A sala de jantar virou escritório. Enquanto faz uma reunião virtual com a equipe, o feijão cozinha na panela para ficar pronto no seu horário de almoço. Essa se tornou a realidade de 11% dos trabalhadores ativos no Brasil durante a pandemia de Covid-19 — cerca de 8,2 milhões de brasileiros —, conforme levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com dados do IBGE.  

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A adaptação precisou ser rápida pois era uma necessidade global, mas, com o passar do tempo, muitas empresas e trabalhadores perceberam que o home office trouxe mais produtividade e qualidade de vida, e decidiram adotá-lo de forma definitiva. 

Ao decidir por essa nova forma de trabalhar, entretanto, algumas questões estão envolvidas e precisam ser planejadas, como as leis trabalhistas e a saúde do trabalhador. 

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> Entenda quais são os direitos do trabalhador no home office

O home office foi tão bem recebido pela maioria dos funcionários da Unimed Grande Florianópolis que a empresa implementou uma nova cultura e instituiu o que já é uma tendência global: o anywhere office. Ou seja, o funcionário pode trabalhar de onde estiver, seja em outro estado ou até país. 

Atualmente, cerca de 400 colaboradores na área administrativa da empresa trabalham à distância. 

Conforme o CEO da Unimed Grande Florianópolis, Richard Oliveira, os funcionários mostraram uma adaptação melhor ao trabalho à distância, já que conseguem dar mais atenção à vida pessoal. 

Além disso, com o anywhere office é possível conectar com mais profissionais de outros lugares e consequentemente preencher a vaga com o candidato mais qualificado, sem depender da localização geográfica.  

— Todos os direitos trabalhistas e benefícios foram mantidos no home office, adicionando a esse novo modelo uma ajuda de custo mensal para os colaboradores que se encontram nessa modalidade. Além disso, inauguramos um coworking com os parâmetros necessários para conforto e ergonomia dos colaboradores, sendo uma alternativa para aqueles que querem deixar o home office um pouco de lado — explica o CEO. 

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Os direitos do trabalhador no home office

Modelo híbrido é opção entre as empresas 

O modelo híbrido foi a opção adotada pela Nidec Global Appliance, empresa de Compressores e Soluções em Refrigeração, que tem colaboradores distribuídos em 9 países, sendo mais de 5 mil no Brasil, nas cidades de Joinville e Itaiópolis. Desses, cerca de 1 mil empregados da área administrativa continuam trabalhando em home office. 

Conforme, Simone Sumiyoshi Oliveira, gerente sênior global de Recursos Humanos da Nidec Global Appliance, uma pesquisa interna com os líderes da empresa mostrou que os resultados entregues foram positivos durante esse período e grande parte dos colaboradores ficaram mais satisfeitos com a autonomia proporcionada pelo trabalho remoto.   

> Em casa e no escritório: pós-pandemia deve consolidar modelo híbrido de trabalho

O foco no colaborador também fez o modelo híbrido virar uma realidade na WK Sistemas, companhia de softwares de gestão empresarial localizada em Blumenau. A empresa que tem atualmente 178 colaboradores decidiu deixar a escolha de trabalhar presencial ou remoto para os próprios funcionários, mesmo no pós-pandemia.   

Quem prefere voltar ao escritório pode trabalhar com roupas confortáveis, de pantufas ou chinelos, e acompanhado do animal de estimação, como se estivesse em casa, conta a diretora administrativa da WK, Cláudia Rutzen. Quando o cenário for 100% seguro, a empresa vai voltar a promover encontros, comemorações e ações presenciais, para manter o contato entre todos os colaboradores.  

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Para Sheyla Oliveira, 40 anos, que trabalha há dez anos como Analista de Qualidade da WK Sistemas, o home office trouxe muitos benefícios. A profissional, que havia trabalhado a vida toda de forma presencial, se viu em algumas semanas perfeitamente adaptada ao trabalho remoto. 

Sheyla Oliveira, 40 anos, se adaptou muito bem ao home office
Sheyla Oliveira, 40 anos, se adaptou muito bem ao home office (Foto: Arquivo pessoal)

Moradora de Gaspar, cidade vizinha de Blumenau, ela conta que além de se sentir mais produtiva em casa, não precisa passar pelo estresse no trânsito. 

