Os processos seletivos, as habilidades exigidas, o ambiente onde os colaboradores atuam: diversos aspectos do mercado de trabalho foram alterados com a pandemia do novo coronavírus. No início, empresas e colaboradores se assustaram com as inúmeras demissões por conta da quarentena que obrigou o fechamento de serviços para conter a disseminação da Covid-19. Aqueles que não perderam seus empregos precisaram adaptar-se a uma realidade de trabalho muito diferente da habitual. Outros se viram em um cenário completamente novo de busca por oportunidades. 

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Nesse contexto, a tecnologia foi e continua sendo uma importante aliada. Antes era difícil imaginar que tantas profissões poderiam ser exercidas de forma remota, ou ainda que seria possível começar a trabalhar em uma nova empresa sem mesmo conhecer sua sede ou aqueles que trabalhariam com você. Esse é um dos desafios que os brasileiros continuam enfrentando neste ano, e que nos fez conhecer muito melhor o termo “home office”.

O caso de Juliano Vital, por exemplo, mostra como esse regime vem ocorrendo no país. Ele mora em Minas Gerais e recentemente foi contrato pela Asaas, uma empresa com sede em Joinville, para trabalhar como gerente de contas. Ele afirma que todo o processo foi on-line, desde a seleção até a contratação, e enxergou nesse sistema uma grande vantagem.

— Para mim, essa experiência foi ótima. Quando estamos desempregados, manter o custo de deslocamento até a empresa nem sempre é viável. Muitas das vezes vamos até lá, gastamos um dinheiro essencial que não podemos desperdiçar, e não temos nem o retorno do processo seletivo que fizemos. Hoje, fazer tudo de forma on-line é uma maneira de favorecer o candidato no momento em que o mesmo se encontra sem remuneração. Outro ponto positivo é que com a seleção toda a distância, abre-se também leque de oportunidades a nível nacional – destaca.

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Home office traz benefícios e desafios

Renato Navas trabalha como head de people science da startup Pulses e destaca que as situações pelas quais as empresas estão passando nesse período são importantes pois estimulam as adaptações às necessidades do mercado e a busca por inovação. Porém, ele destaca que cada um deve avaliar se o modelo totalmente à distância faz sentido para a realidade em que se encontra.

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— Foi observado por muitas empresas o aumento da produtividade e engajamento das equipes no home office, muito por conta da flexibilidade de horários que o trabalho remoto permite. Mas esse regime traz também desafios, como manter a efetividade do aprendizado organizacional, já que nem todos os treinamentos on-line são efetivos para todos os tipos de perfil.

Contratada pela Kyte, outra startup catarinense, durante a pandemia, já em isolamento e morando em outro Estado, Gabriella Senra confessa que se acostumou facilmente ao modelo de trabalho, à nova função e aos colegas de equipe.

— Hoje em dia temos muitas ferramentas para nos conectar e comunicar, e sinceramente não senti muita diferença. Claro que será muito legal conhecer pessoalmente a equipe, porém já me sinto muito próxima de todos. Estamos constantemente nos comunicando durante o trabalho, então a experiência é muito parecida com a presencial. E eu estou adorando trabalhar home office, me dá muita qualidade de vida e mais desempenho na minha função.

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O uso da tecnologia no ambiente profissional em diversas áreas é uma realidade, mas Juliano destaca um ponto importante que também pode ter impacto em nossas vidas: a diminuição da sociabilidade.

— É uma experiência muito nova não ter o contato com as pessoas que passamos boa parte dos nossos dias “juntos”. Hoje eu conheço todos apenas pela tela do computador [risos]. Não vejo como algo negativo, mas diferente. Com o avanço da tecnologia acho que a tendência é que as pessoas fiquem cada vez mais reclusas.

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Muito além do home office, esse período trouxe também uma nova visão para todos os setores na hora de contratação. Para as empresas, novas características dos candidatos passaram a ser observadas, enquanto para os concorrentes à vaga o fato de estar em um ambiente pessoal pode fazer toda a diferença.

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— Eu fiquei muito confortável com o meu processo seletivo. Estava dentro de casa: de short, chinelo e camisa. O nervosismo para mim foi bem menor, pois, estar fazendo uma entrevista do seu lar traz uma sensação de ter mais segurança, sabe? É a sua casa e você se sente mais acolhido – revela Juliano.

Inovação e resiliência são valorizadas na contratação

Entre os atributos buscados por muitos recrutadores estarão, a partir desse momento, a inovação, desenvoltura e resiliência para buscar novas formas de se trabalhar e enfrentar desafios imprevistos usando recursos existentes, explica Renato. O autocontrole para saber lidar com mudanças e instabilidades, saber se planejar e organizar bem, e a facilidade na utilização e aprendizagem de recursos tecnológicos certamente também serão soft skills ainda mais valorizadas.

“Soft skills” é um outro termo trazido do inglês que ganhou ainda mais importância no mercado de trabalho neste ano e são um exemplo de como a pandemia pode ter impactado esse processo de seleção de novos colaboradores.

— As soft skills dizem respeito às habilidades que envolvem relação e interação com os outros, bem como consigo mesmo. Ou seja, estão relacionadas com o comportamento humano, indo além da formação profissional e habilidades técnicas das pessoas. Por isso, essas habilidades ganharam destaque neste ano, pois todos tiveram que se adaptar e desenvolver, aprimorar ainda mais competências como flexibilidade, comunicação, colaboração, resiliência e criatividade, por exemplo – explica Renato.

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Em um ano tão incomum em diferentes áreas das nossas vidas, 2020 deixa lições importantes que irão repercutir no mercado de trabalho e trazer uma nova realidade a ser aproveitada tanto por empresas, quanto por quem busca uma vaga.

— A lição que eu tiro para mim durante toda essa experiência é que não importa o contexto que você esteja, uma oportunidade sempre pode surgir. E talvez um momento que não seja bom para o outro, pode ser o melhor da sua vida. Veja, eu estava há quase um ano procurando uma oportunidade, e no pior cenário econômico, social e político, eu consegui um trabalho a mais de 700 km de distância – diz Juliano.

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— Acredito que a pandemia, se assim estivermos dispostos a olhar, está sendo uma grande oportunidade de ressignificar crenças limitantes sobre encontrar possibilidades. A frase “não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez”, de Jean Cocteau, nunca foi tão verdadeira – conclui Renato.