o início da pandemia. Em todo estado foram 670 mil diagnosticados e 7,3 mil mortes.

*Com informações do G1 SC