— Como a empresa deixou aberto para escolher, eu optei pelo home office, porque eu me adaptei muito bem. Me sinto mais focada, consigo fazer minhas análises com muito mais cautela. Outra coisa é que eu gastava um tempo considerável no trânsito, porque eu não moro em Blumenau. Eu já chegava estressada no trabalho. Hoje eu acordo, faço a minha rotina matinal e não preciso mais passar por aquele estresse no trânsito — conta. 

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Sheyla relata que planeja continuar trabalhando em home office no pós-pandemia, tanto que decidiu investir e montar um escritório para ela em casa:

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— Meu marido já trabalhava como autônomo, então ele já tinha um escritório montado. Como eu precisei de forma emergencial, quando começou a pandemia, eu acabei utilizando a estação de trabalho dele. 

— Quando a gente percebeu que a situação ia se prolongar, eu vi a necessidade de montar uma estação pra mim. Com base nos requisitos de ergonomia definidos pela empresa, comprei mesa, cadeira e fui montando o meu escritório — relata.

Como manter a saúde e a casa organizada no home office

Adaptação requer reforma da casa

A urgência do home office fez com que a maioria das pessoas adaptasse a sua casa para trabalhar, de forma provisória, como foi o caso de Taíse Dalazen, 34 anos, que hoje trabalha como Analista de Customer Experience em uma Startup. 

Ela passou um ano trabalhando na mesa da sala de forma temporária até que, depois que mudou de emprego, decidiu criar um ambiente de trabalho mais adequado. 

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— Antes da pandemia eu atuava em uma imobiliária como consultora de relacionamento com o público. Então em março todo mundo foi para home office imediatamente sem nenhum planejamento. Sempre tendo em mente que seria algo temporário. Meu marido também estava na mesma situação. E a gente se instalou na mesa da sala — conta.

Taíse passou um ano trabalhando na mesa da sala
Taíse passou um ano trabalhando na mesa da sala (Foto: Arquivo pessoal)

— Moramos num apartamento pequeno, é sala e cozinha tudo junto, então ficou tudo uma bagunça. Depois de mais um ano de pandemia, a gente pensou: ‘está na hora de se organizar melhor’ — relata. 

Taíse fez uma reforma no quarto que antes era usado como atelier de costura e uma “cervejaria”, onde o marido produzia cervejas artesanais. Para ela, o investimento foi necessário, já que eles não conseguiam mais definir o que era área de trabalho e o que era espaço de relaxar. 

— Mesmo a empresa se disponibilizando a emprestar cadeiras, decidimos investir nas nossas. Também comprei um monitor maior, acessórios tecnológicos, luminária, persiana, e algumas plantinhas pra deixar o ambiente mais agradável. Agora, depois que fechamos a porta na sexta-feira, desligamos do trabalho — relata. 

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Veja o antes e depois do quarto

Quarto era usada como atelier de costura e
Quarto era usada como atelier de costura e “cervejaria” – (Foto: Arquivo pessoal)
Agora o quarto virou ambiente de trabalho
Agora o quarto virou ambiente de trabalho – (Foto: Tiago Ghizoni/Diário Catarinense)
Agora o quarto virou ambiente de trabalho
Agora o quarto virou ambiente de trabalho – (Foto: Tiago Ghizoni/Diário Catarinense)

Muitas pessoas se viram na mesma situação de Sheyla e Taíse e decidiram investir em uma reforma na casa para tornar o ambiente de trabalho mais adequado e agradável, o que beneficiou diretamente a indústria de móveis. 

Conforme o presidente do Sindicato da Indústria do Mobiliário da Grande Florianópolis (SIM), Júlio César Ferreira, houve um aumento de cerca de 30% nas vendas durante a pandemia. 

Anabela Becker, sócia da A4 Movelaria, que atende clientes da região de Balneário Camboriú, conta que depois dos primeiros três meses de instabilidade, a partir de maio de 2020, começou a ter um grande aumento na demanda.  

— Muitos clientes pediram adaptações do quarto de hóspedes para transformar em home office, ou a inclusão de uma área para crianças separado da sala para poderem trabalhar em home office com mais conforto e profissionalismo — conta.

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Apesar de muitos profissionais terem se adaptado bem, o trabalho remoto não é para todos. Para algumas pessoas, principalmente aquelas que não conseguem organizar um ambiente ideal para trabalhar em casa e tem filhos pequenos, o home office foi uma verdadeira dor de cabeça. 

Com isso, o trabalho híbrido tem se tornado uma opção cada vez mais interessante para empresas e empregados, garantindo que todos saiam satisfeitos.