Com uma rica tradição oral e histórias que são passadas de geração em geração, a capital catarinense está envolta em muitas lendas e é repleta de personagens que fazem parte da cultura local. A influência açoriana, em contato com tradições indígenas e de outros povos que passaram pela ilha, resultou em uma mitologia própria, com histórias fantásticas que tem como cenário as paisagens da cidade.
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Muitas dessas lendas estão reunidas em livros, organizados por figuras que também se tornaram lendárias na cidade, como Franklin Cascaes, folclorista e pesquisador de cultura açoriana, e o historiador Gelci Coelho, mais conhecido como Peninha. Outros nomes também se destacam, como os artistas visuais Hassis, Ernesto Meyer Filho, Vera Sabino, Jandira Lorenz, Max Moura, Janga, entre outros, que abordam o mito e a magia de Florianópolis em suas obras.
Para Bebel Orofino, que também contribui para a manutenção das tradições e do folclore da ilha por meio de livros, pesquisas e da organização do Baile Místico, a cidade vive um momento de retomada e de valorização da cultura popular. Segundo ela, trabalhar com as narrativas folclóricas da cidade não é apenas importante, mas urgente:
— Diferentemente do patrimônio cultural material, que é palpável – um casario, uma igreja, uma fortaleza –, a palavra não é assim. A palavra se perde se ela não for registrada. E isso é cada vez mais importante, porque essas histórias são um traço muito singular, muito nosso, que nos diferencia e que quem nos visita gosta de conhecer. A magia da ilha é essa poesia, essa beleza da paisagem vinculada a esse imaginário luso-medieval que veio com os colonizadores açorianos, que se mesclou aqui com as culturas africanas e indígenas, e que resultou nesse repertório de histórias muito mágicas, ricas e interessantes.
Conheça algumas das principais lendas de Florianópolis
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As bruxas de Itaguaçu
Reza a lenda que, antes da chegada dos colonizadores, a ilha que hoje é Florianópolis já era habitada por bruxas, que viviam em locais isolados e de difícil acesso – hoje, a região da Costa da Lagoa. Brincalhonas e divertidas, as bruxas faziam travessuras: davam nós nas crinas de cavalos e voavam com eles à noite, roubavam barcos de pescadores e levavam para outros cantos da ilha…
Uma das histórias mais famosas, imortalizada por Peninha, é a do salão de festas das bruxas: na praia de Itaguaçu, elas deram uma festa e convidaram todos, menos o diabo, que fedia a enxofre. Com a presença dos convidados – lobisomens, boitatá, vampiros, caiporas e muitos outros –, a festa acontecia; até que chegou o diabo, irritado por não ter sido chamado. Diz a lenda que ele transformou todas elas em pedras, que até hoje flutuam nas águas de Itaguaçu.
A história de amor de Peri e Conceição
Dois nomes conhecidos de quem mora ou visita Florianópolis, Peri e Conceição são as duas grandes lagoas da cidade, que receberam esses nomes por conta de um amor proibido. Indígena, filho de cacique, Peri se apaixonou por Conceição, uma bruxa da ilha. Em segredo, transgredindo uma proibição da aldeia e das bruxas, os dois se encontraram. Quando as bruxas descobriram, lançaram uma maldição que transformou Peri em uma lagoa de água doce. Ao perder seu amor, Conceição chorou tanto que suas lágrimas criaram a Lagoa que leva seu nome, feita de água salgada.
O lobisomem de Ratones
Presente no folclore brasileiro, a figura do lobisomem é conhecida: segundo a lenda, o homem que se transforma nesse monstro pode ser o primeiro ou o sétimo filho de um casal. Na história que se conta em Florianópolis, o lobisomem de Ratones foi amaldiçoado pelas bruxas que habitavam a cidade e, em todas as noites de lua cheia, atacava moradores da região Norte da ilha.
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A luz da Bota
Também com o Norte da ilha como cenário, essa é a história de uma luz misteriosa que aparece na Ponta da Bota, que fica entre a Praia da Lagoinha e a Praia Brava. O ponto brilhante e avermelhado aparece para pescadores que navegam na região e acredita-se que seria o espírito de um antigo pescador que se afogou, e que agora vaga pela região. Conta-se também que, após ver essa luz, um antigo faroleiro desapareceu.
Os fantasmas de Anhatomirim
Nesta lenda que se mistura com a história da cidade, os fantasmas de Anhatomirim perambulam pela ilha, que serviu como um presídio durante a Revolução Federalista, em 1894. Segundo as histórias, à noite, é possível ouvir os gritos dos fantasmas das pessoas que morreram fuziladas em um ataque comandado pelo coronel Antônio Moreira César, sob ordens de Floriano Peixoto. Anhatomirim, em tupi, significa “pequena ilha do diabo”.